Indignação e protestos continuam nas ruas da Líbia
Marco Wolter
5 de julho de 2022
As manifestações dos últimos dias na Líbia continuam a denunciar as condições de vida, cada vez mais difíceis devido a recorrentes cortes de energia, que chegam a durar 12 horas por dia. Até onde irão os protestos?
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Mergulhada num caos político e económico desde a queda do regime de Muhammar Kadhafi, em 2011, a Líbia continua dividida em dois campos, com um Parlamento em Tripoli, a capital, e outro em Tobruk, no leste do país.
O fracasso da última reunião patrocinada pela ONU em Genebra entre as duas partes foi a última gota de água num país à beira do colapso, como explica em entrevista à DW África Hasni Abidi, diretor do Centro de Estudos e Investigação Árabe e Mediterrânica (CERMAM) em Genebra, na Suíça.
DW África: Está surpreendido com estas manifestações? Até onde podem ir os protestos?
Hasni Abidi (HA): Os protestos na Líbia não são surpreendentes, as condições económicas e sociais estão a piorar a cada dia que passa. Há uma escassez, há quase uma política de pagamentos atrasados, ou seja, há menos liquidez. Os bancos líbios já não estão a funcionar normalmente. Já para não mencionar, claro, os cortes de eletricidade recentes na Líbia, devido ao bloqueio petrolífero.
Estamos a assistir ao início de uma Primavera líbia, mesmo que não da mesma forma. Mas podemos sentir que existe um sentimento generalizado de cansaço por parte de todos os líbios, quer no leste, a oeste ou no sul do país.
DW África: A população pode esperar conseguir algo através dos protestos de rua?
HA: Se a pressão da rua continuar, sim, podem obter alguns resultados. Pelo menos um acordo entre as novas e velhas figuras políticas. Cada parte quer recuperar e utilizar estas manifestações para se posicionar como sucessor e como solução para a crise líbia. Mas os líbios querem que todas estas figuras políticas saiam. O problema é que a sua partida exige a organização de eleições e é precisamente por causa da organização de eleições que há um impasse.
DW África: Realizar eleições a qualquer preço é parte dos esforços da comunidade internacional. Mas, entretanto, não se estão a esquecer de dar uma ajuda à economia, às exportações de hidrocarbonetos ou às infraestruturas que já não estão a funcionar?
HA: Sim, é verdade que é dada uma certa prioridade às eleições. A comunidade internacional calcula que só eleições serão capazes de tirar a Líbia deste impasse. E as condições económicas muito difíceis são consequência deste impasse político. Mas sabemos que há também a presença de milícias, militarização e interesses económicos que são problemáticos. Estar no poder na Líbia tornou-se uma forma de enriquecimento.
Dez líderes africanos que morreram em exercício
A população costuma acompanhar com atenção o estado de saúde dos altos dirigentes – muitos especulam atualmente, por exemplo, sobre a saúde do Presidentes da Nigéria. Vários chefes de Estado já morreram em exercício.
Foto: picture-alliance/dpa
John Magufuli, Presidente da Tanzânia
Morreu a 17 de março de 2021, doente. O seu estado de saúde, pouco antes da falecer, esteve em volto a muito secretismo. Assumiu a liderança do país em 2015 e boa parte do seu povo enaltece os seus feitos, tais como a melhoria dos sistemas de saúde, educação e transporte. Mas também foi contestado por algumas políticas duras e por perseguir os seus críticos.
Foto: Sadi Said//REUTERS
1) Malam Bacai Sanhá, Presidente da Guiné-Bissau (2012)
Malam Bacai Sanhá morreu em 2012. Ele sofria de diabetes e morreu em Paris, aos 64 anos, menos de três anos depois de chegar ao poder. Sanhá tinha vários problemas de saúde.
