Imprensa alemã insiste em soluções alternativas para o clima em Durban
2 de dezembro de 2011 "Esqueçam Durban", titula o semanário alemão Die Zeit na capa do jornal distribuído na quinta-feira (01.12), sobre a Conferência do Clima das Nações Unidas que começou em 28.11 e se estende até 09.12 na cidade sul-africana.
O tom do artigo de Stefan Schmitt é de um otimismo cauteloso, em meio a dúvidas e expetativas pouco alentadoras sobre o sucesso da reunião que visa encontrar soluções para o segundo período de compromisso do Protocolo de Kyoto, único acordo internacional que obriga países desenvolvidos a cumprirem metas de redução de emissões de poluentes.
Atrativos econômicos do clima
O jornalista lamenta que a limitação do aquecimento global a 2ºC tenha perdido o significado político, em detrimento de prioridades econômicas. "É insuportável ver como uma crise mundial artificial nos impede de solucionar um problema natural, de cunho global".
Mas o jornalista do Die Zeit pondera que a lição a tirar da conferência em Durban após o "assustador ano de 2011" é que, independentemente de crises financeiras, o problema climático "sempre sairá do centro da nossa atenção".
"Além disso", escreve, "medidas contra o aquecimento global precisam ser robustas. Precisam funcionar não só em momentos de boa conjuntura política. Precisamos de uma proteção do clima que ande com as próprias pernas – especialmente em tempos difíceis".
Para Schmitt, a forma de evitar um drástico aquecimento global não passa por uma diplomacia climática mundial "burocrática" – mas sim por laboratórios de ideias no mundo todo.
"O mundo precisa urgentemente de inventores, de pessoas que gostam de experimentar, em suma, de curiosos – porque a ideia de um outro amanhã não precisa ser utópica e altruísta. Bastaria transformar a economia de energia em algo atrativo, ou transformar as energias solar e eólica em algo com capacidade de concorrência – tudo para que uma mudança de sistema também se torne um objetivo a ser alcançado também sem o aquecimento global. A base seria o egoísmo de curto prazo", afirma Schmitt.
Também o jornal suíço em língua alemã Neue Zürcher Zeitung diz em artigo opinativo de Giorgio V. Müller que "a política do clima precisa de mais mercado". "Colocando um preço mais alto nos combustíveis fósseis, dá-se vantagens às energias renováveis e à economia de energia. Mas isso só funciona se o preço do dióxido de carbono for tão caro que uma virada – no consumo e no investimento de energia – valha a pena", diz o texto. "Ainda não chegamos lá. Apenas quando a política climática puder desenvolver completamente os próprios atrativos econômicos, a mudança de comportamento poderá ser realizada".
Africana em Haia fará bem ao TPI, diz jornal
O Süddeutsche Zeitung, com sede em Munique (sul da Alemanha), publicou um perfil da nova promotora geral do Tribunal Penal Internacional (TPI), a gambiana Fatou Bensouda. Ela deverá substituir o argentino Luis Moreno-Ocampo, cujo mandato expira em 2012 e que colecionou diversas críticas por ser considerado muito autocrático e "em busca de holofotes".
"De qualquer forma, ao sul do Saara, a resistência ao tribunal de Haia (Holanda) é grande, também porque muitos não entendem porque, até agora, Ocampo só acusou africanos. Alguns interpretam a corte como um instrumento neocolonial pérfido cujo único objetivo é colocar a África no pelourinho", diz o artigo.
De acordo com o Süddeutsche Zeitung, a nova procuradora geral do TPI contestou com veemência esta posição quando foi representante de Ocampo (desde 2005). O futuro, segundo Fatou Bensouda, mostrará que o TPI não vai se concentrar apenas em africanos. Mas "é verdade que as situações mais difíceis ocorrem no continente africano", escreve o jornal, citando a jurista de 50 anos, considerada convincente, precisa e firme em suas aparições diante de tribunais.
