As autoridades governamentais afirmam que esta prática é ilegal. No entanto, alguns residentes dizem que é frequente nesta região.
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Um jovem foi forçado a fazer o "lobolo”com um cadáver - por sinal, a mulher com quem vivia maritalmente há cerca de um ano -, em Moçambique. A vítima perdeu a vida no hospital provincial de Inhambane, na madrugada do último domingo (18.06), na sequência de complicações no parto.
Lucas Fernando, o jovem viúvo, foi ainda obrigado a pagar uma multa de 48 mil meticais (cerca de 700 euros) à família da mulher. Faela Fernando, irmão do noivo, contou à DW África que recebeu uma lista de bens necessários para o casamento. "Temos lista de "lobolo”, fato do pai, do avó, tudo. Eles obrigaram até comprar véu e roupas para a mulher ser enterrada”, explica Faela Fernando.
O casamento oficial obrigatório depois da morte da mulher estava agendado para o dia 15 de dezembro deste ano. O ato seria realizado na campa da malograda, no entanto, o jovem viúvo e a família da mulher em causa chegaram a um acordo - não se realizará casamento, mas ainda assim, Lucas Fernando terá que pagar a multa exigida pela família. "Mas, [até agora], conseguimos apenas 10.500 meticais. Ainda estão 37 mil por pagar. Eles [a família] disseram que eu tinha que declarar o dia do pagamento”, explica Lucas Fernando, dando conta de que terá assim que entregar até 15 de dezembro, dia em que se realizaria o casamento, o valor em falta.
A cerimónia de "lobolo” é um casamento tradicional que, nesta região [Inhambane], tem mais valor que o registo oficial, no qual o genro é obrigado a pagar um determinado valor - de dote -, previamente marcado pelos pais da esposa. Segundo Zahara Chirrafu, residente de Inhambane, esta é uma prática muito usual na região sul de Moçambique. "Em termos tradicionais, o "lobolo” é que tem mais peso. Por essa razão, quando se perde a vida –neste caso, a mulher – exige-se o "lobolo” da cova. Isso acontece muito mais quando se transgride. Por exemplo, quando uma criança sai de casa o genro não vai se apresentar. É frequente aqui em Inhambane".
Prática recorrente mas ilegal
Na semana passada, um outro caso semelhante aconteceu no distrito de Massinga, em Inhambane. Um jovem abandonou o cadáver da sua mulher na via pública depois dos pais desta lhe terem exigido o "lobolo” antes do enterro. O jovem continua desaparecido, por isso, os familiares da vítima tiveram que a enterrar sem o ”lobolo”.
Carlos Velaz, Conservador dos registos e notariados em Inhambane, afirmou à DW que esta é uma prática ilegal. Como explica este responsável, "o código do registo civil e a própria lei de família impõem que só se pode celebrar um casamento com uma pessoa viva. As pessoas que são obrigadas a ter que seguir estas práticas também devem recusar-se, porque a lei não o permite”.
Depois do pagamento do "lobolo”, em caso de morte da sua esposa, o homem pode receber outra mulher em troca. Zahara Chirrafu, residente de Inhambane, explica que, nos casos em que as famílias que receberam o "lobolo” têm uma filha mais nova, "esta é levada ao cunhado para substituir a irmã”.
Dineo: A força destruidora do ciclone em Moçambique
O ciclone que atingiu o sul do país esta semana fez sete mortos e 55 feridos, segundo o balanço oficial. Casas, escolas e estradas ficaram destruídas. Governo promete assistência.
Foto: DW/L. da Conceição
Sete vítimas mortais
Relatório do Centro Nacional Operativo de Emergência contabiliza 650 mil pessoas afetadas pelo ciclone Dineo, que atingiu na quarta-feira (15.02) a província de Inhambane, no sul do país. Sete pessoas morreram devido à queda de árvores e tectos de casas. 55 pessoas ficaram feridas, quatro em estado grave.
Foto: picture-alliance/dpa/Care
Alerta vermelho
Os distritos mais atingidos foram Massinga, Morrumbene, Maxixe, Jangamo, Zavala, Homoíne, Vilanculos, Inharrime e Inhassoro, todos na zona costeira. Os ventos atingiram uma velocidade de mais de 100 quilómetros por hora, com rajadas de cerca de 150 quilómetros por hora.
Foto: DW/L. da Conceicao
Sem telhado, sem luz, sem água
O balanço oficial dá conta de danos em 106 edifícios públicos, 70 unidades hospitalares, 998 salas de aula, três torres de comunicação, 48 postos de transporte de energia elétrica e dois sistemas de abastecimento de água.
Foto: DW/L. da Conceicao
Ligação cortada
A ponte que liga a Cidade de Inhambane a Maxixe ficou destruída à passagem do Dineo. Esta é a principal via de circulação de pessoas e bens entre as duas cidades. Agora, a população vê-se obrigada a fazer um percurso mais longo, que implica quase o dobro dos custos.
Foto: DW/L. da Conceicao
Acesso bloqueado
As autoridades moçambicanas ativaram os centros operativos de emergência em todos os locais afetados. Falta de comunicação e danos nas vias de acesso dificultaram trabalhos de atualização de dados, segundo o CNOE. Ruas ficaram inundadas e os ventos fortes derrubaram árvores e postes de eletricidade.
Foto: DW/L. da Conceicao
Esperar por água
Depois dos cortes causados pelo ciclone, fornecimento de água ainda não foi regularizado em várias zonas, como na cidade de Inhambane e em Maxixe. Populares são obrigados a recorrer a fontes públicas.
Foto: DW/L. da Conceicao
Escolas encerradas
Na sexta-feira (17.02), por precaução, foram canceladas as aulas nos distritos de Massinga, Morrumbene, Vilankulos, Jangamo, cidade de Inhambane e Maxixe. Serviço Distrital de Educação de Maxixe também sofreu danos, com placas de zinco arrancadas do telhado do edifício.
Foto: DW/L. da Conceicao
Avaliar estragos e apoiar vítimas
O Presidente Filipe Nyusi garantiu assistência às pessoas afetadas "o mais rápido possível". "Como ações de resposta, foram criadas equipas de monitorização e avaliação rápida, abrigo, planificação e informação", segundo o CNOE. Na foto: o pavilhão polivalente da Universidade Pedagógica da cidade de Maxixe, após o ciclone.
Foto: DW/L. da Conceicao
Mau tempo continua
Embora o ciclone já não esteja no país, os efeitos deverão continuar a fazer-se sentir em Moçambique, com chuvas moderadas e ventos fortes durante o fim-de-semana, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia. Entretanto classificado como "depressão tropical", Dineo poderá atingir agora a África do Sul, o Zimbabué e o Botsuana.