Tempestade: Hospital da Beira alerta para risco de doenças
Lusa
30 de dezembro de 2020
O porta-voz do Hospital Central da Beira, na província de Sofala, alertou hoje para o risco de casos de doenças diarreicas na cidade devido ao mau tempo provocado pela passagem da tempestade tropical "Chalane".
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"Nós já sabemos como é o nosso lençol [freático] quando chove e, por isso, precisamos de ter muito cuidado com a água e os produtos que consumimos para evitar as doenças diarreicas", disse à comunicação social o porta-voz do Hospital Central da Beira, Ricardo Molinho.
A tempestade, apelidada de "Chalane" e que afetou também Madagáscar, atingiu a cidade da Beira cerca das 02:00, com ventos entre 90 e 100 quilómetros e a chuva, que continua a cair, foi intensa durante as primeiras horas.
O porta-voz do Hospital Central da Beira disse que a unidade não registou qualquer óbito ou ferido em consequência da tempestade até agora, mas alerta para a necessidade de as populações continuarem atentas, tendo em conta que a tempestade não passou.
"Acabamos de saber que virá uma nova vaga (de ventos e chuva) que vai ser pior que esta, então temos de estar atentos", declarou.
Impacto não foi profundo
As avaliações preliminares do Centro Nacional Operativo de Emergência indicavam que o impacto não foi profundo, sem registo de mortes até as primeiras horas do dia, e com algumas infraestruturas destruídas.
Beira prepara-se para a época chuvosa
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"Em contactos com os distritos alguns reportam que ainda se fazem sentir os ventos e parte da população está nos centros de acolhimento temporário que tínhamos previamente identificado. Temos centenas de pessoas abrigadas nesses locais, contudo até ao momento não foi reportado nenhum dano, nem ferimentos e nem perdas de vidas humanas", disse António Beleza, diretor adjunto do Centro Nacional Operativo de Emergência.
Além da província de Sofala, a tempestade tropical está a atingir parte das províncias da Zambézia e Manica, locais onde as autoridades estão a sensibilizar as populações para que se mantenham em locais seguros.
A cidade da Beira, uma das principais do país, foi severamente afetada pelo ciclone Idai, que se abateu sobre o centro do país em março de 2019, provocando 604 óbitos e um 1,8 milhão de afetados.
O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) em Sofala prevê que, no pior cenário, a tempestade tropical afete cerca de 71.070 pessoas, das quais 23.230 na cidade da Beira.
Entre os meses de outubro e abril, Moçambique é ciclicamente atingido por ventos ciclónicos oriundos do Índico e por cheias com origem nas bacias hidrográficas da África Austral, além de secas que afetam quase sempre alguns pontos do sul do país.
No interior do hospital de campanha de Macurungo na Beira
As estruturas do centro de saúde que é referência no atendimento de cerca de 35 mil pessoas na região foram severamente danificadas com a passagem do ciclone Idai. Hospital de campanha já atendeu dois mil pacientes.
Foto: DW/F. Forner
A rotina
O hospital de campanha nos arredores do centro de saúde Macurungo, na Beira, está a funcionar desde 24 de março. "Montamos um centro médico avançado com uma tenda para cirurgia e consultas, além de mais duas tendas para avaliação pós-parto das mães", descreve a médica infectologista Telma Susana Vieira Azevedo, que liderou por dois meses a equipa da Cruz Vermelha em Macurungo.
Foto: DW/F. Forner
Um passeio pelas tendas em Macurungo
Um enfermeiro da equipa da Cruz Vermelha caminha pelas tendas de lona do hospital de campanha gerido em parceria com a ONG Médicos do Mundo. Já foram realizadas mais de duas mil consultas, além de uma média de sete partos diários. Este hospital é referência no atendimento de 35 mil pessoas na região, onde as condições habitacionais ficaram muito debilitadas após a passagem do ciclone Idai.
