Fontes próximas do Governo de Pretória afirmam que será concedida imunidade diplomática à primeira-dama do Zimbabué. Contra Grace Mugabe foi levantada queixa por agressão física em Joanesburgo.
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Grace Mugabe, mulher do Presidente zimbabueano Robert Mugabe, é acusada de agredir, no domingo, 13 de agosto, uma sul-africana de 20 anos que se encontrava num quarto de hotel em Joanesburgo com dois amigos para se encontrar com um dos filhos daquela que é considerada uma potencial sucessora de Mugabe na Presidência. Harare apressou-se a pedir imunidade diplomática. Os especialistas consideram que a primeira-dama não tem esse estatuto e deve ser detida. Mas fontes em Pretória prevêm que lhe será concedida a imunidade diplomática, para evitar uma crise diplomática entre os dois países aliados tradicionais.
O Presidente nonagenário Robert Mugabe deslocou-se apressadamente ao país vizinho, dois dias antes de uma cimeira dos dirigentes da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). A viagem foi antecipada numa aparente tentativa de atenuar a tensão diplomática causada por Grace Mugabe e resolver o problema que a mulher enfrenta na Justiça sul-africana.
Golpes e ferimentos
A alegada vítima, Gabriella Engels, apresentou queixa contra a primeira-dama do Zimbabué por golpes e ferimentos. A mãe, Debbie, exige que Grace Mugabe seja julgada: "Estou furiosa. Se pudesse fazer algo fisicamente para resolver esta confusão, faria. Deixo o caso nas mãos da polícia."
A polícia afirma que a investigação foi concluída e aguarda apenas instruções do Governo. As autoridades sul-africanas ainda estão a debater a questão da concessão da imunidade diplomática a Grace Mugabe, uma vez que ainda não está claro de que forma é que a primeira-dama entrou no país. Segundo a imprensa sul-africana, Grace Mugabe estaria na África do Sul para tratamento médico.
Procurada pela polícia
Na quarta-feira, o ministro da Polícia sul-africana, Fikile Mbalula, anunciou que foi emitido "um alerta vermelho": todas as fronteiras foram notificadas para impedir que Grace Mugabe saia do país até que a acusação de agressão esteja resolvida.
Imunidade provável para Grace Mugabe
A Aliança Democrática, partido da oposição sul-africana, já instou o Presidente Jacob Zuma a garantir que Mugabe seja levada à Justiça. Stevens Mokgalapa, responsável pelas Relações Internacionais do partido, considera que a primeira-dama não tem direito a imunidade: "Ela entrou com um passaporte normal, não com um passaporte diplomático. Ou seja, ela não tem qualquer estatuto diplomático. Deveria ter sido acusada e detida pela polícia. A polícia não lidou corretamente com o caso e, agora, tornou-se uma crise diplomática."
Entretanto, o advogado da alegada vítima da mulher do Presidente do Zimbabué anunciou que Gabriella Engels recebeu uma proposta de pagamento em dinheiro para "arquivar o caso". Segundo Gerrie Nel, não foi avançado um montante. A família rejeitou a proposta.
Imunidade e impunidade
Gabriella Engels está a ser defendida por uma estrela dos tribunais sul-africanos: Gerrie Nel tornou-se mundialmente conhecido no âmbito do caso Oscar Pistorius. Na altura, na qualidade de procurador do Ministério Público, obteve em 2015 a condenação por homicídio do campeão paralímpico. Agora, trabalha com o AfriForum, uma organização não-governamental de defesa dos direitos humanos.
Com Robert Mugabe no país vizinho para resolver o problema da mulher, muitos consideram que a primeira-dama do Zimbabué vai conseguir regressar a casa livre de acusações. Mas o AfriForum promete lutar pelo julgamento de Grace Mugabe até às últimas instâncias judiciais.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.