Pessoas carenciadas foram deixadas sem água e alimentos num centro de acolhimento em dezembro do ano passado. Desde então, são ignoradas pelas autoridades da província da Zambézia, no centro de Moçambique.
Centro de acomodação a pessoas carenciadas do bairro Icidhua, em Quelimane
Foto: DW/M. Mueia
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Idosos carenciados estão abandonados em abrigos pelas autoridades municipais desde dezembro do ano passado no bairro Ichidua, nos arredores da cidade de Quelimane, a capital da província da Zambézia. Os idosos coabitam com outras nove famílias carenciadas com deficiências visuais, físicas e auditivas em casas que as autoridades do Conselho Autárquico de Quelimane construíram junto com parceiros da cooperação internacional.
Os carenciados dizem que desde que foram acomodados nas residências para os desfavorecidos nunca foram assistidos pelas autoridades. Segundo eles, falta comida, vestuários e outras necessidades.
"Fomos deixados aqui no centro, mas temos problemas de falta de água e de refeição. Estamos a sofrer e ninguém vai continuar a viver assim. Desde o ano passado, fomos deixados aqui por sermos doentes", reclama Vitorino José, um dos moradores.
Idosos com deficiências são abandonados em Quelimane
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Sabrina Socovinho está na mesma situação. "A situação daqui é só fome. Não temos nada para comer. Com a idade que tenho o que é que vou fazer?", questiona.
Segundo Anifa José, que também vive no centro, a solução para matar a fome tem sido uma alimentação à base de folhas da mandioqueira produzida no local.
"Não sei como vamos viver. Não temos água, estamos a sofrer demais. Tiraram-nos de onde estávamos e deixaram-nos aqui sem farinha para comer. Enfrentamos muitos sofrimentos. Não nos dão nada, muito menos roupa para usarmos", lamenta.
Por sua vez, Zecas Dramusse, também um os moradores dessas residênciais, cobra uma resposta das autoridades. "Aqui estamos a sofrer. Não temos comida e nem água. Sou cego. Não consigo sozinho sair para pedir esmola à direção da ação social e o conselho municipal. Desde dezembro, nunca nos deram nada", diz.
Esforços a serem feitos?
Sabrina Socovinho é vítima de abandono e reclama da falta de comidaFoto: DW/M. Mueia
A DW entrou em contato com Costa Amado, o vereador de saúde da mulher e ação social do Conselho Autárquico de Quelimane, mas este recusou ser entrevistado para falar sobre o assunto, alegadamente, por não ter autorização do presidente da autarquia de Quelimane.
Já o delegado do Instituto de Assistência Social de Quelimane (INAS), José Amora, diz que esforços estão a ser feitos com vistas à mobilização de alguns recursos que serão distribuídos depois de ser analisada a situação.
"Para que os agregados familiares se beneficiem dos programas do Ministério do Género e Ação Social, a pessoa tem que ser pobre. No programa de subsídio básico, estamos a atender pessoas idosas, com deficiências e doenças crónicas, crianças e chefes de família", explica.
"Primeiro, a pessoa tem que ser indigente identificado na comunidade. Para a pessoa idosa, o enquadramento está a decorrer. Vamos identificando novos casos para ver se no próximo ano vamos poder enquadrá-los", acrescenta José Amora.
Idosos abandonados em Inhambane
Maltratados, acusados de feitiçaria e sem apoio. Em Moçambique, muitos idosos são rejeitados pelos familiares, vivem sem abrigo e passam a maior parte do dia nas ruas a pedir esmola. Governo diz que faltam fundos.
Foto: DW/L. da Conceição
Viver na rua sem abrigo e comida
Isabel Bato vive há cinco anos nas ruas da cidade de Maxixe, na província de Inhambane. Os familiares rejeitaram-na, alegando que estava a enfeitiçar os filhos e netos para que não tivessem sucesso nos seus trabalhos e negócios. Sem apoio do Governo, a idosa vive pedindo esmola nas lojas dos comerciantes locais.
