Guerrilheiros da RENAMO queixam-se da exclusão do processo de DDR na província moçambicana de Inhambane, após o fim da desmobilização naquela província.Em todo país, 1.490 homens armados da RENAMO foram desmobilizados.
Depois de terem saído da base de Makauleza, no mesmo distrito, na fase da nova revolução, dizem ter recebido a promessa do falecido líder do maior partido da oposição, Afonso Dhamaka, de que deviam esperar pelo aguardado processo de desmobilização, explica José Atanásio Macamo, responsável por mais de dois mil guerrilheiros em Homoine.
"Nós estávamos lá em Makauleza. O nosso presidente, Afonso Dhakama, disse para ficarmos à espera da desmobilização. Até agora, não apanhamos a desmobilização. Disseram que talvez no próximo ano vamos desmobilizar. Já esqueceram de nós", lamenta.
José Atanásio Macamo acusa o atual líder da RENAMO, Ossufo Momade, de não fazer cumprir o que foi prometido por Afonso Dhakama, deixando de fora milhares de guerrilheiros.
"Tinha que nos recolher, enquadrar e desmobilizar. Talvez, estão a levar seus familiares a serem desmobilizados, mas muitas pessoas estão lá", afirma.
Cansados de esperar
André Arnaldo Savanguane chegou a deslocar-se ao centro de desmobilização de Vilankulo juntamente com outros colegas para saber se os seus nomes estavam nas listas. Mas foram informados que deviam ainda aguardar. O antigo guerrilheiro afirma que já está cansado de ficar no mato à espera da desmobilização.
"Fui a Pambara e disseram: 'vocês devem esperar na lista, aqui não tem a vossa lista'. Fizemos tantos registos, mas ainda o resultado não saiu. Queremos estar em casa com a nossa família", descreve.
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Muitas dúvidas
Até ao momento, já foram desmobilizados 1.490 homens armados da RENAMO no âmbito do DDR em todo território nacional, como anunciado pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.
Mas o falecido Afonso Dhakama teria entregue uma lista com os nomes de 5.221 guerrilheiros à equipa de contato.
Isto significaria que a RENAMO ainda teria por desmobilizar mais de 3.800 guerrilheiros.
O antigo guerrilheiro Jaime Duzentas Chango diz que foi deixado por Afonso Dhakama na base de Pembe, no distrito de Homoine, e nunca saiu para outro lugar à espera da desmobilização. Mas agora, precisa de uma explicação sobre as listas e o fim das bases no âmbito do processo de DDR.
"Agora, quero ser desmobilizado também como os outros. O falecido Dhalakama deixou-me aqui e não vou a nenhum sítio, estou aqui. Por isso, nós temos essa preocupação de saber: Essas listas, como que terminou?" questiona.
Domingos Gundana, chefe nacional-adjunto de desmobilização dos guerrilheiros da RENAMO, disse à DW África que ficaram apenas por integrar pouco mais de 100 guerrilheiros ao nível nacional, facto que ainda deixa dúvida sobre o real número a desmobilizar neste processo.
"As pessoas estão a ser oportunistas. Eu entendo que muita gente pensa nesse DDR como uma oportunidade. Não temos base no sul. Mesmo em Sofala, só ficou a Gorongosa que vai entrar para a desmobilização", conclui.
Afonso Dhlakama, homem de causas
O percurso de Afonso Dhlakama enquanto político e militar quase se confunde com a história de Moçambique independente. Em nome da democracia não hesitou em entrar numa guerra. Herói para uns, vilão para outros.
Foto: picture-alliance/dpa
Dhlakama, um começo na FRELIMO que não vingou
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953 em Mangunde, povíncia central de Sofala, Moçambique. Entra para a FRELIMO perto da época da independência em 1975, mas não fica muito tempo. Em 1976 sai do partido que governa o país para co-fundar a RNM (Resistência Nacional de Moçambique), um movimento armado, com o apoio da Rodésia do Zimbabué. O objetivo: por fim a ditadura.
