Idai: Empréstimo do FMI a Moçambique é "acusação chocante"
Lusa | tms
27 de abril de 2019
ONG britânica Comité para o Jubileu da Dívida afirma que o empréstimo do FMI a Moçambique para responder ao ciclone Idai é uma "acusação chocante" e defende que a ajuda devia ser uma doação.
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"É uma acusação chocante da comunidade internacional que um país tão empobrecido como Moçambique tenha de ter um empréstimo de instituições internacionais para lidar com a devastação causada pelo ciclone Idai", afirmou a diretora do Comité para o Jubileu da Dívida (CJD), Sarah-Jayne Clifton, numa nota enviada à agência de notícias Lusa este sábado (27.04).
"Os empréstimos de emergência deviam estar disponíveis para todos os países empobrecidos em resposta a desastres como o Idai, especialmente aqueles ligados às mudanças climáticas causadas pelas nações mais ricas do Norte", acrescentou a responsável num comentário ao empréstimos de 105 milhões de euros aprovado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) a Moçambique.
Moçambique "já está a sofrer uma crise da dívida causada por empréstimos secretos providenciados por bancos baseados em Londres, pelo que os estragos causados pelo ciclone Idai são mais uma razão para estes fundos não serem pagos", defendeu a responsável, apontando que "os estragos significam que Moçambique precisa agora também de um perdão sobre outras dívidas, incluindo ao FMI, em vez de ter ainda mais empréstimos".
Para Sarah-Jayne Clifton, "é uma opinião chocante que a devastação do Idai não seja suficiente para garantir que o FMI fornece ou perdão ou alívio da dívida".
Para além da questão específica do empréstimo do FMI, que tem um período de carência de quatro anos e um pagamento a dez anos, sem juros, o CJD critica também o Fundo por lucrar com estes financiamentos.
"Nos anos recentes, o FMI tem estado a ganhar lucros dos empréstimos a países com médio e alto rendimento; no ano financeiro de 2018 teve um lucro operacional de 550 milhões e em 2017 foram 1,3 mil milhões de dólares, que vão para as reservas do FMI, que aumentaram de 17,3 mil milhões em 2010 para 30 mil milhões de dólares em outubro do ano passado", aponta esta ONG que condena o excessivo endividamentos dos países mais pobres e os mercados que os financiam.
Ciclone Kenneth: Estragos no norte de Moçambique
02:04
Mais ajuda frente a um novo desastre
O ciclone Idai atingiu a região centro de Moçambique a 14 de março, causando 603 mortos. Até agora, quase um mês e meio depois do desastre, várias localidades ainda enfrentam problemas. E a situação está longe de ser normalizada, depois da passagem de um novo ciclone, agora no norte do país. É o que diz afirmou o secretário-geral da AI, Kumi Naidoo:
"Passaram apenas cinco semanas desde que o ciclone Idai, um dos piores desastres climáticos a na África Austral, atingiu Moçambique, e o país mal está longe de ter recuperado. Agora, o seu povo está a experienciar o choque de outra tempestade marcante, que deve trazer chuvas devastadoras, tempestades e inundações".
A Amnistia Internacional (AI) sublinhou na sexta-feira (26.04) que o país continua "drasticamente subfinanciado", tendo apenas recolhido 88 milhões de dólares dos 390 milhões de dólares necessários para um plano de recuperação pós-Idai e reforçou um apelo à comunidade internacional.
"Todos os países que o possam fazer, e especialmente aqueles que contribuíram significativamente para as emissões globais e aqueles que o continuam a fazer, devem enviar mais que pensamentos e orações para Moçambique. Devem providenciar uma solução para aqueles cujos direitos estão a ser destruídos pelas alterações climáticas, e isto inclui o aumento dos fundos para as adaptações climáticas e esforços pós-desastre", afirmou o secretário-geral da AI, Kumi Naidoo.
Ciclone Idai: Onda de solidariedade alemã para com Moçambique
Na Alemanha, o ciclone Idai provocou uma onda de solidariedade. O Governo da Alemanha aumentou a ajuda humanitária para um total de 5 milhões de euros. Organizações humanitárias e igrejas cristãs pedem donativos.
Foto: Aktionsbündnis Katastrophenhilfe
Cruz Vermelha Alemã: Unidade sanitária móvel para a Beira
A cidade da Beira vai receber uma unidade sanitária móvel para 20.000 pessoas e um sistema de água potável para fornecer 15.000 pessoas, anunciou a Cruz Vermelha Alemã (DRK). Esta organização que coopera com a Cruz Vermelha de Moçambique já conseguiu angariar em termos de donativos individuais 50.000 euros até ao momento. A recolha de fundos ainda está activa.
Foto: Reuters/IFRC/RCRC Climate Centre
Cruz Vermelha Alemã: Já esteve ativa na prevenção
Ainda antes do ciclone Idai atingir o território moçambicano houve uma campanha de prevenção para ajudar a população a enfrentar o ciclone. Foram distribuídos comprimidos para purificar a água e kits de primeiros socorros. Além desta ajuda também foram fornecidos cobertores, lonas, colchões e utensílios de cozinha.
