Entre decretar medidas e fazer cumpri-las vai alguma distância, como se constata na província de Inhambane, sul de Moçambique. A dificuldade é, sobretudo, manter o distanciamento social adequado.
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Com a entrada em vigor do estado de emergência em Moçambique, para conter a pandemia causada pelo novo coronavírus, a população é obrigada, por decreto, a usar máscaras em locais públicos e manter o distanciamento físico de, pelo menos, um metro e meio.
As medidas não estão a ser cumpridas nas embarcações que fazem a ligação marítima entre Inhambane e Maxixe. Isaías Alberto, um dos utentes, lamenta a situação e diz ter medo de contrair a doença. "A contaminação ainda existe, porque às vezes tocamos uns nos outros e depois de desembarcar já não lavamos as mãos para desinfetar. É bem possível sair daqui e acabar por na boca ou no nariz".
Paulo Matsinhe, outro utente, revela que as pessoas nas embarcações e transportes públicos tiram as máscaras no meio da viagem. Matsinhe isso pede mais controlos por parte das autoridades. "Tem que haver uma fiscalização, porque,alguns põem a máscara e outros não. Cada um faz o que quer. Eu acho que é da competência das autoridades fiscalizar e dar orientações".
Mais esclarecimento, precisa-se
Carlos de Sousa, residente de Inhambane, afirma que a prioridade neste momento devia ser da vida das pessoas e depois os negócios. Refere a situação especialmente nos transportes públicos e nas embarcações. "Podemos dizer que existe controlo, mas ainda não é eficiente no meu entender. As autoridades podiam intervir no número de bilhetes que são vendidos".
Questionado pela imprensa sobre o não cumprimento das medidas decretadas pelas autoridades, Anselmo Bie, porta-voz da empresa Transmarítima em Inhambane, disse que a população e os marinheiros carecem de orientação. "Há passageiros que tiram máscaras no meio da travessia. Em alguns casos, tivemos penalizar quem infringe as normas da travessia ou de prevenção da Covid-19".
Falhas no controlo de quem regressa da África do Sul
Nas últimas semanas, a província de Inhambane registou um aumento de cidadãos que regressaram da África do Sul, onde estavam a trabalhar. A maioria atravessou a fronteira sem passar pelos centros de controlo da nova pandemia. Muitos recusam a submeter-se a testes, por recearem ser positivos.
O governador de Inhambane, Daniel Chapo, diz estar preocupado com a situação. Por isso, foram mobilizados os líderes tradicionais e outros agentes para identificar os que chegam na região de maneira clandestina. "É uma estrutura que nos ajuda a fazer o controlo desses nossos irmãos que vêm da África do Sul de forma clandestina. Nós temos conseguido detetar os que chegam à nossa província, e temos obrigado estas pessoas a manter a quarentena".
Na província de Inhambane há um primeiro caso de um jovem infetado pelo coronavírus na África do Sul. No regresso, segundo as autoridades da saúde, teve contato com mais de 18 pessoas que estão a ser identificadas e mapeadas para melhor acompanhamento da evolução da doença.
O drama dos transportes em Inhambane
Sobrelotados, danificados e sem condições mínimas de segurança: os transportes públicos da província de Inhambane, no sul de Moçambique, têm graves problemas.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem condições
Em Inhambane, passageiros vêem-se obrigados a viajar em veículos sobrelotados e sem as mínimas condições de segurança - muitas vezes ao lado de mercadorias. Da cidade de Maxixe, capital económica da província, saem muitas viaturas para os distritos do interior. Mas as vias de acesso estão muito degradadas, o que explica os danos nas viaturas, dizem os condutores.
Foto: DW/L. d. Conceição
Ir para a escola de "My Love"
Os alunos que estudam longe de casa enfrentam vários riscos para chegar à escola em viaturas de caixa aberta, conhecidas como "My Love", principalmente nos distritos de Maxixe, Morrumbene, Massinga, Homoíne, Jangamo, Panda e Vilankulo. O "transporte escolar" não respeita as normas de segurança e os acidentes são frequentes.
