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IndieLisboa sem presença dos PALOP este ano

João Carlos (Lisboa)29 de abril de 2014

Decorre até domingo (04.05) em Lisboa o Festival Internacional de Cinema Independente, IndieLisboa. Entre os jovens lusófonos, referência a Inês Alves, que coloca em tela memórias de Moçambique do tempo colonial.

Foto: IckeT/Fotolia.com

Ainda que com uma fraca participação, África está dignamente representada nesta edição do IndieLisboa, com alguns filmes de mérito.

“Mille Soleils”, de Mati Diop, já exibido na quinta-feira (24.04) e neste último domingo (27.04) na competição internacional, é um híbrido entre a ficção e o documentário, que conta a maravilhosa história por detrás do filme de culto senegalês Touki Bouki, realizado pelo tio da autora.

Outra das produções, por exemplo, personaliza no cantor e compositor nigeriano, Fela Kuti, o movimento musical africano dos anos 70 e 80.

Outra ainda mostra cenas dos bairros mais pobres do Cairo, no Egipto, onde os jovens dançam ao som do Eletro chaabi, um novo género musical que combina música árabe, batida eletrónica e freestyle, cantando ao estilo do rap.

No conjunto dos 226 filmes nacionais e internacionais selecionados, entre curtas e longas metragens, são poucos os títulos de realizadores africanos.

Só Portugal com um cheiro a PALOP

No que se refere a África, o destaque foi para um filme senegalêsFoto: Fotolia/morganimation

A presença a África lusófona é praticamente nula, confirma Nuno Sena, um dos diretores do festival: "É verdade, este ano sentimos falta da África lusófona e não só."

Ainda na opinião de Sena, "essa fraca participação tem a ver, se calhar, com a fraca participação, se calhar mais fraca em termos de produção e se calhar é fraco se comprado com o ano anterior, que tivemos, por exemplo, a Batalha de Tatabatô, onde tivemos participações de produções luso-africanas, foi de facto um ano muito bom."

Ao lado de realizadores consagrados surge no festival um grupo de jovens talentos, dos quais alguns lusófonos que se inspiram em histórias forjadas em África.

É o caso de Joana Pimenta, que recupera a memória colonial em postais trocados, nos anos 60 e 70, entre a ilha da Madeira e Moçambique, na curta “As Figuras Gravadas na Faca pela Seiva das Bananeiras”.

De referir ainda outra portuguesa, Inês Alves, que, com poucos recursos, se estreia no cinema com a curta metragem “Uma Vida Mais Simples”. Segundo a realizadora "é a história dos meus avós, contada por eles, que nasceram e viveram em Moçambique e na África do Sul."

Homenagem aos avós

Operação militar portuguesa em Moçambique. A colonização marcou a presença portuguesa no paísFoto: casacomum.org/Arquivo Mário Soares

Inês Alves conta mais: "E durante a estadia deles o meu avô fez muitas filmagens numa câmara de 8 milímetros e resolvi mostrar-lhes porque eles já não as viam há muito tempo e fazer-lhes reviver as suas próprias memórias e contá-las."

Também em homenagem à avó, que esteve em África, e em defesa das festas de Nossa Senhora da Agonia, uma tradição de Viana do Castelo, no Norte de Portugal, Rui Esperança, inscrito na secção Novíssimos, realizou “Tudo Vai Sem Se Dizer”.

"O que sinto agora através da minha avó é o fade dessa cultura que está lentamente a desaparecer. O filme está dividido em três partes, uma parte passada nos dias de hoje e outra nos anos 50 e o terceiro, que é o tempo da memória."

Entretanto, Nuno Sena destaca alguns filmes portugueses de curta metragem, que estão selecionados para outros eventos mundiais, nomeadamente para a próxima edição do Festival de Cannes.

É difícil prever o futuro. No entanto, a organização admite que no próximo ano poderá ser revertida esta tendência de fraca participação de produções de e sobre África, graças a alguns projetos na forja de jovens protugueses e africanos.


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