Imprensa alemã sobre estreias em África
16 de março de 2012O governo nigeriano iniciou conversações com a seita radical islâmica Boko Haram. Ambas as partes trocaram esta semana primeiras mensagens através de negociadores. Falou-se na possibilidade de cessar-fogo, mas, por parte do grupo radical, sob uma condição: a libertação de todos os seus membros da prisão – uma exigência inaceitável para o governo.
Ainda na manhã do passado domingo, dia 11, a cidade de Maiduguri foi novamente alvo de ataques. "Por momentos," escreveu o Berliner Zeitung, a rua principal da "cidade mais mortífera de África" [...] "ficou em silêncio depois dos tiros".
Segundo o jornal da capital alemã, é assim o dia a dia em Maiduguri: "Eles matam, incendeiam e bombardeiam – vivem no seio da sociedade, mas ninguém os quer denunciar. O medo é demasiado grande". De facto, já na semana passada, foram imagens destas que passaram do estado de Borno, no norte da Nigéria, onde se situa Maiduguri.
A edição alemã do jornal económico Financial Times é radical: a "seita assassina está a atirar a Nigéria para a guerra". Quase todos os dias há ataques levados a cabo pelo Boko Haram no país, ataques que são cada vez mais brutais.
Em finais de janeiro, na mega-cidade de Kano, também no norte da Nigéria, violentas explosões destruíram esquadras da polícia, casas e carros. Morreram mais de 180 pessoas. No último Natal, a seita também já tinha organizado um ataque contra uma igreja que causouconsternação entre a comunidadeinternacional.
Como lembra o Süddeutsche Zeitung, em 2011, um atentado suicida destruiu ainda o edifício da ONU na capital Abuja. "O objetivo era chamar a atenção do mundo para o Boko Haram."
Thomas Lubanga: o primeiro condenado pelo TPI
Esta semana, o Tribunal Penal Internacional (TPI) condenou o ex-líder rebelde congolês Thomas Lubanga por crimes de guerra. O tablóide alemão Bild descreve-o como "um dos líderes militares mais cruéis do nosso tempo". O Bild informa ainda que "terá mesmo havido casos de civis que terão sido obrigados a cavar a sua própria sepultura antes de serem fuzilados".
A decisão do TPI em Haia, na Holanda, é vista como decisiva: se, por um lado, este foi o primeiro veredicto da instância jurídica desde a sua fundação, há dez anos atrás, por outro, a condenação de Lubanga é especialmente importante para a população da província de Ituri, no nordeste da República Democrática do Congo. Segundo organizações humanitárias, foi nesta a região – que viveu, entre 1999 e 2003, um conflito civil que custou a vida a cerca de 60 mil pessoas – que o rebelde recrutou centenas de crianças-soldado. E foi por esta acusação que ele foi considerado culpado.
As contas mencionadas na edição online do Die Zeit apontam para "um total de 204 audições e 67 testemunhas" neste processo que foi iniciado em janeiro de 2009. O semanário cita também a Amnistia Internacional que diz que com a condenação de Lubanga, o governo congolês deveria "lutar contra a impunidade no seio do seu próprio exército e parar de proteger senhores de guerra que mobilizam crianças-soldado".
Além disso, a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, citada pelo Frankfurter Allgemeine Zeitung, fez já saber que a sentença é também um "sinal poderoso" dirigido a todos aqueles que recrutam crianças-soldado.
Será Joseph Kony o segundo?
"80 milhões de pessoas procuram um assassino em massa" assim resumiu a edição de domingo do Welt o efeito viral da campanha "Kony 2012" da organização não governamental Invisible Children. O vídeo posto à disposição na internet é um apelo à procura e detenção do senhor de guerra ugandês, Joseph Kony. O sucesso foi enorme: ao fim de apenas alguns dias, a campanha constava já entre "os exemplos mais impressionantes de como os meios de comunicação sociais como a rede Facebook mudaram o ativismo político".
O nome de Joseph Kony está no topo da lista de pessoas procuradas pelo Tribunal Penal Internacional. O guerrilheiro é acusado de ter "ordenado assassinatos, violações e mutilações em massa em saques de aldeias inteiras", segundo o Welt.
Mas a crítica ao filme também já se fez sentir: de acordo com a imprensa ugandesa, citada pelo Welt, o filme "simplifica as implicações do conflito" e "não menciona que a milícia de Kony", o Exército de Resistência do Senhor, na sigla em inglês: LRA, "é composta, atualmente, por algumas centenas de apoiantes". Também "não fica claro que o próprio líder do LRA fugiu do Uganda há pelo menos seis anos". Pensa-se que Kony se encontrará no Sudão do Sul, na República Centro-Africana ou no leste da República Democrática do Congo.
Contudo, escreve o Süddeutsche Zeitung, os "políticos são populistas" e, portanto, "seguem o que emociona o povo" – "se agora todos começarem a falar sobre Kony, tal não passará despercebido aos líderes mundiais". É por isso que a estrela de cinema George Clooney diz no filme: "Eu quero que Kony se torne tão famoso como eu".
Autora: Marta Barroso
Edição: Renate Krieger