As Comores vão a votos no domingo. Eleição conta com 12 candidatos, depois do afastamento dos dois principais adversários do Presidente. Se houver segunda volta, oposição apoiará candidato que defrontar Azali Assoumani.
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O Supremo Tribunal, constituído exclusivamente por aliados do Presidente, rejeitou as candidaturas dos dois principais candidatos da oposição. O ex-ministro das Finanças Mohamed Ali Soilih, da União para o Desenvolvimento das Comores (UPDC), e Ibrahim Mohamed Soule, do partido Juwa, foram impedidos de participar no escrutínio de 24 de março.
"O que é evidente nas ilhas Comores é que aqueles que representam qualquer tipo de ameaça ao Presidente Azali são afastados", afirma o analista Mohamed Said Mchangama. "O Presidente Sambi, o governador de Anjouan e outras figuras foram presos. Os dois principais adversários do Presidente foram afastados das eleições. A opinião da população é que por trás das decisões do Tribunal estão razões políticas", diz o especialista.
Os dois candidatos afastados decidiram apoiar um candidato da sua escolha. Um dos nomes mais sonantes é o de Mahamoud Ahamada, o candidato oficial do partido Juwa e que é apoiado por Ibrahim Mohamed Soule.
Todos contra um
"Se as eleições forem credíveis, sem ocorrência de fraudes, a oposição vencerá, de uma forma ou de outra", disse à DW Ahmed Thabit, ex-embaixador das Ilhas Comores.
Ilhas Comores escolhem novo Presidente no domingo
Caso nenhum candidato obtenha a maioria nas eleições do próximo domingo (24.03), realizar-se-á uma segunda volta a 21 de abril. Os candidatos da oposição fizeram já saber que, em caso de segunda volta, todos apoiarão o candidato que defrontar o Presidente Azali Assoumani.
Para assegurar transparência no escrutínio, a União Europeia (UE) financiou algumas organizações da sociedade civil para que contratassem observadores.
Também a União Africana (UA) anunciou esta semana que a sua missão de observadores já está no país. Em comunicado, a UA disse que estas eleições são "essenciais para a estabilidade e consolidação da democracia no arquipélago".
Agitação social
A aprovação de um referendo, que trouxe mudanças significativas para a Constituição do país, em julho do ano passado, tem feito aumentar o número de conflitos e a agitação social nas Comores, arquipélago no Oceano Índico, na costa sudeste da África, a leste de Moçambique, com cerca de 800 mil habitantes.
No entanto, diz Ahmed Thabit, não é a violência que mais preocupa a população, mas sim as consequências que umas eleições fraudulentas possam trazer. "O que preocupa as pessoas é que, se as eleições não forem livres e não houver observadores internacionais, a Comissão Nacional de Eleições poderá declarar o atual Presidente vencedor", explica.
A campanha presidencial para as eleições de domingo ficou marcada, para já, pela tentativa de assassinato que o atual Presidente e candidato, Azali Assoumani, diz ter sido alvo no princípio deste mês.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.