Foto: DW/L. d. Conceição
Longas distâncias de pé
Fazer vários quilómetros de pé nos transportes coletivos é rotina para muitas pessoas em Inhambane. Isto, porque alguns proprietários dos carros que fazem serviços de transporte proíbem os passageiros de se sentarem para poderem transportar um maior número de pessoas. Quando chegam ao destino - muitas vezes depois de percorrerem 50 quilómetros de pé - o corpo ressente-se.
Foto: DW/L. d. Conceição
A idade não é um posto
Os problemas afetam todos os passageiros - não há exceções para os idosos, que viajam também em más condições. O Governo tem vindo a prometer melhores condições para a terceira idade, mas a situação continua precária. E os preços dos transportes continuam elevados para todos, dos mais novos aos mais velhos.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem alternativas
Para quem tem carro próprio, as vias de acesso degradadas, que chegam a ficar intransitáveis quando chove, são um fator que pesa muito na decisão de conduzir até ao destino. E muitos outros não têm escolha: ou viajam de "My Love" ou ficam em terra. Entre os passageiros, idosos, mulheres grávidas ou com crianças de colo também têm muitas vezes mercadorias como companheiros de viagem.
Foto: DW/L. d. Conceição
Luxo…de passagem
Os autocarros com melhores condições saem da capital, Maputo, com destino a Inhambane, Vilankulo, Mambone, Massinga e Inhassoro. Não apanham passageiros pelo caminho, nas localidades mais pequenas. E, muitas vezes, já vêm sobrelotados de Maputo. A população pede às autoridades da província que melhorem os transportes entre distritos, para acabar com as viagens em carrinhas de caixa aberta.
Foto: DW/L. d. Conceição
150 quilómetros de desconforto
Esta viatura faz transporte público da cidade de Maxixe até ao distrito de Funhalouro, a mais de 150 quilómetros. As pessoas são obrigadas a viajar de pé e a partilhar o espaço com mercadorias. A agravar a situação está uma via de acesso em péssimas condições.
Foto: DW/L. d. Conceição
Viagem de risco para o interior
A história repete-se para muitos que vivem no interior da província. As deslocações entre os locais de residência e as cidades fazem-se em viaturas de caixa aberta, muitas vezes com material de construção, galinhas e produtos alimentares a dificultar uma viagem já em si perigosa.
Foto: DW/L. d. Conceição
De txopela nas zonas urbanas
Nas cidades e vilas, há alternativa aos "My Love". Aumenta o número das chamadas txopelas - motorizadas de três rodas - na maioria, provenientes da Índia, que acabam por tirar alguns jovens do desemprego. Mas nem todos os cidadãos têm dinheiro para andar de txopela nos centros urbanos: em média, uma viagem custa 150 meticais (cerca de 2 euros).
Foto: DW/L. d. Conceição
Só para estradas pavimentadas
Os mini-autocarros de 15 lugares são usados apenas em estradas pavimentadas ou alcatroadas, e a província de Inhambane só tem a Estrada Nacional. Muitas viaturas como estas não conseguem entrar em alguns distritos, como Funhalouro e Panda, devido ao estado das vias de acesso. Arriscar a entrada em estradas degradadas pode obrigar a uma visita ao mecânico.
Foto: DW/L. d. Conceição
Problemas também no transporte oficial
O Governo de Moçambique tem alocado todos os anos viaturas para o transporte de passageiros nas províncias. Mas, por falta de condições nas estradas, os veículos operam apenas em zonas urbanas. O Estado tem vindo a entregar a gestão destes transportes a terceiros, a título de empréstimo, mediante uma taxa mensal. Mesmo assim, os transportes públicos oficiais também estão sobrelotados.
Foto: DW/L. d. Conceição
Até quando?
Tal como os "My Love" demoram a chegar ao destino - devido também ao excesso de peso a diminuir a velocidade - a solução para os transportes públicos em Inhambane tarda igualmente em chegar. Ainda não há fim à vista para o transporte de passageiros em viaturas de caixa aberta. Até lá, veículos como este continuarão a ser adaptados para transportar passageiros e mercadorias.