Pronunciamentos do candidato Daniel Chapo, que disse num comício que a educação e a saúde pertencem à FRELIMO, geram indignação. "Partidarização do Estado é algo a ser erradicado" em Moçambique, critica sociedade civil.
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O candidato presidencial da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Daniel Chapo, disse num comício de campanha eleitoral no Niassa, norte de Moçambique, que os setores da educação e saúde e os fármacos em diversas unidades sanitárias pertencem à FRELIMO.
"O hospital é da FRELIMO, quando fica doente vai ao hospital da FRELIMO, os medicamentos são da FRELIMO, quando cura diz que a FRELIMO não fez nada", disse o candidato da FRELIMO .
Estes pronunciamentos foram alvo de duras críticas nas redes sociais que os qualificaram como "infelizes".
O jurista e criminalista José Capussura classifica estes pronunciamentos como "os mais infelizes" de todos os que Chapo fez durante a campanha. "Estamos num período o qual tentamos lutar para que haja uma separação nítida entre o partido e as instituições do Estado. Ao fazer este pronunciamento está a revelar que não há separação nenhuma."
FRELIMO promete paz e crescimento na abertura da campanha
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O jurista critica Daniel Chapo sobretudo por ser uma pessoa que entende "muito bem" de matérias de direito. "E é exatamente neste sentido que deve ter uma interpretação mais avisada sobre a separação entre o partido e o Estado porque esta é uma grande luta que os moçambicanos estão apostados a fazer e o candidato do partido FRELIMO, por se tratar especificamente de um jurista e ter um sentido avisado em matérias jurídicas, não pode cometer estas gafes", salienta Capassura.
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Despartidarizar o Estado
As instituições do Estado, sobretudo as escolas, têm-se queixado da presença do partido no poder para manipular profissionais da área para defender interesses da FRELIMO. É por isso que o presidente da Associação dos Professores Unidos, Avatar Cuamba, não entende porque o candidato Chapo confunde Estado e partido.
"Devemos protestar contra este tipo de Estado porque está a minar o nosso país. A partidarização do Estado é algo a ser erradicado no nosso país. Estamos a fechar cinco décadas de governação e parece que ainda estamos nos primeiros anos", critica.
Avatar Cuamba diz que Daniel Chapo tem de desconstruir a ideia de que as instituições do Estado nacionalizadas pouco depois da independência, em 1975, pertencem à FRELIMO.
"Há que referir as escolas que foram nacionalizadas e que foram construídas pelo governo nesses quase 50 anos e considerá-las como parte deste partido, então estamos a passar por um grande problema dado que não há condição e o candidato não consegue fazer a distinção do que é propriedade dos moçambicanos e do que é do partido em alusão", destaca.
O presidente da APU considera que a partidarização do Estado é visível nas escolas. Diz que alguns gestores escolares e seus adjuntos abandonam o seu compromisso com o Estado para atender questões partidárias, "dado que a sua ausência se consubstancia com o não-alinhado e estão a criar pressão aos seus subordinados porque esse problema não está apenas nos chefes."
Candidatos presidenciais querem transformar Moçambique, mas como?
Todos os candidatos presidenciais, e os principais partidos em Moçambique, prometem mudanças depois das eleições gerais de 9 de outubro: menos corrupção e melhores condições de vida. Mas a via para lá chegar difere.
Foto: Alfredo Zuniga/AFP/Getty Images
Daniel Chapo, da FRELIMO, quer mudanças
Daniel Chapo promete mudanças se for eleito Presidente da República. O partido que o apoia, a FRELIMO, está no poder desde 1975, mas Chapo diz que quer fazer "coisas novas" em Moçambique. O ex-governador da província de Inhambane, de 47 anos, considera que a paz no país é uma prioridade: "Sou o candidato mais jovem e mais experiente, por isso, não podemos brincar no dia 9 de outubro", disse.
Foto: Marcelino Mueia/DW
FRELIMO quer novas leis para combater a corrupção
A FRELIMO aposta na mudança na continuidade e define o combate ao branqueamento de capitais e corrupção como prioridades. O partido propõe reformas legais, incluindo "a aprovação de uma Lei de Repatriamento de Capitais, bem como a Declaração de Bens de Proveniência ilícita, dentro de um determinado prazo". A FRELIMO quer um país "livre da dependência externa, com uma economia a crescer".
Foto: DW
Ossufo Momade, da RENAMO, promete revisão constitucional
Ossufo Momade, o candidato presidencial do maior partido da oposição, a RENAMO, diz que, se for eleito, vai "criar condições para rever a Constituição" e criar três capitais: "A capital política será Maputo, a capital parlamentar será Beira e a capital económica, Nampula". O opositor, de 63 anos, promete reforçar a força logística do Exército para combater o terrorismo em Cabo Delgado.
Foto: Marcelino Mueia/DW
RENAMO quer colocar o cidadão no centro da governação
A RENAMO nunca governou Moçambique, mas define uma missão clara no seu manifesto eleitoral: defender a liberdade e o Estado de Direito democrático, colocando o cidadão no centro da governação. O partido promete combater a corrupção e criar emprego, sobretudo para jovens e mulheres, aumentando a transparência e dando incentivos fiscais "seletivos" a quem crie postos de trabalho.
Foto: Bernardo Jequete/DW
Lutero Simango, do MDM, promete devolver dignidade ao povo
Lutero Simango, o candidato presidencial do MDM, será o primeiro nome no boletim de voto. O político, de 64 anos, promete resolver os problemas básicos dos cidadãos, melhorando as condições de vida: "Assumo o compromisso de que, se me elegerem, vou devolver a dignidade aos moçambicanos", afirmou. Simango também já disse que vai falar com "o diabo" para combater o terrorismo no país.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
MDM propões várias reformas
O MDM, a terceira maior força política em Moçambique, promete realizar várias reformas, se for eleito: Reforma das instituições, despartidarizando o Estado e redefinindo as competências das autarquias; Reforma na Educação, criando uma rede escolar equilibrada que priorize as zonas rurais e que torne o país competitivo; Reforma na Saúde, valorizando a medicina estatal, privada e tradicional.
Foto: Alfredo Zuninga/AFP/Getty Images
Candidato independente, Venâncio Mondlane, quer o povo no poder
Venâncio Mondlane, de 50 anos, começou a carreira política no MDM e passou também pela RENAMO. Agora, como independente, promete que, se for eleito Presidente da República, "o poder vai pertencer ao povo e não a um partido". Mondlane diz ainda que o país não precisa mais de se endividar: "Vamos criar condições para, com os nossos recursos naturais, fazermos muito melhor do que se tem feito".