Muitos donativos foram recolhidos até agora em Inhambane, no sul de Moçambique, para as vítimas do ciclone Idai, mas existem poucos meios para o transporte dessas ajudas. Autoridades dizem que necessitam de mais apoios.
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Vários movimentos de solidariedade ao nível da província moçambicana de Inhambane envolveram-se nas campanhas de recolha de donativos para as vítimas do ciclone Idai, que afetou o centro de Moçambique. Mas existem poucos transportes para levar as ajudas recolhidas até às pessoas que neste momento estão muito carenciadas.
As doações têm sido entregues ao Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), uma instituição que recentemente foi muito criticada devido a relatos sobre desvios das ajudas, situação que em conferência de imprensa na última terça-feira a própria secretária-geral da instituição, Augusta Maita, admitiu existir.
Paulino Raimundo, representante do Movimento Kuvunana e Vilankulo Solidário, disse à DW África que queriam fazer a entrega diretamente das ajudas recolhidas, como produtos alimentares não perecíveis, vestuários e outros. Porém, com a falta de transporte foram obrigados a entregar as doações ao Governo.
"Queremos deixar bem patente a nossa solidariedade para com os nossos irmãos que neste momento estão a necessitar de tudo. Na verdade queríamos ir pessoalmente à cidade da Beira para fazermos a entrega das ajudas, mas devido a falta de transporte neste momento fomos obrigados a deixar tudo nas mãos do INGC".
Por seu turno, Emerson Edgar, do movimento "Jovens Solidários” e do Conselho Distrital da Juventude em Inharrime, revelou à reportagem da DW que vários jovens já estavam prontos para se deslocarem à província de Sofala para a entrega dos donativos recolhidos pela agremiação, mas também não teve condições logísticas para isso. Por isso, também teve de entregar ao Governo as doações.
Mais ajuda
Entretanto, para Tomé Mabasso, porta-voz do INGC em Inhambane, a solidariedade ainda continua a chegar e é necessário mostrar a união entre os moçambicanos, mas não avançou detalhes sobre como efetuar o transporte das ajudas até às vítimas do ciclone.
Inhambane: Faltam meios para enviar donativos às vítimas do Idai
"A população está muito solidaria. Neste momento há um grupo de jovens residentes aqui em Vilankulo que estão a angariar fundos e apoios para a população da província de Sofala. É preciso de facto mostrar que a população da Beira não esta sozinha".
Transparência
Por causa das denúncias de desvio de doações, o Parlamento moçambicano aprovou na quarta-feira a criação de um grupo de trabalho formado por deputados para avaliar a transparência na assistência às vítimas do ciclone Idai no centro do país.
A medida foi aprovada por requerimento da bancada da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, à direção do Parlamento, na sequência de alegações de falta de transparência na distribuição da ajuda às vítimas do ciclone.
O número de pessoas afetadas pelo ciclone Idai e pelas cheias em Moçambique subiu para 1,4 milhões, segundo os dados atualizados esta quinta-feira pelas autoridades moçambicanas. A atualização mantém o número de mortos em 598 e o total de feridos em 1.641.
O grupo de pessoas afetadas inclui todas aquelas que necessitam de algum tipo de assistência, que podem ter pedido casas ou necessitar de alimentos.
Ciclone Idai: Viver numa tragédia
Centenas de milhares de pessoas precisam de ajuda urgente no centro de Moçambique, depois do ciclone Idai. Enquanto buscas por vítimas continuam, desalojados sobrevivem como podem.
Foto: DW/B. Jequete
Famílias refugiam-se no asfalto após ciclone
Depois do ciclone Idai, 40.000 pessoas precisam de ajuda na província de Manica, centro de Moçambique. Milhares ficaram sem casa e dezenas de famílias preferem acomodar-se no asfalto da EN6 do que ir para os centros de acomodação do Governo. Dizem que aqui é mais seguro, porque alguns centros estão lotados. Trouxeram para aqui os pertences que conseguiram resgatar, incluindo pilões para o milho.