"Ao mesmo tempo, é mais modesta que Ocampo e aposta no trabalho em equipe", diz o artigo, citando fonte do TPI. "Os especialistas esperam mais substância e menos espetáculo de Fatou Bensouda", escreve o diário Der Tagesspiegel.
Fatou Bensouda deverá continuar dando atenção aos dossiês africanos, mas não só. "Aparentemente, o TPI precisa de Bensouda para restabelecer as relações não muito boas com o mundo africano", diz o Süddeutsche Zeitung. Nos últimos anos, Bensouda manteve contato com a União Africana. Possui mais prestígio que o antecessor no órgão panafricano", escreve o Tagesspiegel.
Nos próximos tempos, porém, o TPI deverá se concentrar em casos como o da Líbia, do Quênia e da Costa do Marfim, cujo ex-presidente Laurent Gbagbo foi transferido esta semana a Haia.
Julgamento controverso
Os apoiantes de Laurent Gbagbo temem o novo presidente marfinense, Alassane Ouattara, cuja vitória nas eleições presidenciais de um ano atrás foi reconhecida pela comunidade internacional, mas não foi aceita por Gbagbo. A resistência desencadeou violências que resultaram na morte de mais de 3 mil pessoas. A afirmação é do artigo publicado no Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ). "Para os pró-Gbagbo, parece justiça em favor do vitorioso", diz o jornal.
O FAZ descreve a transferência de Gbagbo ao TPI, em Haia, como um "fim infame para o homem que lutou pela introdução de um sistema multipartidário, contestou o ditador Félix Houphouët-Boigny e se tornou presidente após quatro anos no exílio". O jornal lembra a prisão de Gbagbo, de 66 anos, em abril deste ano, e que ele seria cúmplice indireto de diversos assassinatos, estupros, prisões arbitrárias e outros "atos desumanos" perpetrados por suas milícias.
Porém, o jornal afirma que Gbagbo "pode ser responsabilizado por muitas coisas, mas não por tudo". O diário lembra igualmente que a Cruz Vermelha Internacional, por exemplo, acusou tanto o lado de Gbagbo quanto o de Alassane Ouattara de terem cometido atrocidades durante os meses de conflitos pós-eleitorais na Costa do Marfim.
"A transferência de Gbagbo a Haia poderia aprofundar ainda mais as fissuras na Costa do Marfim. Afinal, os resultados da eleição presidencial de novembro de 2010, reconhecidos pela comunidade internacional, dão 47% dos votos a Laurent Gbagbo", escreve o FAZ. "Para esses eleitores, a violenta tomada de posse de Ouattara, com apoio do exército francês, tem o efeito de uma segunda colonização". O jornal lembra ainda que as eleições legislativas previstas para 11.12 serão boicotadas pelos partidos próximos a Gbagbo – o que dá a Ouattara um problema de legitimidade. "Como ele pode falar por todos os marfinenses, se metade boicotar o escrutínio?", indaga o FAZ.
A escolha existe – mas com pouca esperança
Com dez candidatos além do presidente cessante Joseph Kabila, o diário Der Tagesspiegel escreve que as eleições decorridas na República Democrática do Congo na última segunda-feira (28.11) dão a escolha aos eleitores, apesar de "tudo indicar que Joseph Kabila continuará presidente".
Mas "ninguém espera de Kabila que haja maiores progressos" no país, diz o Tagesspiegel. "O exército do país é praticamente incontrolável – diferentemente de Moçambique, onde o novo governo (da FRELIMO), após a paz com os rebeldes (nos anos 1970), determinou que os soldados voltassem às casernas, integrando-os na vida civil. A RDC perdeu essa oportunidade – o que faz com que a situação continue confusa em várias partes do país, especialmente no leste. A reeleição de Kabila só será reconhecida internacionalmente porque é provável que garanta um mínimo de estabilidade", afirma o artigo.
Autora: Renate Krieger
Edição: António Rocha