Imprensa destaca críticas sobre eleições angolanas
3 de setembro de 2012 A edição online do jornal Süddeutsche Zeitung divulgou um vídeo da agência noticiosa Reuters sobre as eleições gerais angolanas, realizadas na sexta-feira (31.08). O relato diz que o MPLA, partido atualmente no poder em Angola, levou a melhor no escrutínio e que, portanto, o presidente José Eduardo dos Santos – o primeiro da lista do partido – deverá ser reconduzido ao poder no país ocidental africano.
O vídeo no Süddeutsche Zeitung ainda destacou que a oposição e críticos do governo de José Eduardo dos Santos, no poder há quase 33 anos, disseram que a eleição não foi credível e que foi unilateral. Por isso, setores da oposição, como a UNITA, falam em impugnar o escrutínio.
As ruas de Luanda, continua o vídeo, ficaram calmas no fim-de-semana, o que mostraria que o resultado dando vitória ao MPLA já era esperado. Os críticos, continua o relato, atacam o presidente José Eduardo dos Santos, dizendo que ele construiu um Estado de "uma pessoa só", marcado por corrupção e pelo enriquecimento de uma "pequena elite".
O Süddeutsche Zeitung lembra ainda que Angola conseguiu crescimento econômico de dois dígitos, nos últimos anos, devido à extração de petróleo, mas que apenas poucos dos 18 milhões de habitantes angolanos beneficiam da riqueza do chamado "ouro negro".
Primavera Árabe em Angola
Além de publicar matérias factuais sobre o desenrolar das eleições, a versão alemã do diário britânico Financial Times divulgou uma matéria no seu website no sábado, 1º de setembro, sobre rappers angolanos que, de acordo com o texto, estariam querendo "importar a Primavera Árabe [movimentos de contestação popular em vários países árabes e que levaram à derrubada de governos como o da Tunísia, da Líbia e do Egito]" para Angola. "No país dirigido de forma autocrática, nasce a resistência", escreve o jornal.
A matéria abre com um relato sobre Luaty Beirão, de 31 anos, também conhecido como Ikonoklasta, e o movimento do qual ele faz parte e que almeja, segundo o FTD, derrubar o regime de José Eduardo dos Santos. O movimento, de acordo com o texto, gostaria de adiar as eleições, já que o escrutínio, segundo Luaty Beirão, é "ainda mais corrupto que o próprio presidente".
O Financial Times Deutschland também destaca palavras do ex-primeiro-ministro Marcolino Moco, ainda ligado ao partido no poder, o MPLA. As eleições, segundo Moco disse ao jornal alemão, são "pura farsa": "Vivemos em tempos perigosos", disse ele: "as pessoas não vão ficar apenas a olhar por muito tempo o que está acontecendo ao país".
Autocrata silencioso
Nesta segunda-feira (03.09), o diário Frankfurter Allgemeine Zeitung publicou artigo de opinião intitulado "O autocrata silencioso". O texto lembra que, quando a Constituição angolana foi alterada com a introdução da eleição indireta para presidente, Angola ainda vivia a euforia do Campeonato Africano de Nações (CAN) 2010.
A alteração na lei fundamental angolana prevê que os dois nomes no topo da lista do partido mais votado se tornam automaticamente o presidente e o vice-presidente do país. "Sem concorrer a uma eleição direta, dos Santos se deixou confirmar no poder pela primeira vez, após quase 33 anos dirigindo Angola. Ao lado de Teodoro Obiang, presidente da Guiné Equatorial, José Eduardo dos Santos é um dos dirigentes que mais tempo está no poder no continente africano – além de ser um dos dirigentes mais ricos".
"Na verdade", diz texto do diário Der Tagesspiegel, "o presidente deveria ser escolhido separadamente [e não indiretamente como foi o caso na eleição]. Mas o dirigente de 70 anos provavelmente teve medo de ganhar menos votos que o próprio partido."
O Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) ainda destaca que as linhas entre poder e negócios privados são tênues e que a filha do presidente, Isabel dos Santos, por exemplo, é uma das mulheres mais ricas de África, "enquanto a maioria dos angolanos ainda vivem em pobreza".
Mas, "ao contrário de outros autocratas, José Eduardo dos Santos "não exibe a própria riqueza" e prefere aparições públicas discretas, apesar de ter usado camisas nas cores do partido governista MPLA durante a campanha eleitoral "para parecer mais jovem".
"Cansado do poder", segundo relato do FAZ, o próximo mandato de José Eduardo dos Santos deverá servir para transmitir as rédeas angolanas a Manuel Vicente, ex-chefe da empresa petrolífera estatal Sonangol.
Já o diário Der Tagesspiegel traz artigo do jornalista alemão Wolfgang Drechsler dizendo que o regime do partido MPLA, no poder desde 1976, "não corre perigo [de perder as eleições]" – e "nem as riquezas das elites correm riscos".
Autora: Renate Krieger
Edição: António Rocha