Imprensa alemã destaca os que medem força em África
22 de junho de 2012 A praça Tahrir voltou a encher esta semana. "Desta vez", assim escreveu o Berliner Zeitung esta sexta-feira, "foram os adeptos da Irmandade Muçulmana" que ocuparam a praça no centro da capital egípcia. "Vamos ficar aqui até que saiam os resultados das eleições [presidenciais], até que o poder seja entregue a um presidente civil e a adenda à Constituição seja retirada", disse um egípcio citado pelo jornal de Berlim.
No passado fim de semana, os egípcios foram às urnas para eleger o seu novo presidente. Mohammed Mursi, da Irmandade Muçulmana, e Ahmed Shafik, último primeiro ministro da era Mubarak, o chefe de Estado deposto em 2011, disputaram a corrida ao mais alto cargo do país. O resultado do escrutínio deveria já ter sido anunciado esta quinta-feira, mas a Comissão Eleitoral acabou por adiar o anúncio. Entretanto, ambos os candidatos reclamam vitória. E a tensão volta a subir no país.
Segundo o Frankfurter Allgemeine Zeitung, a Irmandade Muçulmana, de Mursi, "ameaçou com mais protestos caso Shafik venha a ser declarado vencedor do escrutínio". Um porta-voz dos islamitas, citado pelo diário de Frankfurt, fez saber que "tal decisão levará a uma confrontação entre o povo e o exército".
O sucessor de Hosni Mubarak deverá tomar posse no próximo dia 30 de junho. Entretanto, o antigo presidente luta contra a morte. Depois de sofrer um ataque cardíaco, Mubarak foi transferido da prisão para o hospital militar de Maadi, onde se encontra em estado de coma. Depois de circularem notícias sobre uma morte clínica do ex-presidente, e depois de estas serem desmentidas, "o país especula [agora] sobre o seu verdadeiro estado de saúde", escreveu o Süddeutsche Zeitung de Munique.
Olho por olho
„Olho por olho, dente por dente". Assim intitula o tageszeitung o seu artigo desta quinta-feira sobre a situação na Nigéria. "Desde os mais recentes ataques islamistas, a violência entre cristãos e muçulmanos fez 80 mortos. O foco é a metrópole multicultural Kaduna". Na capital do estado com o mesmo nome, "ninguém sai de casa". Isto, porque o governador voltou a decretar um recolher obrigatório de 24 horas. O objetivo: trazer tranquilidade à região, no norte do país, "depois dos confrontos que vieram na sequência dos ataques, no domingo passado, da milícia islamista Boko Haram contra três igrejas na capital Kaduna e na cidade universitária de Zaria". Em três dias terão morrido mais de 40 pessoas.
Os bairros de Kaduna, onde cristãos e muçulmanos vivem lado a lado, são envolvidos pelo medo de nova violência. Como escreveu o Stern, na sua edição online de quinta-feira, "os números económicos positivos pouco dizem sobre o destino da população. E a Nigéria é o melhor exemplo." Isto, porque, segundo o Stern, há crescimento [económico], mas não um verdadeiro desenvolvimento: "112 milhões dos 160 milhões de nigerianos continuam a viver em pobreza absoluta com menos de um dólar por dia". No país, contudo, não são apenas questões económicas que, de acordo com a publicação, "não fazem sentido": também em termos políticos, o país vive um crise provocada pela "onda de terrorismo espalhada pelo Boko Haram".
Na mira: o marfim africano
O Frankfurter Allgemeine Zeitung enumerou os factos: nos últimos três meses, mais de 320 agentes de polícia, alfândegas e segurança prenderam 200 criminosos e apreenderam duas toneladas de marfim ilegal. A Organização Internacional de Polícia Criminal Interpol fez rusgas e controlos nas ruas, nas fronteiras, em mercados, portos e lojas de catorze países – entre eles, a Etiópia, o Botsuana, o Gana, o Quénia, a Libéria e a África do Sul.
A "Operation Worthy", que, em português, significa algo como "Operação Digna", foi a maior do género em África: "numa ação sem igual, a Interpol teve o marfim africano na mira", escreveu esta semana o Frankfurter Allgemeine Zeitung. A ação não tinha precedentes "no que toca ao número de apreensões e detenções". Mas este foi também "o maior golpe contra as organizações criminosas, que fazem milhões com a morte de animais selvagens e a destruição dos seus habitats".
De acordo com o tageszeitung, em África, o número de elefantes mortos pelas suas presas – a massa dos dentes – de marfim, aumentou de forma dramática nos últimos três anos: "já em 2009, 35 toneladas de marfim foram apreendidas, em 2011 foram pelo menos 56". Em 2012, um total de "38.000 elefantes poderão vir a morrer".
Autora: Marta Barroso
Edição: António Rocha