Ilha de Gorée em perigo devido às mudanças climáticas
Emmanuelle Landais
1 de março de 2018
A ilha sengalesa de Gorée, Património da Humanidade, está em perigo com o avanço do mar provocado pelas mudanças climáticas. A UNESCO e os residentes estão preocupados com o futuro deste memorial à escravatura.
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A pequena ilha de Gorée, ao largo da costa do Senegal, foi declarada Património da Humanidade pela agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 1978, a primeira vez que o título foi dado a uma localidade africana. Mas agora a ilha está em grave perigo por causa das mudanças climáticas. No norte, os diques de proteção colapasaram há dois anos na sequência de chuvas torrenciais. Todos os anos o mar avança 17 centímetros. Os residentes e a UNESCO procuram por todos os meios travar a erosão e proteger o memorial ao comércio de escravos na África ocidental.
200 mil pessoas visitam Gorée anualmente
O barco que faz a ligação entre a capital senegalesa Dacar e a ilha leva apenas 20 minutos a chegar a Gorée. Os 200 residentes recebem cerca de 200.000 visitantes por ano. Não há carros na ilha. É o lugar perfeito para passear e admirar as fachadas das casas coloridas que datam do século 18. Mas agora a ilha tem um problema existencial.
O nível da água está a subir a um ritmo alarmante. Residentes como Emilie, de 50 anos, dizem que não estão assustados. Mas concordam que a situação é perigosa. Ao longo dos anos, Emilie viu cair no mar partes dos rochedos ao pé da mesquita. Há dois anos, um enorme dique de proteção no norte desapareceu após chuvas torrenciais"Foi no meio do dia, caiu tudo ao mar. As autoridades têm que agir. Tudo ao longo da costa está arruinado, é muito mau", afirma Emilie.
Museu ao ar livre
A ilha é um enorme museu ao ar livre. Gorée foi o infame ponto de transição do comércio de escravos no Atlântico. Por ali passaram muitos dos 12 a 20 milhões de escravos vendidos na Europa e nas Américas.
Annie Jouga, a co-presidente da Câmara Municipal de Gorée, diz que quando chegou à ilha há 15 anos plantou coqueiros. No ano passado, os coqueiros estavam na água do mar. Todos os anos, a ilha perde 17 centímetros de superfície e o nivel de água sobe 2,32 milímetros, segundo um estudo da Universidade de Dacar. Jouga acrescenta que "o antigo hospital de Gorée, que era o hospital de Dacar, está na água. Como a construção é sólida ainda não ruiu, mas notamos novos sinais de deterioração todos os dias".Em Gorée várias agências internacionais e a União Europeia esforçam-se por salvar a ilha, restaurando partes negligenciadas da cidade. A agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) lançou um projeto de renovação na linha costeira que almeja reforçar a sustentabilidade e proteger este local único, explica Guiemo Alonso, director cultural da representação em Dacar.
Ilha de Gorée em perigo devido às mudanças climáticas
"Não sabemos ao certo como renovar tendo em conta a mudança do clima. Estamos a lidar com uma situação nova. Sabemos que vai custar muito dinheiro e não conhecemos ainda as soluções".
As dificuldades são muitas. Por exemplo, alguns materiais de construção, como a madeira, já não podem ser usados hoje, porque a as árvors estão está protegidas. Nem sempre é possível respeitar as técnicas de construção e os materiais originais. O que gera alguma discussão e controvérsia. Mas há medidas consensuais, como o tratamento de águas residuais e lixo, a plantação de novas árvores e a criação de áreas verdes para limitar a erosão, tudo para garantir a sustentabilidade.
Património histórico - Roças de São Tomé e Príncipe
As roças de São Tomé e Príncipe foram a base económica das ilhas até à independência em 1975, altura em que se deu a sua nacionalização. Esta galeria apresenta o património histórico das roças do arquipélago.
Foto: DW/R. Graça
Nas montanhas: a Roça Agostinho Neto
A roça organiza-se através da artéria principal que é fortemente marcada pelo imponente hospital, implantado na extremidade mais elevada, bem como pelos terreiros e socalcos que acompanham o declive. Na era colonial era esta roça que possuia o sistema ferroviário do arquipélago, a partir do qual se estabelecia a ligação e o abastecimento entre as suas dependências e o porto na Roça Fernão Dias.
Foto: DW/R. Graça
Uma roça memorial e emblemática
A Roça Agostinho Neto recebeu este nome após a independência nacional em 1975, em memória do primeiro Presidente de Angola. É uma das mais emblemáticas e impressionantes estruturas agrícolas do país. Situa-se no distrito de Lobata, norte da ilha de São Tomé, a 10 quilómetros da capital. Foi fundada em 1865 pelo Dr. Gabriel de Bustamane e foi explorada a partir de 1877, pelo Marquês de Vale Flor.
