Bissau: "Imagem externa depende de quem ganhar as eleições"
Iancuba Dansó (Bissau)
20 de novembro de 2019
Alguns candidatos presidenciais tecem críticas à CEDEAO. Mas numa coisa todos concordam: é preciso melhorar a imagem externa da Guiné-Bissau. Analista diz que próximo Presidente será crucial nessa tarefa.
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Todos os doze candidatos às presidenciais na Guiné-Bissau falam na necessidade de melhorar a imagem externa do país, depois das eleições, a 24 de novembro. Mas alguns criticam a postura da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) durante a crise política guineense, bem como o reforço da força militar da organização, a ECOMIB.
Um dos candidatos mais críticos é Umaro Sissoco Embaló, apoiado pelo Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15).
Em vários comícios, Sissoco Embaló tem dito que a CEDEAO e outras organizações não podem substituir a "Constituição do país". Tem criticado ainda a recusa da comunidade internacional em reconhecer a demissão do Governo de Aristides Gomes pelo Presidente José Mário Vaz e mostrou-se contra a mediação da CEDEAO e, em particular, do Presidente da Guiné-Conacri, Alpha Condé.
"Não tenho nada contra as decisões, porque, se eu for Presidente da República, estarei presente na hora da tomada de decisões, mas acho que há prioridades. Há países com problemas de jihadistas. Eu, [se for] Presidente, Alpha Condé não poderá imaginar ser mediador na Guiné-Bissau", afirmou o candidato.
Domingos Simões Pereira, candidato presidencial do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder), desdramatiza as críticas feitas à CEDEAO.
"A CEDEAO está cá para assistir a Guiné-Bissau na criação de estabilidade interna, para poder funcionar, de facto, como um Estado soberano", disse Simões Pereira.
Estabilidade do país como prioridade
O especialista em relações internacionais Midana Pinhel afirma que a melhoria das relações da Guiné-Bissau com o mundo dependerá em grande medida do próximo Presidente.
Bissau: "Imagem externa depende de quem ganhar as eleições"
"A imagem do país no mundo depende de quem ganhar as eleições, porque o próprio país está parado, à espera dos resultados eleitorais. Vamos esperar pelo comportamento do futuro Presidente da República, porque precisa-se da credibilidade e confiança", comenta Pinhel em entrevista à DW África.
Mas a melhoria da imagem externa dependerá também da coordenação entre os órgãos do Estado, acrescenta o professor universitário.
Pinhel lembra as últimas declarações públicas do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Biaguê Na Ntan, que recusou a vinda de mais forças militares da CEDEAO para a Guiné-Bissau. Para o académico, isso demonstra que "ainda não há sintonia. Pode não haver necessidade para que venham mais forças estrangeiras, mas não deve ser o Chefe do Estado-Maior a dizer isso publicamente, isto demonstra uma certa contradição. Poderia chamar o primeiro-ministro ou o Presidente da República", frisa.
Vários parceiros bilaterais e multilaterais, entre eles Portugal e a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), já se disponibilizaram a reforçar a cooperação com a Guiné-Bissau, mas condicionaram esse reforço à manutenção do clima da estabilidade depois das eleições presidenciais.
Farpas e elogios: Frases das eleições na Guiné-Bissau
Principais partidos políticos, sociedade civil e comunidade internacional acompanham de perto contagem de votos na Guiné-Bissau. CNE só divulga resultados na quarta-feira (13.03), mas PAIGC já canta vitória.
Foto: Getty Images/AFP/SEYLLOU
PAIGC
O PAIGC declarou-se, na segunda-feira (11.03), vencedor das eleições legislativas de 10 de março na Guiné-Bissau. O porta-voz do partido João Bernardo Vieira garantiu que o povo conferiu ao PAIGC os destinos do país. No domingo, após votar, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, disse que estas eleições representam "um momento de viragem" para que, na Guiné-Bissau, "o império da lei vingue".
Foto: DW/F. Tchumá
MADEM-G15
Após o anúncio do PAIGC, o Movimento para a Alternância Democrática frisou que ninguém ganhou as eleições com maioria absoluta e que também fará parte do próximo Governo do país. As declarações de Braima Camará no domingo, dia das eleições, foram das mais críticas, pois o líder do MADEM-G15 acusou o primeiro-ministro de "usar dinheiro público para corromper líderes de opinião no dia de reflexão".
