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"Angola precisa de uma nova mentalidade"

11 de agosto de 2017

Em entrevista à DW África, o porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, José Manuel Imbamba, salienta que é preciso solucionar o problema ético com que se debatem a política e a sociedade do país.

Foto: DW/R. Graça

Uma "nova mentalidade" e um "governo para todos os angolanos" são mudanças que o porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) espera ver no país depois das eleições de 23 de agosto. A menos de duas semanas da ida às urnas, a DW África falou com José Manuel Imbamba sobre o processo e sobre a campanha eleitoral.

DW África: Qual é a avaliação que faz da campanha eleitoral até agora? Como vê, por exemplo, o regresso aos "discursos de guerra" por parte do MPLA?

José Manuel Imbamba (JSM): Não podemos dizer que haja generalização do discurso de guerra por parte do MPLA. Foi um comício pontual em que se recavou este passado triste e histórico nosso. Mas no cômputo geral está a correr muito bem. Os discursos dos políticos estão virados para o futuro, para o desenvolvimento, para a paz, para a concórdia, para a satisfação das necessidades básicas dos cidadãos.

"Angola precisa de uma nova mentalidade"

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DW África: Mas considera, certamente, que é imprudente invocar este tipo de discurso neste momento?

JSM: Sem dúvida, porque invocar o espetro da guerra de facto é um argumento infeliz, nesta altura e num contexto totalmente diferente, em que a maior parte dos votantes não viveu este drama que os mais velhos viveram. Por isso, seria muito infeliz fazer recurso a este argumento, uma vez que, num ambiente de guerra, todos têm culpas no cartório.

DW África: As promessas, como habitualmente, marcam a campanha eleitoral. Acha que é preciso mais pragmatismo e menos promessas para resolver os graves problemas que o país enfrenta?

JSM: Sim, infelizmente há muita promessa e pouco pragmatismo. É preciso que as políticas se traduzam em atos, que as políticas se traduzam em obras e na melhoria das condições de vida das populações. E sobretudo melhorar o aspeto ético. Porque Angola debate-se hoje com o problema ético na função pública e em todas as dimensões sociais.

DW África: Recentemente, a CEAST disse que os órgãos de comunicação pública têm sido demasiado tendenciosos a favor do MPLA. Acha que isto se tem mantido?

JSM: Sim. Nós já nos manifestámos sobre esta situação. Mesmo agora vê-se que há uma propensão, digamos, mais para a campanha do MPLA, para os atos do Governo, o que de facto fere, de algum modo, a lisura, a isenção e a transparência que nós temos vindo a pedir aos órgãos públicos. É preciso que os jornalistas não endossem as camisolas partidárias nos seus serviços. É preciso que os meios públicos ofereçam iguais oportunidades para todos.

DW África: A CEAST já sublinhou que Angola precisa de um governo competente e não um governo apenas para as elites. Mas também é preciso uma oposição forte. São mudanças que espera ver depois das eleições de 23 de agosto?

JSM: O que nós desejamos é que haja um governo para os angolanos. Independentemente das suas filiações partidárias. E é por isso que nós nos temos batido fortemente contra aquela tendência que quer dar maior relevância à militância partidária em detrimento da cidadania. Nós desejamos que o governo a sair das próximas eleições se muna de uma nova mentalidade e de uma nova cultura. E que a própria cultura de Estado, a cultura de governo, seja muito diferente daquela a que nos habituámos até hoje. E a oposição também deve assumir o seu papel, não só na monitorização, mas também em ajudar o governo a servir os interesses da nação e dos cidadãos.    

 

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