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MédiaAngola

Imprensa privada angolana em perigo?

28 de dezembro de 2023

Há uma intenção em tomar o Novo Jornal para que passe a ser do Estado, acusa o diretor do maior órgão privado angolano, que foi invadido por 40 indivíduos. Sindicato dos Jornalistas teme pela independência do órgão.

Na passada sexta-feira (22.12), a sede do Novo Jornal, que funciona há 15 anos, foi invadida por cerca de 40 indivíduos
Foto: Borralho Ndomba

Armindo Laureano, diretor do Novo Jornal de Angola, considera a invasão às instalações do semanário generalista angolano como uma tentativa de "calar a voz independente". Na passada sexta-feira (22.12), a sede do jornal, que funciona há 15 anos, foi invadida por cerca de 40 indivíduos por alegadas ordens judiciais.

"Foram 40 indivíduos, a mando do senhor Álvaro Sobrinho, que inventou uma ação judicial e reivindica a titularidade do Novo Jornal. Não contente com esta ação, essa previdência cautelar, surgiram 40 indivíduos de forma musculada", conta em entrevista à DW.

"O que houve aqui foi uma intimidação a jornalistas, que foram impedidos de exercer livremente o seu ofício. Invadir a redação de um órgão de comunicação social é algo que merece toda a condenação e repúdio", sublinha o jornalista.

Álvaro Sobrinho e Emanuel Madaleno, a quem se atribui a propriedade do Grupo Nova Vaga, que detém o jornal económico Expansão e o generalista Novo Jornal, estão em litígio judicial e uma sentença do Tribunal Provincial de Luanda terá motivado a "invasão" das instalações daquela publicação privada.

Segundo Armindo Laureano, os indivíduos queriam levar os computadores e servidores do jornal privado. Para o jornalista angolano, o ataque ao Novo Jornal é um ataque à liberdade de imprensa. "O foco é esta questão do ataque à liberdade de expressão e de imprensa, porque em pleno Século XXI não se pode atacar de forma tão leviana, tão vil, irresponsável e de forma tão abusiva o Jornalismo e também aos jornalistas."

Armindo Laureano, jornalista e diretor do Novo JornalFoto: Privat

"O nosso poder está na liberdade"

Armindo Laureano diz que a referida ação se traduz igualmente num "ataque à credibilidade do órgão e do seu diretor. "O nosso poder está na liberdade que temos. O que nós percebemos é que voltou, tal como houve no passado, quando o regime no poder tomou alguns órgãos de comunicação social, parece que há um cerco outra vez. A intenção é apropriar-se do Novo Jornal e entregá-lo a estruturas no poder", acusa.

Laureano denuncia que, em 2017, foi abordado neste sentido de se associar ao grupo de Álvaro Sobrinho para que o Novo Jornal passasse para as mãos do Estado. "Em 2017, quando o Presidente João Lourenço tomou o poder, disse que teria uma maior abertura aos órgãos de comunicação social e mais liberdades, mas na prática fez o contrário, tomou uma série de órgãos", relata.

"O que acontece hoje é que o Estado tem o monopólio da comunicação social, tirando um pequeno grupo. Daí esta campanha de criar uma narrativa de associação política do Novo Jornal à UNITA. Isto é um retrocesso muito grande em Angola", lamenta o jornalista.

Até hoje o jornal continua a funcionar, mas com segurança reforçada nas instalações. O diretor teme pelo futuro do órgão e dos jornalistas: "É uma campanha para asfixiar os jovens. A ideia é condicioná-los, reformá-los, atacar a sua credibilidade. Isto é um perigo, até para a integridade dos jornalistas que se sentem ameaçados. Eles veem o nosso jornalismo livre, independente e plural como algo que lhes ameaça. Por isso, querem tomar conta de tudo aquilo que não controlam."

Teixeira Cândido, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas AngolanosFoto: Borralho Ndomba/DW

Como manter a independência?

O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) manifesta-se "preocupado" com o ambiente de trabalho a que estão sujeitos os jornalistas do Novo Jornal, na sequência do diferendo judicial sobre a titularidade do órgão.

"A nossa principal preocupação nesta altura é salvaguardar que o jornal consiga manter a sua independência e as suas liberdades. O atual ambiente não permite exatamente que os jornalistas tenham tranquilidade para poder exercer com liberdade a independência que se põe, o que nos preocupa", disse à DW África Teixeira Cândido, secretário-geral do SJA.

Questionado se a atual situação poderá comprometer a linha editorial do Novo Jornal, o líder sindical da classe jornalística angolana diz que existe esse receio: "A independência pode ficar gravemente prejudicada. O Novo Jornal é hoje um dos jornais de referência e um dos poucos jornais existentes impressos."

"O nosso contexto hoje tem apenas dois jornais privados: o Novo Jornal e o Expansão, que pertencem até à prova contrária, até o tribunal decidir à mesma entidade. Se o Novo Jornal ficar afetado é óbvio que o país vai regredir, vai quase deixar de ter jornais privados", conclui Teixeira Cândido.

A luta diária do jornalismo independente em Angola

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