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Marcas da guerra prevalecem no Huambo

Manuel Luamba (Huambo)
10 de outubro de 2016

A cidade do Huambo, na província com o mesmo nome no sul de Angola, foi uma das mais assoladas pela Guerra Civil Angolana, entre 1975 e 2002. A oposição queixa-se que o desenvolvimento da região estagnou.

Foto: Gianluigi Guercia/AFPGetty Images

Para percorrer os 600 quilómetros que separam a cidade do Huambo da capital angolana, Luanda, é preciso ter tempo: 12 horas, aproximadamente. O mau estado das estradas contribui para a demora. Ao chegar, vê-se que o Huambo ainda está a renascer das cinzas deixadas pela guerra. 14 anos depois do conflito, muitos dos edifícios ainda apresentam as marcas dos projéteis.

Aqui, esse é um tema sensível. O povo do Huambo, acolhedor, prefere abordar outros assuntos, que ajudem a esquecer o que aconteceu.

Desde o fim da guerra, em 2002, e até 2008 foram feitos investimentos na construção de infraestruturas para devolver a beleza à cidade, reconhecem os políticos locais. Mas Liberty Chiyaca, secretário provincial da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), diz que o desenvolvimento económico e social da província está estagnado.

Chiyaca: "A província regrediu muito"Foto: DW/M. Luamba

"De 2008 para cá, a tendência é a redução do investimento", afirma. "O nível de investimento feito no período anterior não se consolidou. A província regrediu muito."

António Selembe, secretário do Partido de Renovação Social (PRS) no Huambo, comenta que "a província está sempre naquilo que foi, há muito tempo. Não vemos nada de novo."

A oposição considera que o novo governador, João Baptista Kussumua, tem vários desafios pela frente, incluindo combater o lixo que se amontoa na cidade, dialogar sobre o registo eleitoral e intervir em alegados casos de intolerância política.

Pobreza

Nas ruas e avenidas da cidade baixa ou alta do Huambo, o barulho das motorizadas rompe o silêncio característico da região. Elas são o principal meio de transporte dos habitantes, sobretudo daqueles que têm menos posses. Nas ruas, muitas crianças pedem dinheiro.

Há um grande défice de proteção social no Huambo, afirma Miguel Daniel, secretário provincial da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE). De resto, tal como acontece um pouco por todo o país: "A proteção social em Angola não está a obedecer aos acordos internacionais", diz Daniel.

Intolerância política

Aqui são também frequentes os relatos de alegados atos de intolerância política - em setembro de 2014, por exemplo, um militante da UNITA da localidade do Longonjo foi morto a tiro por supostos partidários do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder.

Segundo Liberty Chiyaca, da UNITA, os casos têm estado a diminuir: "Ainda existem alguns focos, mas melhorou consideravelmente." Mas "do ponto de vista da exclusão social e económica, infelizmente não melhorou quase nada. Os membros da UNITA continuam a ser excluídos", afirma.

Além disso, "ainda há bandeiras a serem retiradas dos comités" dos partidos, acrescenta António Selembe, do PRS.

11.10.16 Huambo: Marcas da Guerra - MP3-Mono

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Registo eleitoral

A província do Huambo é a quarta maior praça eleitoral do país, depois de Luanda, Huíla e Benguela.

À semelhança do que acontece na capital do país, a oposição local também se queixa de irregularidades no processo de atualização do registo eleitoral, em curso desde 25 de agosto.

Selembe conta que há dois municípios onde os fiscais do PRS ainda não foram credenciados – em Cinjenge e Longonjo. A UNITA queixa-se, por seu lado, da falta de comunicação por parte dos brigadistas do registo eleitoral - Liberty Chiyaca diz que, por vezes, os brigadistas determinam visitar um bairro e acabam por ir a outro, sem avisar os fiscais.

A CASA-CE também aponta irregularidades, mas o partido está mais preocupado com a falta de divulgação do registo eleitoral para o próximo escrutínio, previsto para 2017.

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