Neste domingo (12.08.) realiza-se no Mali a segunda volta das presidenciais, que se tornou necessária, depois do Presidente cessante ter falhado a maioria absoluta na primeira volta, realizada há duas semanas.
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Na primeira volta, realizada a 29 de julho de 2018, o presidente cessante Ibrahim Bubacar Keita, conhecido por "IBK" fora declarado "claro vencedor" com 41,3% dos votos. IBK irá agora disputar uma segunda volta com o seguinte candidato mais votado, Soumaila Cissé, que obteve 17,8% dos votos, um número muito abaixo do que ele próprio previu.O Mali é um país instável, sobretudo fora da capital. Forças internacionais tentam manter a segurança, protegendo as cidades mais importantes dos dezenas de grupos jihadistas que insistem em controlar parte do imenso território. A comunidade internacional espera do vencedor das eleições do próximo domingo uma revitalização do acordo de paz assinado em 2015 pelo Governo e pelos rebeldes tuaregues, cuja aplicação acumula atrasos.
Mas, apesar deste acordo, a violência jihadista não só persistiu, mas também se espalhou do norte para o centro e sul do Mali, estendendo-se depois aos vizinhos Burkina Faso e Níger.
Mali escolhe presidente no domingo
IBK apresenta-se como candidato da estabilidade
O que o Mali mais precisa, nesta situação, é de estabilidade política. Só com estabilidade política se conseguirá melhorar a situação de segurança no país e na região. É essa a mensagem do presidente Ibrahim Bubacar Keita - IBK - que se apresenta como único garante da segurança no Mali. E é com essa mensagem que ele pretende ser reeleito neste domingo.
Palavras de IBK: "Temos que convencer todos, sobretudo aqueles que ainda duvidam, de que eu sou a melhor escolha para o Mali." Essa posição é partilhada por Mussa Timbiné, vice-presidente da Assembleia Nacional do Mali e apoiante de IBK, que - em entrevista à DW África - descreve o Presidente cessante da seguinte forma: "Todos no Mali conhecem IBK, até as crianças. IBK é um homem muito exigente e quem trabalha com ele tem que ser extremamente correto. Ele não gosta de pessoas mentirosas, nem de pessoas que não respeitam a propriedade dos outros, ele detesta a corrupção."
Soumaila Cissé promete "lufada de ar fresco"
Mas no Mali há também quem queira a substituição de IBK, preferindo o seu rival Soumaila Cissé. O candidato da oposição rejeitou repetidamente os resultados da primeira volta das eleições presidenciais e até chegou a deixar no ar a possibilidade de boicotar a segunda ronda marcada para este domingo, dia 12 de Agosto.
"Os resultados são manipulados e nós não vamos aceitar, esses resultados não espelham a vontade da malianas e dos malianos, são uma autêntica fraude", afirmou, nomeadamente, Soumaila Cissé, segundo classificado na primeira ronda das eleições, com 17,8% dos votos contra 41% do Presidente cessante, Ibrahim Bubacar Keita. Numa tumultuosa conferência de imprensa em Bamako, Cissé chegou mesmo a pedir "a formação de uma ampla frente democrática contra a fraude".
Esta segunda volta é uma novidade, porque pela primeira vez na história do país, um Presidente cessante é forçado a ir a uma segunda ronda das presidenciais.
Conservar os manuscritos de Tombuctu
A invasão islamita no norte do Mali pôs em risco de destruição milhares de documentos históricos. Estes foram salvos por Abdel Kader Haidara, feito pelo qual a Alemanha lhe outorgou o Prémio de África na edição de 2014.
Foto: DW/P. Breu
Tesouros históricos
Os manuscritos de Tombuctu são documentos históricos sem preço, que relatam a busca pelo conhecimento no mundo islâmico há muitos séculos. Tombuctu foi, em tempos, o centro islâmico da pesquisa e erudição em África.