Foto: DW/F. Forner
No interior do hospital destruído
A noite de 14 de março na Beira foi marcada pelos fortes ventos que arrancaram telhas, chapas e coberturas das casas e edifícios públicos. O hospital de Macurungo sofreu sérios danos estruturais. Mesmo assim, algumas áreas do edifício continuam a ser utilizadas. “Nosso objetivo é conseguir reconstruir o centro de saúde e só depois deixar a Beira”, diz a médica Telma Susana Vieira Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
Balanço pós-Idai
Segundo dados do fundo de redução de desastres do Banco Mundial (GFDRR), Moçambique ocupa a terceira posição no ranking de países africanos mais expostos a múltiplos riscos associados às mudanças climáticas, como ciclones periódicos, secas, inundações e epidemias. Esta foto mostra o coração do hospital de campanha montado em um dos bairros que mais carecem de atenção à saúde.
Foto: DW/F. Forner
Os grandes desafios de Beira
Esta é uma foto aérea do hospital de campanha em Macurungo na Beira. Além da reestruturação de hospitais, as cidades afetadas pelo ciclone Idai também encaram os desafios de reconstrução de moradias, escolas e das infraestruturas urbanas. A ONU estima que o país necessite de pelo menos 200 milhões de dólares de ajuda internacional nestes três primeiros meses pós-ciclone.
Foto: DW/F. Forner
O estoque de medicamentos
Além de servirem como consultórios e locais de operação, algumas tendas do hospital de campanha foram construídas para armazenar equipamentos, medicamentos e demais suprimentos médicos. Nesta foto, o médico Luís Canelas opera um dos computadores que realiza exames de ultrassonografia. O hospital de campanha também realiza exames laboratoriais, como exames de sangue e testes de malária.
Foto: DW/F. Forner
Apoio à população
Em momento de descanso, o enfermeiro da Cruz Vermelha de Cabo Verde Mariano Delgado brinca com uma das pacientes no pátio externo. Estima-se que cerca de 400 mil crianças foram afetadas. "Precisamos fazer um trabalho mais ativo de equipas móveis para ir às populações deslocadas", diz Michel Le Pechoux, representante adjunto do UNICEF em Moçambique.
Foto: DW/F. Forner
Pulverização contra a malária
Homens uniformizados com luvas e protetores fazem a pulverização contra a malária em casas nas ruas de Búzi, a 150 km ao sul da Beira. Os casos de malária aumentaram e um mutirão tenta conter a proliferação do mosquito transmissor.
Foto: DW/F. Forner
Cadastro de pacientes
Esta é a tenda de triagem onde os pacientes são recebidos para a marcação de consultas. "Recebemos pacientes com doenças crónicas, hipertensão, doenças cardiovasculares e parasitárias, bem como pacientes que sofrem de desnutrição e portadores do VIH/SIDA", explica a infectologista da Cruz Vermelha portuguesa Telma Susana Vieira Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
À espera de consultas
As salas de espera no centro de saúde Macurungo ficam diariamente superlotadas com pacientes que sofrem das mais variadas doenças. O cólera está sob controle, mas os casos de malária estão a ser acima do habitual. "As chuvas fazem com que haja poças d’água que são óptimas para a proliferação dos mosquitos havendo mais vetores para transmitir a doença", diz a infectologista Telma Susana Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
Atendimento
Esta é uma das tendas do hospital de campanha Macurungo destinada às consultas médicas e atendimento aos pacientes. Nesta foto, o doutor Miguel e o enfermeiro de Cabo Verde Mariano Delgado dividem o espaço realizando atendimentos e curativos.
Foto: DW/F. Forner
Nos bastidores
Num momento de descanso após o almoço, estes três profissionais de saúde aproveitam a pausa no início da tarde antes de continuar com os atendimentos. Esta sala com macas também serve de refeitório e sala de reuniões. As equipas de médicos, enfermeiros e pessoal de apoio técnico trabalham diariamente sem cessar e se revezam a cada três semanas.