Homossexuais moçambicanos querem fim da discriminação
15 de novembro de 2011 "Temos que nos proteger. Nós passamos mal, tanto na rua quanto no setor do trabalho". A frase de Alex descreve o que muitos homossexuais sofrem em Moçambique.
Alex foi entrevistado pela Deutsche Welle na LAMBDA, a Associação Moçambicana de Defesa das Minorias Sexuais, em Maputo. Segundo Alex, existem algumas figuras bastante conhecidas em Moçambique que são homossexuais, mas que nunca se revelaram como tais por causa da discriminação: "Depois de passar e encontrar um grupo, começam a lançar piadas para nós, começam a rir", afirma.
"Então, chega um momento em que eu, sozinho – isso fica no meu coração. Chega a um ponto em que, a algumas [destas pessoas], eu bato a réplica (sic), porque não é tudo que eu tenho que aceitar quando riem-se de mim. Eu tinha que mudar de rua, gozavam, atiravam pedras, muitas coisas assim", descreveu.
Quando os homossexuais andam pelas ruas, são vaiados porque muitos moçambicanos parecem não achar normal um homem assumir-se como "mulher", ser alguém "enfraquecido". "Liloca" conta, com mágoa, o que aconteceu na sua família: "Do meu lado, é um bocadinho difícil da parte da minha mãe, porque não foi ela que me criou desde criança. Já a família do meu pai aceita e sabe muito bem que sou assim. Ele insiste para que eu mostre onde eu vivo. Para a minha mãe, é difícil, porque ela acha que nasci homem", disse à DW.
Ignorar provocações
Em situações como estas, diz Ingrácio – outro membro da associação – as "manas", como são conhecidos os homossexuais em Moçambique, deveriam ignorar as provocações, já que em todo o mundo existem homossexuais: "Para mim, se as pessoas riem ou não riem, falam ou não falam... já estou habituado".
Já Alex pede que a sociedade moçambicana veja os homossexuais como pessoas normais. Diz que devem ser respeitados, tanto como outros grupos sociais: "As pessoas riem-se de nós. Queria dizer: que todos sejamos felizes e que cada um viva a sua vida em paz e à vontade".
Apela Liloca: "Entre nós, tem que haver amor, união – para que, mesmo que a sociedade queira falar 'estes são isso ou aquilo' – mas que digam: 'entre eles, se entendem'".
Não se sabe ao certo quantos homossexuais existem em Moçambique, pois muitos não dão a cara por medo de serem discriminados.
"Tradição e consciência social"
Para o chefe de Estado Armando Guebuza, a questão da homossexualidade em Moçambique deve resultar da situação no país e ter em conta a cultura e as tradições, assim como um debate da consciência social que os moçambicanos tenham sobre o fenômeno. A declaração foi feita durante a Cimeira dos chefes de Estado e de Governo da Commonwealth, na Austrália, no final de outubro. Segundo Guebuza, seria de todo conveniente um debate global para aferir as mais variadas sensibilidades, sempre tendo em conta como os moçambicanos encaram esta situação.
Autor: Romeu da Silva (Maputo)
Edição: Renate Krieger / António Rocha