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Imprensa alemã destaca Guiné-Bissau, Moçambique e imigração em África

25 de maio de 2012

Ao longo desta semana os jornais alemães publicaram vários artigos relacionados com o continente africano. A situação na Guiné-Bissau mereceu destaque, assim como a situação de emigrantes portugueses em Moçambique.

Themenbild Presseschau
PresseschauFoto: Fotolia

O jornal die tageszeitung, editado em Berlim, publica um vasto artigo sobre a situação na Guiné-Bissau. O autor da peça mostra-se bastante otimista quanto ao regresso daquele país membro da CPLP à legalidade constitucional:

Os militares que fizeram o golpe de 12 de Abril desistiram do poder. O presidente de transição Manuel Serifo Nhamadjo, que assumiu o cargo por imposição da CEDEAO, acaba de formar um governo, que deverá conduzir o país a eleições livres dentro de - o mais tardar - um ano. Agora os militares regressarão aos quarteis", refere o jornal die tageszeitung, e explica: "Os militares guineenses fizeram o golpe porque não concordavam com a presença no país de uma missão de conselheiros militares angolanos, alegadamente incumbidos de apoiar reformas nas estruturas militares do país. Ora o acordo assinado com a mediação da CEDEAO prevê a retirada dos 600 angolanos. Em troca, os golpistas guineenses acederam prescindir do poder político."

Novo governo guineense promete combater criminalidade económica

No mesmo artigo o jornal alemão descreve os objetivos da nova chefia guineense, mas deixa trasparecer algum ceticismo, quanto às possibilidades de atingir esses mesmos objetivos: "O presidente Nhamadjo anunciou que iria combater a corrupção e sanear as finanças públicas. Os salários dos ministros vão ser reduzidos a metade. Os membros do governo deixarão de poder - ao mesmo tempo - gerir empresas privadas, e serão obrigados a divulgar o montante do seu património, antes e depois de assumirem altos cargos públicos. O presidente interino anunciou ainda a formação de uma comissão de inquérito à criminalidade económica. Niguém sabe, no entanto, se essas medidas anunciadas vão - de facto - ser postas em prática" - fim de citação do artigo do die tageszeitung, assinado por Dominic Johnson.

"A Guiné-Bissau vai regressar à legalidade constitucional", refere o jornal alemão "die tageszeitung". Na foto: campanha eleitoral em Bissau, 16.03.2012Foto: DW / de Gouveia

120 mil portugueses em Maputo


O Frankfurter Allgemeine Zeitung, de Frankfurt, debruça-se sobre um tema, que não é novo, mas parece ter sido descoberto recentemente pela imprensa alemã: A exportação de mão de obra qualificada da Europa, e sobretudo, de Portugal, para alguns países africanos. O jornalista Thomas Scheen, correspondente na África Austral, fez uma reportagem em Maputo, capital de Moçambique, onde segundo o jornal, vivem atualmente cerca de 120 mil cidadãos portugueses:

"Em Moçambique (foto: vista de Maputo) vivem 120mil portugueses", diz o Frankfurter Allgemeine Zeitung.Foto: picture-alliance/dpa

" Antes eram os moçambicanos e angolanos que fugiam das guerras, que assolavam os seus paises, para Portugal. Hoje são os portugueses que fogem para Angola e Moçambique, não de guerras, mas sim do desemprego e da crise do euro." O jornal alemão apresenta Moçambique como país com potencial económico e que pode oferecer boas oportunidades de emprego: "Hoje Moçambique regista um notável crescimento económico", escreve o FAZ. "Nos últimos anos tem crescido 6 por cento ao ano, para este ano espera-se mesmo 11 por cento. O Metical valorizou 19 por cento em relação ao dólar, em apenas um ano. Ao mesmo tempo a inflação diminuiu de 16,5 por cento para 8 por cento. Moçambique abre o seu espaço a investimentos nas áreas da indústria agrária e do turismo, que é um setor muito promissor, tendo em conta as belas, virgens e imensas praias. Para além disso", refere o jornal, "Moçambique é um país rico em recursos naturais, com detaque para o carvão, madeiras, bauxite, ouro e diamantes."

O regresso dos colonos

O Frankfurter Allgemeine Zeitung lembra que muitos cidadãos portugueses chegam a Moçambique com ilusões e sonhos, que por vezes não se concretizam. Segundo se refere no mesmo artigo, alguns portugueses não são bem recebidos em Moçambique. porque os moçambicanos temem a concorrência no mercado de trabalho: "Não existem tantas vagas e algumas até podiam ser ocupadas por moçambicanos, que continuam, em grande parte, a viver na miséria: a esperança média de vida em Moçambique é uma das mais baixas do mundo e ronda apenas os 48 anos." O jornal conclui o vasto artigo intitulado "o regresso dos colonialistas" citando um cidadão português, residente em Maputo, de nome Pedro Santos, que terá proferido as seguintes palavras: "Nem todos gostam da nossa presença. Não trazemos muito dinheiro como os brasileiros ou os sul-africanos. Estamos aqui à procura de trabalho, e quem está nessa condição não ganha muitos amigos em Moçambique."

África precisa de gerir melhor os recursos naturais

O jornal Die Welt publica uma entrevista com o presidente da agência "One" que faz "lobbying" para organizações internacionais de apoio ao desenvolvimento. O titulo da entrevista é o seguinte: "Em condições normais, África não precisaria do nosso dinheiro." E Michael Elliott, que é também jornalista e editor da revista Time international, explica: "A África subsaariana ganha muito mais dinheiro com a exportação de matérias primas, do que recebe em apoio ao desenvolvimento dos países industrializados. Se esse dinheiro fosse bem aplicado, todo o continente - isto é, todas as pessoas - poderiam beneficiar. Mas para isso seria necessário que as empresas envolvidas nos negócios das matérias primas divulgassem para onde vai o dinheiro. Há que acabar com este sistema, em que - muitas das vezes - os recursos naturais se transformam em maldição. Há que forçar os governos a introduzir mais transparência nos negócios com as matérias primas." Palavras do jornalista Michael Ellitott, em entrevista ao jornal alemão die Welt.

"Em condições normais África não precisaria de apoio monetário", diz Michael Elliott, em entrevista ao jornal "Die Welt"Foto: Fotolia

Autor: António Cascais
Edição: António Rocha

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