Foto: DW/J. Carlos
PRS
O Partido da Renovação Social disse, esta terça-feira, que "é falsa a informação da maioria folgada que o PAIGC sustenta para semear a confusão"."Nenhuma das forças políticas atingiu sequer a barra dos 40 deputados", disse Vítor Pereira. No domingo, depois de votar, Alberto Nambeia, líder do PRS, disse que esta votação constitui um "balão de oxigénio" para o povo, que quer mudanças no país.
Foto: DW/B. Darame
FREPASNA
Baciro Djá considera que era o candidato com mais experiência nestas eleições e, por isso, o justo vencedor. No entanto, esta segunda-feira, o líder do partido Frente Patriótica para a Salvação Nacional (FREPASNA) foi o primeiro a reconhecer a derrota no pleito. "Consideramos que o nosso resultado foi péssimo e a responsabilidade máxima é minha, enquanto presidente do partido", disse.
Foto: Presidency of Guinea-Bissau
Comissão Nacional de Eleições (CNE)
Pouco depois do arranque do pleito, no domingo, José Pedro Sambú, presidente da CNE, disse aos jornalistas que o processo estava a decorrer num "clima de transparência e sem sobressaltos". O mesmo cenário foi reportado pela porta-voz da comissão, ao final do dia. Felizberta Vaz garantiu ainda que os "pequenos problemas" que surgiram foram resolvidos. A CNE divulga os resultados esta quarta-feira.
Foto: CNE
Presidente da República
Em declarações aos jornalistas, depois de votar, no domingo, José Mário Vaz garantiu que os observadores estavam "surpresos" pela positiva com a Guiné-Bissau. O Presidente guineense pediu à imprensa para que passasse lá para fora essa "grande imagem" da Guiné-Bissau como um país onde "não há problemas". "Considero a Guiné-Bissau hoje campeã da liberdade", disse.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
Primeiro-ministro guineense
Também no domingo, o primeiro-ministro guineense disse estar emocionado com a concretização de um processo eleitoral "difícil e intenso", no qual foi "necessária a intervenção da comunidade internacional". Aristides Gomes acrescentou ainda que, apesar das dificuldades, este foi um processo cheio de "pedagogia".
Foto: Präsidentschaft von Guinea-Bissau
Organização das Nações Unidas
David McLachlan-Karr, enviado das Nações Unidas à Guiné-Bissau, tem estado a reportar, com frequência, o ambiente vivido no país nestas eleições, nas redes sociais. Esta segunda-feira, o representante da ONU deu os parabéns à população guineense que, "em todo o país, saiu [às ruas] para votar pacificamente e com muito orgulho cívico".
Foto: DW/B. Darame
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Também a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na pessoa de Luiz Villarinho Pedroso, acompanhou de perto a votação. No domingo, dia da eleição, o chefe da missão da CPLP disse que estas eleições foram um "exercício cívico exemplar", que decorreu com a "maior tranquilidade e normalidade". O balanço preliminar do escrutínio será feito ao longo desta terça-feira (12.03).
Foto: DW/N. dos Santos
CEDEAO
À semelhança da ONU e da CPLP, também a CEDEAO deu nota positiva às eleições guineenses. Numa conferência de imprensa, esta segunda-feira (11.03), Kadré Désiré Ouedraogo, chefe da Missão de Observação da CEDEAO, disse que as legislativas no país decorreram "de forma pacífica e transparente". Acrescentou ainda que espera que "todos [os partidos] aceitem os resultados".
Foto: DW/B. Darame
União Africana
Após o encerramento das urnas na Guiné-Bissau, Rafael Branco, chefe da Missão de Observação Eleitoral da União Africana destacou a forma tranquila com que decorreu o processo e salientou a "participação cívica notável".
Foto: DW/Nélio dos Santos
Liga Guineense dos Direitos Humanos
Também as organizações locais fizeram chegar elogios. À semelhança do que foi dito pela CNE, Augusto Mário da Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, disse ter havido registo de "algumas falhas", mas "que foram imediatamente supridas". Tirando os atrasos na abertura das urnas em algumas mesas e trocas de cadernos eleitorais, "o processo decorreu de forma regular", disse.
Foto: DW/B. Darame
Sociedade Civil
Por último, a Célula de Monitorização do Processo Eleitoral salientou, esta segunda-feira, que "os eleitores compareceram em massa para exercer o seu direito de voto". Este grupo de monitorização das eleições, composto por 420 pessoas, espalhadas por todo o país, saudou também "a boa presença das forças de segurança nos centros de votação observados".