Foto: dapd
2) João Bernardo "Nino" Vieira, Presidente da Guiné-Bissau (2009)
João Bernardo "Nino" Vieira foi assassinado em março de 2009. Tinha 69 anos de idade. Esteve no poder durante mais de duas décadas. Tornou-se primeiro-ministro em 1978 e, em 1980, tomou a Presidência. Ficou no cargo até 1999, ano em que foi para o exílio. Regressou a Bissau em 2005 e venceu nesse ano as presidenciais.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
3) Mouammar Kadhafi, chefe de Estado da Líbia (2011)
Mouammar Kadhafi foi assassinado em 2011. Kadhafi, auto-intitulado líder da "Grande Revolução" da Líbia, foi morto por forças rebeldes em circunstâncias ainda por esclarecer. Estava no poder há 42 anos, desde um golpe de Estado contra a monarquia líbia em 1969, onde não houve derramamento de sangue. A sua liderança chegou ao fim com a chamada "Primavera Árabe".
Foto: Christophe Simon/AFP/Getty Images
4) Umaru Musa Yar'Adua, Presidente da Nigéria (2010)
Umaru Musa Yar'Adua morreu em 2010 aos 58 anos de idade. Morreu no seu país, vítima de uma inflamação do pericárdio – estava há apenas três anos no poder. Já durante a campanha eleitoral, Yar'Adua teve de se ausentar várias vezes devido a problemas de saúde. Depois de ser eleito, em 2007, a sua saúde deteriorou-se rapidamente.
Foto: P. U. Ekpei/AFP/Getty Images
5) Lansana Conté, Presidente da Guiné-Conacri (2008)
Após 24 anos no poder, Lansana Conté morreu de "doença prolongada" aos 74 anos de idade. O Presidente da Guiné-Conacri sofria de diabetes e de problemas cardíacos. Conté foi o segundo chefe de Estado do país, de abril de 1984 até à sua morte, em dezembro de 2008.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
6) John Atta Mills, Presidente do Gana (2012)
John Atta Mills morreu de apoplexia em 2012. Tinha 68 anos. Atta Mills esteve apenas três anos no poder. Enquanto chefe de Estado, introduziu uma série de reformas sociais e económicas que lhe granjearam fama a nível local e internacional.
Foto: AP
7) Meles Zenawi, primeiro-ministro da Etiópia (2012)
Meles Zenawi morreu na Bélgica aos 57 anos de idade, vítima de uma infeção não especificada. Zenawi liderou a Etiópia durante 21 anos – como Presidente, de 1991 a 1995, e como primeiro-ministro, de 1995 a 2012. Foi elogiado por introduzir o multipartidarismo, mas criticado por reprimir violentamente os protestos do povo Oromo no norte da Etiópia.
Foto: AP
8) Omar Bongo, Presidente do Gabão (2009)
Omar Bongo morreu em Barcelona, Espanha, em junho de 2009, vítima de cancro nos intestinos. Bongo estava no poder há 42 anos e morreu aos 72 anos de idade. Foi um dos líderes que esteve mais tempo no poder e um dos mais corruptos. Bongo acumulou uma riqueza imensa enquanto a maior parte da população vivia na pobreza, apesar de o país ter grandes receitas de petróleo.
Foto: AP
9) Michael Sata, Presidente da Zâmbia (2014)
Michael Sata morreu no Reino Unido aos 77 anos. A causa da morte não foi divulgada. Após a sua eleição em 2011, circularam rumores sobre o estado de saúde do Presidente. As suas ausências em eventos oficiais alimentaram ainda mais as especulações, apesar dos seus porta-vozes garantirem que estava tudo bem.
Foto: picture-alliance/dpa
10) Bingu wa Mutharika, Presidente do Malawi (2012)
Bingu wa Mutharika morreu em 2012. Teve um ataque cardíaco e faleceu dois dias depois, aos 78 anos de idade. Esteve oito anos no poder e ganhou gama internacional devido às suas políticas agrícolas e de alimentação. A sua reputação ficou manchada por uma onda de protestos por ter gasto 14 milhões de dólares num jato presidencial.