Foto: Imago/photothek
Dhlakama: Desde cedo líder da RENAMO
A guerra civil entre a RNM, depois denominada RENAMO, Resistência Nacional de Moçambique, e o Governo começou em 1976. Dhlakama assume a liderança da RNM depois da morte de André Matsangaíssa em combate em 1979. Já era líder quando o primeiro acordo que visava por fim a guerra foi assinado entre o Governo e o regime do apartheid na África do Sul em 1984. Mas o Acordo de Inkomati fracassou.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
AGP: Democracia entra no vocabulário com Dhlakama
Depois de 16 anos de guerra Dhlakama assina com o Governo o Acordo Geral de Paz de Roma em 1992 no contexto do fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul. Começa uma nova era para o país, depois de uma guerra que fez perto de um milhão de mortos e milhões de refugiados. A democracia passa então a fazer parte do vocabulário dos moçambicanos, com Dhlakama a auto-intitular-se o seu pai.
Foto: picture-alliance/dpa
O começo das derrotas de Dhlakama nas eleições
Moçambique entra para a era do multipartidarismo e realiza as suas primeiras eleições em 1994. Dhlakama e o seu partido perdem as eleições. As segundas eleições acontecem em 1999 e Dhlakama volta a perder, mas rejeita a derrota. E desde então não parou de perder, facto que provocou descontentamento ao partido de Dhlakama. Reclamava de fraudes e injustiças. E nasceram assim as crises com o Governo.
Foto: Reuters/Grant Lee Neuenburg
Dhlakama: O regresso às matas como estratégia de pressão
O regresso do líder da RENAMO à Serra da Gorongosa em 2013, um dos seus bastiões militares, foi uma mensagem inequívoca ao Governo da FRELIMO. Dhlakama queria mudanças reais, que passavam pelo respeito integral do AGP, principalmente a integração dos militares da RENAMO no exército nacional, e mudança da legislação eleitoral. Assim o país voltou a guerra depois de mais de vinte anos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Armando Guebuza e Dhlakama em braço de ferro permanente
A 5 de agosto de 2014 o então Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama assinaram um cessar-fogo. Estavam criadas as condições para o líder da RENAMO participar nas eleições gerais de outubro de 2014. Dhlakama e o seu partido participam nas eleições e voltam a perder. As crise volta ao rubro e Dhlakama regressa às matas da Gorongosa.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Emboscada contra Afonso Dhlakama
A 12 de setembro de 2015 a caravana em que seguia Afonso Dhlakama foi atacada na província de Manica. Ate hoje não se sabe quem foram os atacantes. A RENAMO considerou a emboscada como uma tentativa de assassinato do seu líder. A comunidade internacional condenou o uso da violência.
Foto: DW/A. Sebastião
Aperto ao cerco contra Afonso Dhlakama
No dia 9 de outubro de 2015, a polícia cercou e invadiu a casa de Afonso Dhlakama na cidade da Beira. As forças governamentais pretendiam desarmar a força a guarda do líder da RENAMO. Os homens da RENAMO que se encontravam no local foram detidos. A população da Beira, bastião da RENAMO, juntou-se diante da casa de Dhlakama manifestando o seu apoio ao líder.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Dhlakama e Nyusi: Menos mãos melhores resultados
O líder da RENAMO e o Presidente da República decidiram prescindir de mediadores e passaram a negociar o acordo pessoalmente. Desde então consensos têm sido alcançados, um deles relativo à revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização em fevereiro de 2018. A aprovação da proposta pelo Parlamento é urgente, pois as próximas eleições de 2018 e 2019 dependem dele.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Dhlakama: Não foi a bala que ditou o seu fim
Na manhã de 3 de maio o maior líder da oposição em Moçambique perdeu a vida vítima de doença. Deixa aos seus correlegionários a tarefa de negociar outro ponto controverso na crise com o Governo: a desmilitarização ou integração dos homens armados da RENAMO no exército nacional. Há quase 40 anos à frente da liderança da RENAMO teve de negociar com todos os Presidentes de Moçambique independente.