Foto: DW/L. da Conceição
Caminhar sem destino
Como muitas pessoas da terceira idade, Jortina João caminha pelas ruas do distrito de Morrumbene a pedir ajuda às pessoas. É "caminhar sem ter destino e descanso", diz. Se ficar sentada, ninguém a apoiará com alimentação e roupas, sublinha.
Foto: DW/L. da Conceição
Pedir ajuda
Nos mercados, lojas e mercearias, os idosos pedem ajuda todos os dias para conseguir algo para comer, mas nem todos satisfazem os seus pedidos. Abandonada pela família, Joana de Vaz precisa de sair para pedir ajuda, mas nem sempre sai satisfeita. "Às vezes, recebo dois quilos de arroz, um pouco de óleo, mas muitas pessoas não são solidárias", conta.
Foto: DW/L. da Conceição
Olhar de fome
Tal como outras idosas no interior da província de Inhambane, Joana Wacitela passa fome devido à seca que assola esta região de Moçambique. A colheita não foi boa na sua machamba: "Estou a passar mal de fome, estou a pedir ajuda". Segundo o governo provincial, o apoio não chega a todos os idosos devido à falta de fundos.
Foto: DW/L. da Conceição
Poucos idosos recebem apoio
A Associação dos Aposentados de Moçambique (APOSEMO), o Instituto Nacional de Ação Social (INAS) e a Associação Gupuanana em Inhambane confirmam que os apoios direcionados aos idosos não chegam a todos. Em Inhambane, nem metade das pessoas da terceira idade beneficia dos programas sociais básicos. Estas pessoas são cada vez mais excluídas.
Foto: DW/L. da Conceição
Cesta básica com poucos produtos
O artigo 5º da Lei 03/2014, aprovada pelo Parlamento moçambicano, estabelece que cabe às famílias, à comunidade, à sociedade e ao Estado assegurar o direito à alimentação da pessoa idosa. Em Moçambique, algumas pessoas da terceira idade recebem uma cesta básica, mas com pouquíssimos produtos, como óleo, açúcar, arroz e sal.
Foto: DW/L. da Conceição
Amizade para sempre
Apesar de tantas dificuldades, os idosos gostam de fazer novas amizades enquanto a vida lhes permite. Sitoe Manuel e Ernesto José enfrentam juntos os problemas e reclamam do pouco apoio que recebem do INAS. "Mesmo com dificuldades, temos que ter fé e recordar os bons momentos que passámos. A amizade faz bem a uma pessoa", dizem.
Foto: DW/L. da Conceição
Sem alternativas
Japao Boane perdeu o emprego de motorista por causa da sua idade. Sem ter outra alternativa para se sustentar, decidiu abrir uma pequena banca em frente à sua residência para vender pequenos produtos, como rebuçados e bolachas. Ele diz sentir-se excluído da sociedade.
Foto: DW/L. da Conceição
Investir em pequenos negócios
Joana Chaquir luta todos os dias para sobreviver. Os filhos não lhe dão nenhum apoio. Ela decidiu começar um negócio para vender caldo e alface no mercado distrital de Morrumbene, em Inhambane. Com o que vende, consegue comprar um copo de arroz, meio litro de óleo e arroz.
Foto: DW/L. da Conceição
A perder as forças para trabalhar
Hawa Leka recebe um subsídio de 300 meticais fornecido pelo INAS. Com o dinheiro, começou a vender camarão e peixe seco em Inhambane. Ela afirma que está a perder as forças a cada dia que passa e não sabe o que será do seu futuro, caso não consiga mais trabalhar.
Foto: DW/L. da Conceição
Idosos assassinados pelos familiares
Araujo Nhanice, líder comunitário do povoado de Guicico, no distrito de Morrumbene, não recebe apoio do Governo e não sabe porquê. Ele alerta que, na sua comunidade, os casos de assassinato de idosos prosseguem e que os principais autores são familiares das vítimas.
Foto: DW/L. da Conceição
Esperança em dias melhores
Embora passem muitas dificuldades no dia-a-dia, os idosos de Inhambane ainda têm esperança de que melhores momentos virão. O rosto, no entanto, não esconde as marcas do sofrimento.