Foto: DW/B. Jequete
Há casas inundadas até hoje
A extensão da devastação do ciclone Idai é grande. O Governo moçambicano estima que o ciclone destruiu uma área superior a 3.000 quilómetros quadrados. Mais de 90 mil casas foram afetadas; 50 mil ficaram totalmente destruídas. Muitas casas, construídas em zonas pantanosas, continuam inundadas quase duas semanas depois da passagem do ciclone. As autoridades tentam drenar as águas, mas é difícil.
Foto: DW/B. Jequete
Pobres ainda mais pobres
Milhares de pessoas estão em vários centros de acomodação. Quem tem casas de alvenaria foi menos afetado pelo ciclone do que outros cidadãos, com casas precárias, que perderam praticamente tudo e vieram para aqui. Rosa Ferro, uma anciã no centro de acomodação de Matarara, no distrito de Sussundenga, diz que nunca viu algo assim: "O ciclone Idai devastou tudo o que tínhamos. Reduziu-nos a zero."
Foto: DW/B. Jequete
Cada um por si, Deus por todos
No centro de acomodação de Matarara, muitas vezes o lema é "cada um por si e Deus por todos". Cada família cozinha o que tem, e as que não têm comida, na sua maioria, não são servidas quando chega a hora da refeição.
Foto: DW/B. Jequete
Apoio a vítimas vai chegando
O apoio às vítimas do ciclone Idai tem chegado à província de Manica. Tanto apoio de fora, como de dentro de Moçambique. A rede italiana de organizações não-governamentais AIFO acaba de apoiar as vítimas do Idai com víveres e material escolar. A AIFO desembolsou dois mil euros para a compra de donativos para desalojados em dois centros de acomodação.
Foto: DW/B. Jequete
40 toneladas de ajuda
Uma associação de caridade constituída por empresários em Manica, chamada "The All Heart Foundation", já disponibilizou 40 toneladas de produtos básicos, incluindo alimentos, para as vítimas do ciclone Idai nas províncias de Sofala e Manica. Mussa Laher, representante da associação, disse estar a receber o apoio de outros empresários, que ficaram sensibilizados com a causa.
Foto: DW/B. Jequete
Chima com feijão
Nos centros de acomodação, a chima com feijão é o prato mais cozinhado. Não há outra alternativa. As doações que mais chegam aqui são precisamente a farinha de milho e o feijão. Quem não consegue comer, porque está doente, passa fome.
Foto: DW/B. Jequete
Buscas continuam
As buscas por sobreviventes continuam tanto na província de Manica, como na província de Sofala. Só em Manica morreram, pelo menos, 148 pessoas devido ao ciclone Idai. 60 pessoas continuam desaparecidas, segundo o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC). Vários parceiros de cooperação têm dado apoio nas buscas. Os abutres também têm ajudado a encontrar cadáveres.
Foto: DW/B. Jequete
Utentes da EN6 já respiram de alívio
A EN6, que liga as províncias de Manica e Sofala, já está desbloqueada. Foram feitos desvios, para que os carros pudessem passar. Até domingo passado (24.03), a passagem era feita através de barcaças ou moto-táxis, que cobravam taxas altíssimas.
Foto: DW/B. Jequete
Água dura em pedra dura…
Ninguém pensava que o projeto de ampliação e reabilitação da EN6 acabaria assim. Depois do ciclone Idai, a fúria das águas destruiu quase todas as infraestruturas. Até as pontes tombaram.
Foto: DW/B. Jequete
Sem aulas
A Escola Primária e Completa de Inchope ficou sem tecto devido ao ciclone Idai. Todos os documentos ficaram ensopados, incluindo os processos dos alunos e certificados. Mais de 3 mil alunos estão sem aulas.
Foto: DW/B. Jequete
Perigo de vida
As dezenas de pessoas que estão a viver na EN6 fizeram do asfalto o seu pátio de sua casa. Debulham o milho ou estendem a roupa paredes meias com as viaturas - e correm perigo de vida. Se uma viatura perde a direcção, pode varrer as cabanas à beira da estrada e matar alguém.