Foto: DW/R. Graça
Aqui começou a cultura do cacau
Fundada nos finais do século XVIII, a Roça Água-Izé foi a primeira da Ilha de São Tomé que implementou a cultura de cacau. José Ferreira Gomes trouxe a planta do Brasil para a Ilha do Princípe, inicialmente como uma planta ornamental, mas a cultura do cacau prosperou no arquipélago e tornou as ilhas o maior produtor de cacau a nível mundial. Esta roça é composta por nove dependências.
Foto: DW/R. Graça
O hospital da Roça Água-Izé
Implantada numa zona litoral, a Roça Água-Izé é o exemplo mais representativo da necessidade de expansão. Essa urgência levou à construção de um segundo hospital, de novos blocos de senzalas e edíficios de apoio à produção, como armazéns, fábricas de sabão e cocheiras.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Uba Budo
Localizada na parte leste da ilha de São Tomé, no distrito de Cantagalo, esta roça foi fundada em 1875. Pertenceu à Companhia Agrícola Ultramarina, administrada na altura pelo general português Humberto Gomes Amorim. A principal cultura na Roça Uba Budo era o cacau.
Foto: DW/R. Graça
Cenário de televisão
Nos anos 90, a Roça Uba Budo foi o cenário escolhido pela RTP Internacional, o canal internacional da televisão pública de Portugal, para rodar uma série televisiva. Retratava a história de amor entre uma escrava e o seu patrão.
Foto: DW/R. Graça
Uma das mais antigas: a Roça Monte Café
A Roça Monte Café localiza-se numa zona bastante acidentada, na região de Mé-Zóchi, no centro da Ilha de São Tomé. É uma das mais antigas roças do país, tendo sido fundada em 1858, por Manuel da Costa Pedreira. A 670 metros de altitude, em terrenos bastante propícios para a cultura de café arábica, assumiu o lugar de destaque como a maior produtora de café, entre as restantes roças são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
Uma pequena cidade: Roça Roca Amparo
O desenvolvimento e a modernização das estruturas das roças, originaram um contínuo crescimento de espaços e equipamentos, e a Roça Roca Amparo é um exemplo disso. Esta evolução permitiu que se criasse uma malha de ruas, jardins e praças, cada qual com a sua função e importância. O processo de crescimento correspondia ao de uma pequena cidade.
Foto: DW/R. Graça
Uma noite na roça
A Roça Bombaim localiza-se em Mé-Zóchi, um dos distritos mais populosos de São Tomé. Bombaim é uma das unidade hoteleiras de referência do arquipélago que promove o turismo rural. Encravada no meio de uma floresta densa, a sua estrutura arquitetónica faz dela um espaço único para quem procura paz. Para se aceder à roça passa-se pela Cascata S. Nicolau, um dos encantos são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Vista Alegre
A casa principal da Roça Vista Alegre constitui um dos exemplos arquitetónicos de maior interesse. Desenvolve-se sobre uma planta retangular em dois pisos, parcialmente elevada e um terceiro, formando apreendas apoiadas em pilares contínuos de madeira. Conserva-se ainda em estado razoável, devido às intervenções na casa principal, sendo que os restantes edifícios requerem obras de restauro.
Foto: DW/R. Graça
As senzalas - antigas casas dos escravos
Representa a casa do africano, oriunda do quimbundo angolano e referenciada nas pequenas povoações autóctones, formadas por cubatas (pequenas casas de madeira com cobertura de colmo). Com a exportação de mão de obra africana para o Brasil ao longo do século XVI, a dominação "senzala" foi aplicada ao conjunto habitacional onde residiam os trabalhadores escravos nas estruturas agrárias.
Foto: DW/R. Graça
Na Roça Boa Entrada, a maioria é pobre
Hoje, a Roça Boa Entrada é habitada por pessoas de diversas proveniências. Umas vieram de outras roças do país e outras vieram de outros países de África, principalmente de Cabo Verde. A maioria da população de Boa Entrada é pobre. A roça tem uma forte densidade populacional e uma grande concentração de pessoas num espaço relativamente reduzido e organizado em torno da antiga casa senhorial.
Foto: DW/R. Graça
O abandono das roças
A Roça Porto Real, localizada na Ilha do Princípe, faz parte das 15 grandes unidades agro-industriais criadas depois da independência e sucessivamente abandonadas. Antigamente, a roça tinha uma produção agrícola variada. Há quem diga que produzia o melhor óleo da palma de toda a ilha.