Foto: Reuters/Red Cross Red Crescent Climate Centre/D. Onyodi
Caritas Alemanha: distribui alimentos
A Caritas alemã, organização da igreja católica, pede donativos no seu site e também já está em Moçambique. Um dos parceiros locais em Moçambique é a Associação Esmabama. Têm distribuído na Beira alimentos como farinha, feijão e óleo para cozinhar e água potável. Também distribuíram produtos de primeira necessidade como roupa, cobertores, sabonetes, kits de primeiros socorros e baldes.
Foto: Caritas International
Diocese de Friburgo: donativo de 100.000 euros
O bispado de Friburgo no sudoeste da Alemanha fez um dos maiores donativos. Deram cem mil de euros à Caritas para ajudar as vítimas do ciclone. "As notícias que nos chegam dos nossos parceiros locais em Moçambique são dramáticas", disse Oliver Müller, director da organização de ajuda da Caritas. Disse que estão a fornecer "alimentos, água potável, artigos de higiene, cobertores e vestuário".
Foto: picture-alliance/dpa/P. Seeger
Diakonie Katastrophenhilfe: cooperação com igrejas em Moçambique
A Diakonie Katastrophenhilfe, a organização de ajuda de emergência da igreja luterana, foi uma das primeiras ONGs a fazer apelos a donativos logo após o ciclone e já conseguiu angariar 100.000 euros. Em conjunto com a CEDES, Comité Ecuménico para o Desenvolvimento Social, tem dado apoio em várias regiões de Moçambique. A ajuda alimentar desta organização já chegou a 50.000 moçambicanos.
Foto: Diakonie Katastrophenhilfe
Igrejas: colheita de donativos
Foram muitas paróquias que dedicaram as colheitas das missas de domingo às vítimas do ciclone em Moçambique. Uma delas foi esta igreja católica reformada de Colónia, a Christi Auferstehung (Alt-Katholische Kirche Deutschlands). O pastor pediu aos fiéis uma ajuda generosa que iria reverter a favor da campanha da Diakonie Katastrophenhilfe.
Foto: DW/J. Beck
Igrejas: Informação sobre a situação em Moçambique
Na porta da igreja, foi afixado um cartaz com informações detalhadas sobre a situação no centro de Moçambique. Destaque para a cidade da Beira e as destruições causadas na província de Sofala. O cartaz lembra a necessidade de apoiar as vítimas que perderam quase tudo.
Foto: DW/J. Beck
Diakonie Katastrophenhilfe: prioridade assegurar água potável
Uma das principais prioridades da Diakonie Katastrophenhilfe é garantir que haja água potável. Nesse sentido já foram distribuídos medicamentos para purificar a água. O director responsável de África da Diakonie Katastrophenhilfe, Kai M. Henning garante o seguinte, “agora temos de sobretudo fornecer água potável às pessoas, há um grande risco das águas ficarem contaminadas e espalharem doenças.”
Foto: DW/B. Jequete
Action Medeor: foco em medicamentos
“A logística para a área do desastre é difícil porque grande parte das infra-estruturas da região foram destruídas pelo ciclone", relata Bernd Pastors. A fim de poder levar rapidamente os medicamentos para a zona sinistrada, a Action Medeor está a processar as entregas de ajuda urgentemente necessárias através das filiais na Tanzânia e no Malawi.
Foto: Action Medeor
Action Medeor e DMG: parceria com a Universidade Católica
Juntamente com a Sociedade Alemã-Moçambicana (Deutsch-Mosambikanische Gesellschaft - DMG), a Action Medeor está a preparar ajuda médica para a Universidade Católica de Moçambique na Beira. Os doentes da cidade mais gravemente afectados pelo ciclone podem ser tratados através do centro de saúde associado.
Foto: DW/J. Beck
UNICEF Alemanha: foco na educação
O comité nacional da UNICEF, a organização educacional das Nações Unidas, juntou-se ao apoio das vítimas do ciclone. Cerca de 2.600 salas de aulas foram destruídas (foto de escola na Beira) durante o ciclone e há uma grande preocupação em recuperar as escolas rapidamente. Será uma das tarefas principais da UNICEF em Moçambique.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Hadebe
Ordem de Malta Internacional: equipa de ajuda no local
Uma equipa da Ordem de Malta Internacional da Alemanha (Malteser International) já viajou para Moçambique para prestar socorros urgentes (foto simbólica). "A situação é confusa. ... As infra-estruturas do país estão muito danificadas e estamos numa corrida contra o tempo", diz Oliver Hochedez, Chefe de Ajuda de Emergência da Ordem de Malta Internacional.
Foto: DW/B. Jequete
Technisches Hilfswerk: 5.000 litros de água por hora
A agência estatal da Alemanha de ajuda técnica, Technisches Hilfswerk (THW), enviou uma equipa a Nhangau, nos arredores da Beira. Na quinta-feira (28.03), já conseguiu instalar uma unidade móvel que fornece 5.000 litros de água potável por hora. "Os 30 poços da região estão contaminados com bactérias de diarreia", conta Jens-Olaf Knapp, que lidera a equipa do THW na província de Sofala.
Foto: THW/Jörg Eger
Technisches Hilfswerk: escola com água saudável
Os responsáveis do THW, que na sua maioria costumam ser voluntários alemães, relatam que ficaram muito contentes com a reação da população local de Nhangau após a instalação da central de água. "Um passo muito importante para manter as crianças saudáveis", comentou Esmeralda Basela, a diretora da escola local, onde foi instalada a unidade móvel de água do THW.