Foto: DW/P. Breu
Contrabandeados em caixas de chumbo
Quando os islamitas começaram a destruir monumentos no norte do Mali em 2012, um grupo de cidadãos consternados transportou clandestinamente centenas de milhares de manuscritos de Tombuctu para a capital maliana, Bamako, no sul do país. Aqui foram depositados num edifício de residências, para aguardar a restauração e digitalização.
Foto: DW/P. Breu
O salvador dos manuscritos
Abdel Kader Haidara organizou a operação de resgate. O proprietário de uma biblioteca não só se preocupou em salvar os seus próprios manuscritos, mas também todos os documentos históricos de Tombuctu em risco de destruição.
Foto: DW/P. Breu
Nasce uma biblioteca digital
Os manuscritos estão agora a ser digitalizados na biblioteca de Bamako. Cada página é fotografada individualmente. A imagem é controlada e depois catalogada num arquivo central. O gigante da internet, Google, já manifestou interesse na coleção.
Foto: DW/P. Breu
Acesso geral aos manuscritos
A digitalização tem dois objetivos: preservar os manuscritos para a posteridade, caso os originais não resistam à humidade e ao calor de Bamako. E garantir o acesso a todos os interessados. Antes do conflito armado no norte e do resgate dos documentos não existia qualquer plano para os digitalizar.
Foto: DW/P. Breu
Caixas feitas à medida
Depois de serem digitalizados, os manuscritos são colocados em caixas de cartão isentas de ácidos. Aqui podem ser guardados para a posteridade. Uma vez que os manuscritos não têm todos o mesmo tamanho, as caixas tiveram que ser produzidas em trabalho manual.
Foto: DW/P. Breu
Uma biblioteca vazia
Na Biblioteca Comemorativa de Mamma Haidara, em Tombuctu, não há um único livro. E não é certo que a biblioteca volte a albergar documentos históricos no futuro. Muitos responsáveis acreditam que os documentos estão a salvo em Bamako. Mas também há quem receie pela identidade histórico-cultural de Tombuctu, caso os manuscritos não regressem a casa.
Foto: DW/P. Breu
Biblioteca em ruínas
O Instituto Ahmed Baba Institute foi criado com capitais da Fundação Aga Khan, África do Sul e Arábia Saudita. Para além de albergar a biblioteca, também tinha equipamento para a digitalização e restauração. Hoje, o instituto está vazio e dilapidado.
Foto: DW/P. Breu
Monumento aos manuscritos perdidos
Quando chegaram a Tombuctu, os islamitas deitaram fogo a muitos manuscritos no pátio do Instituto Ahmed Baba. Pretendiam assim demonstrar o seu poder ao ocidente e à UNESCO. Cerca de 4000 manuscritos foram destruídos. Os restos queimados servem hoje de memorial ao património perdido.
Foto: DW/P. Breu
Tombuctu vai cair na insignificância?
Quando Tombuctu perdeu a sua importância económica no século XX, descobriu o turismo como fonte de receitas alternativa. Mas o conflito de 2012 espantou os turistas, pelo que Tombuctu corre agora o perigo de perder também a sua relevância cultural, tanto mais que já não tem os manuscritos. E ninguém sabe se eles vão regressar.
Foto: DW/P. Breu
Sobram alguns manuscritos
Ainda existem algumas bibliotecas privadas. Mas em Timbuktu já é considerada uma biblioteca uma dúzia de páginas que cabem numa pele de carneiro. Este habitante de Timbuktu herdou alguns manuscritos do seu avô. É o que possui de mais valioso.
Foto: DW/P. Breu
Um futuro incerto
A situação política no Mali é tensa, e o exército maliano é demasiado fraco para garantir a estabilidade e segurança. Muitos habitantes de Tombuctu que fugiram da cidade optaram por não regressar. Eles não confiam na paz precária e a sua cidade enfrenta um futuro incerto.