Huambo: Oposição desapontada com visita de João Lourenço
José Adalberto (Huambo)
30 de agosto de 2018
Oposição angolana lamenta que, nos dois dias da visita à província do Huambo, o Presidente João Lourenço não tenha tido tempo para se encontrar com os vários partidos.
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Os partidos da oposição angolana ficaram insatisfeitos por não constarem da agenda oficial do Presidente da República na sua visita de dois dias à província central do Huambo.
Daniel Almeida, secretário provincial da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), gostava que João Lourenço se tivesse encontrado com os opositores.
"O Presidente chegou e nós, como partidos políticos, não fomos convidados, pelo menos para o receber no aeroporto", afirma. "Vimos as autoridades tradicionais e religiosas, mas nós, os partidos políticos, não fomos tidos nem achados."
O secretário do Partido de Renovação Social (PRS) no Huambo, António Soliya, também lamenta o sucedido. Soliya culpa o Governo local por não estar interessado em mostrar ao Presidente angolano a realidade vivida pela população na província.
"Vimos que, à última hora, o Governo provincial ficou preocupado em pintar as principais ruas e edifícios desabitados", comenta. "Estamos tristes, porque um encontro como este [com a oposição], num governo participativo e inclusivo, seria testemunhado por todos."
Huambo: Oposição desapontada com visita de João Lourenço
Oposição espera melhorias
Durante a visita à província do Huambo, o Presidente angolano orientou, na terça-feira (28.08) a 8ª sessão do Conselho de Ministros, em que foram aprovados uma proposta de lei que regula o exercício da atividade religiosa e o Regime Jurídico de Proteção Social Obrigatória. Na quarta-feira, a província acolheu a segunda reunião do Conselho de Governação Local (CGL), onde foram discutidos assuntos relacionados com a gestão das províncias, nomeadamente a construção de estradas ou o processo de recrutamento de professores e médicos no país.
Antes do regressar à capital, o Presidente angolano, inaugurou a nova central térmica de Belém, a 11 quilómetros da cidade do Huambo, que deverá fornecer energia elétrica a cerca de 100 mil moradores das cidades do Huambo e de Caála.
Liberty Chiaka, secretário provincial da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), espera que a visita do Presidente da República se traduza em resultados económicos e sociais concretos na vida das populações, que enfrentam muitas dificuldades apesar do grande potencial da província.
"Nós gostaríamos que o Presidente constatasse esta dura realidade, para que se tomem medidas no sentido de dinamizar a execução das políticas públicas e, em particular, do orçamento geral da província", afirmou.
No entanto, Dainel Ameida, da CASA-CE, não acredita que a visita de João Lourenço traga melhorias: "O Presidente da República fez várias promessas na campanha eleitoral e até hoje não vimos nada!", conclui.
Pobreza no meio da riqueza no sul de Angola
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul do país. A região é assolada por uma seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser pobres neste ano. Muitos angolanos passam fome.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Sobras da guerra civil
A guerra civil (1976 -2002) grassou com particular violência no sul de Angola. Aqui, o Bloco do Leste socialista e o Ocidente da economia de mercado livre conduziram uma das suas guerras por procuração mais sangrentas em África. Ainda hoje se vêm com frequência destroços de tanques. A batalha de Cuito Cuanavale (novembro de 1987 a março de 1988) é considerada uma das maiores do continente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Feridas abertas
O movimento de libertação UNITA tinha o seu baluarte no sul do país, e contava com a assistência do exército da República da África do Sul através do Sudoeste Africano, que é hoje a Namíbia. Muitas aldeias da região foram destruídas. Mais de dez anos após o fim da guerra civil ainda há populares que habitam as ruínas na cidade de Quibala, no sul de Angola.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Subnutrição apesar do crescimento económico
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul. A região sofre de seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser más no ano 2013. Muitos angolanos não têm o suficiente para comer. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que nos últimos anos pelo menos um quarto da população passou fome durante algum tempo ou permanentemente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
O sustento em risco
Dado o longo período de seca, a subnutrição é particularmente acentuada nas províncias do sul de Angola, diz a FAO. As colheitas falham e a sobrevivência do gado está em risco. Uma média de trinta cabeças perece por dia, calcula António Didalelwa, governador da província de Cunene, a mais fortemente afetada. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também acha que a situação é crítica.
Foto: DW/A. Vieira
Semear esperança
A organização de assistência da Igreja Evangélica Alemã “Pão para o Mundo” lançou um apelo para donativos para Angola na sua ação de Advento 2013. Uma parte dos donativos deve ser reencaminhada para a organização parceira local Associação Cristã da Mocidade Regional do Kwanza Sul (ACM-KS). O objetivo é apoiar a agricultura em Pambangala na província de Kwanza Sul.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Rotação de culturas para assegurar mais receitas
Ernesto Cassinda (à esquerda na foto), da organização cristã de assistência ACM-KS, informa um agricultor num campo da comunidade de Pambangala, no sul de Angola sobre novos métodos de cultivo. A ACM-KS aposta sobretudo na rotação de culturas: para além das plantas alimentícias tradicionais como a mandioca e o milho deverão ser cultivados legumes para aumentar a produção e garantir mais receitas.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Receitas adicionais
Para além de uma melhora nas técnicas de cultivo, os agricultores da região também são encorajados a explorar novas fontes de rendimentos. A pequena agricultora Delfina Bento vendeu o excedente da sua colheita e investiu os lucros numa pequena padaria. O pão cozido no forno a lenha é vendido no mercado.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Escolas sem bancos
Formação de adultos na comunidade de Pambangala: geralmente os alunos têm que trazer as cadeiras de plástico de casa. Não é só em Kwanza Sul que as escolas carecem de equipamento. Enquanto isso, a elite de Angola vive no luxo. A revista norte-americana “Forbes” calcula o património da filha do Presidente, Isabel dos Santos, em mais de mil milhões de dólares. Ela é a mulher mais rica de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Investimentos em estádios de luxo
Enquanto em muitas escolas e centros de saúde falta equipamento básico, o Governo investiu mais de dez milhões de euros no estádio "Welvitschia Mirabilis", para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins 2013, na cidade de Namibe, no sul de Angola. Numa altura em que, segundo a organização católica de assistência “Caritas Angola” dois milhões de pessoas passaram fome no sul do país.
Foto: DW/A. Vieira
Novas estradas para o sul
Apesar dos destroços de tanques ainda visíveis, algo melhorou desde o fim da guerra civil em 2002: as estradas. O que dá a muitos agricultores a oportunidade de venderem os seus produtos noutras regiões. Durante a era colonial portuguesa, o sul de Angola era tido pelo “celeiro” do país e um dos maiores produtores de café de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Um futuro sem sombras da guerra civil
Em Angola, a papa de farinha de milho e mandioca, rica em fécula, chama-se “funje” e é a base da alimentação. As crianças preparam o funje peneirando o milho. Com a ação de donativos de 2013 para a ACM-KS, a “Pão para o Mundo” pretende assegurar que, de futuro, os angolanos no sul tenham sempre o suficiente para comer e não tenham que continuar a viver ensombrados pela guerra civil do passado.