Um dos planos do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) é melhorar o fluxo de informação, para evitar mortes. A instituição garante que já está a desencadear campanhas de sensibilização nas zonas de risco.
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Nesta época chuvosa, que iniciou em outubro e se prolonga até março, Moçambique poderá enfrentar inundações urbanas, cheias, secas, vendavais e ciclones, segundo a previsão do Instituto Nacional de Meteorologia.
As intempéries poderão afetar mais de 1,6 milhões de pessoas, sobretudo no centro e sul do país.
O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) quer evitar a ocorrência de mortes como aconteceu em março com os ciclones Idai e Kenneth, que ceifaram a vida de mais de 600 pessoas. Por isso, já traçou vários planos. Um deles é a melhoria da gestão de informação a partir do nível central até às comunidades que estão nas zonas de risco.
"Temos um mecanismo de fluxo de informação e partilha de ações a serem desencadeadas a cada um dos níveis. Ao nível central, onde são emitidos os alertas, a informação irá para as províncias, distritos e localidades", afirma Paulo Tomás, porta-voz do INGC, em entrevista à DW África.
Tomás garante que as populações das referidas zonas já têm informação suficiente para se prevenir das intempéries.
Trabalho coordenado para evitar regresso às zonas de risco
Outro plano do INGC, que é aliás a grande preocupação, é a retirada da população que reiteradamente volta às zonas de risco, no inverno. Esta operação acarreta muito dinheiro e, para evitar gastos e o retorno dos populares, o INGC está a fazer um trabalho de sensibilização da população, em coordenação com as autoridades administrativas locais.
"Acreditamos que é um desafio multisetorial", afirma Tomás.
INGC diz-se preparado para enfrentar intempéries
Ordenamento territorial como solução
A Direção Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos também reconhece a dificuldade em lidar com a população, que regressa às zonas de risco. Mas Messias Macie, diretor da instituição, diz que a solução está no ordenamento territorial e não só.
Macie destaca igualmente o trabalho coordenado entre as instituições para "garantir que, uma vez as pessoas retiradas dos locais de risco, elas não voltem para essas mesmas zonas".
A Direção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos já identificou as 17 bacias hidrográficas propensas à ocorrência de cheias. A mais problemática é a do Licungo, na província da Zambézia. Nesta região, a entidade aponta a gestão de informação como uma forma de evitar males maiores.
"Usamos os principais meios de comunicação social, as redes sociais e os comités de risco de desastres naturais. Usamos ainda as rádios comunitárias, que são veículos que estão muito próximos das comunidades", frisa Messias Macie.
Vítimas do ciclone Idai na Zambézia: A vida renasce no centro de reassentamento
No centro de reassentamento de Dugudiua, na província central da Zambézia, os desalojados refazem a vida. Constroem as suas próprias casas com o material distribuído pelo INGC. Até uma escola está a ser edificada.
Foto: DW/M. Mueia
A escola ficou mais longe
As crianças do centro de reassentamento de Dugudiua, na província central da Zambézia, ficaram sem escola na sequência do ciclone Idai. Algumas tiveram de se mudar para casas de familiares que vivem próximo da estrada, para ficarem mais perto da escola mais próxima. Mesmo assim percorrem longas distâncias para lá chegarem.
Foto: DW/M. Mueia
Faltam terrenos
O régulo ″Dugudiua” pede ajuda para a população reassentada. A maioria das famílias não tem casa e nem terreno. Os terrenos distribuídos pelas autoridades não são suficientes para as mais de 200 famílias carenciadas.
Foto: DW/M. Mueia
Terrenos agrícolas para habitação
A falta de terrenos para a habitação está a obrigar os desalojados a ocuparem alguns campos destinados a agricultura. Estão a ser ocupados de forma provisória, porque em breve as famílias serão retiradas do espaço, segundo relatam as vítimas das enchentes.
Foto: DW/M. Mueia
Já há mercado, mas...
Um comerciante convidou alguns amigos a instalar um pequeno mercado no centro de acomodação das vítimas das cheias no distrito de Nicoadala em Dugudiua. Madjembe, pende, e camarão, são os alimentos preferidos pelas famílias. Devido à falta de peixe fresco e dinheiro alguns fazem as refeições sem caril, o molho indispensável nas refeições de muitos moçambicanos. As verduras são a principal opção.
Foto: DW/M. Mueia
Lonas como cobertura
Nesta casa vivem sete pessoas, marido, mulher e filhos. Devido à falta de material para cobrir o teto as famílias recorrem a lonas ou coberturas plásticas oferecidas pelo
governo provincial da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
Desalojados constroem escola
Um grupo de pais organizou-se para construir esta escola que vai lecionar da 1ª a 7ª
classe, porque desde fevereiro os filhos não estudam por falta de escola. A região onde se situa o centro de reassentamento, em Dugudiua, a escola terá apenas uma sala para as sete classes. A construção iniciou segunda feira (13.05.) e prevê-se que termine este final de semana.
Foto: DW/M. Mueia
Casa - modelo
As imensas dificuldades para aquisição de material de construção obrigam os desalojados a optarem pela construção de casas deste modelo, feita de paus e lonas. É a única forma de garantirem um teto.
Foto: DW/M. Mueia
Não há latrinas
Ativistas de saúde lamentam a falta de organização territorial. Isso dificulta a construção de latrinas. Até hoje as mais de duzentas famílias não têm latrinas e nem casas de banho, porque estão a ser movimentadas de um lado para o outro, não possuem um terreno fixo.
Foto: DW/M. Mueia
A água levou os documentos
Desde segunda-feira (13.05.), está em curso o registo civil dos habitantes do centro de acomodação de Dugudiua. Nenhuma das vítimas possui documentos de identificação. Os seus documentos desapareceram com as inundações.
Foto: DW/M. Mueia
Com as próprias mãos faz a sua casa
Jeremias Rui, pai de 4 filhos, diz que está empenhado na construção da sua casa que começou a ser edificada há duas semanas. Apesar da falta de material de construção, conseguiu receber lonas que cobrem o teto e a base da casa do INGC, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades. Antes, dormia ao ar livre porque ainda não tinha recebido um terreno do governo provincial.
Foto: DW/M. Mueia
Água não falta
É a única fonte de água no centro de reassentamento que abastece com o precioso líquido mais de 200 famílias. É um fontenário manual e suporta a demanda do centro. A água é usada para beber, tomar banho, lavar a roupa e a loiça.
Foto: DW/M. Mueia
Onde construir a casa?
Emilia Aguenta está empenhada na construção da sua casa, ao lado do seu marido. Tem cinco filhos e está abalada como as outras familias porque não sabe onde construir a sua casa. Por duas vezes foi alertada para sair do terreno por um grupo de técnicos topógrafos. Estes alegam que foi ocupado um espaço delimitado para uma rua, dentro do centro de reassentamento