MDM diz que a RENAMO está a aliciar os seus militantes com dinheiro e promessas de cargos para ingressarem no maior partido da oposição. Em resposta, a RENAMO diz que as pessoas estão simplesmente a regressar a casa.
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É um tema que tem marcado a atualidade em Moçambique: nas últimas semanas, o MDM viu algumas das suas figuras mais proeminentes abandonarem o partido para ingressarem na RENAMO.
O cenário repete-se em Inhambane, onde o MDM acusa a RENAMO de "namorar por baixo da mesa”, aliciando os membros do movimento a troco de dinheiro e cargos de topo para se filiarem no maior partido da oposição. E todos os dias se registam saídas, diz o MDM.
José Sinequinha, cabeça de lista para as eleições autárquicas no município da Maxixe e porta-voz do MDM, dá voz à denúncia do "namoro debaixo da mesa que a RENAMO está a fazer aos membros do MDM".
Sinequinha afirma que a RENAMO não tem qualidade para enfrentar as eleições de Outubro e, por isso, procura reforços no Movimento Democrático de Moçambique: "Estão fracos, não têm quadros de qualidade para enfrentar a batalha das autarquias, daí que vão ao MDM buscar quadros para se poderem reforçar", afirma.
José Sinequinha fala em imaturidade e interferência política e acusa a RENAMO de enfraquecer a democracia. "Se é pai da democracia, não faz sentido que enfraqueça os alicerces, porque neste momento a RENAMO está a ser padrasto da democracia", considera o dirigente do MDM.
Membros da RENAMO negam acusações
MDM acusa RENAMO de corromper os seus membros
Hidricio Rufino, um dos desertores do MDM que se encontra actualmente na RENAMO, garante que não foi aliciado em troca de benefícios. "Ninguém me pagou", garante, em entrevista à DW África. Saiu do movimento, explica, "porque há muitas coisas no país em que não estão a reagir como deve ser no país".
"Temos de receber sempre ordens da Beira para cumprir, nada disso nos faz bem", acrescenta.
Em resposta às acusações em Maxixe, o porta-voz da RENAMO ao nível nacional, António Muchanga, diz que os membros que estão a sair do Movimento Democrático de Moçambique estão apenas de regresso a casa, depois de terem sido enganados e ingressado no MDM.
"A RENAMO não tem dinheiro para andar a distribuir", diz Muchanga, em resposta às acusações de aliciamento.
"Quem meteu Daviz Simango [presidente do MDM] como presidente do município [da Beira] pela primeira vez foi a RENAMO. Quem meteu Lutero [Simango, chefe da bancada parlamentar do MDM] pela primeira vez na Assembleia da República foi a RENAMO", sublinha o porta-voz do maior partido da oposição. "Quem é que está a reclamar o regresso dos membros da RENAMO? Estão de regresso a casa as pessoas que tinham sido enganadas".
Afonso Dhlakama, homem de causas
O percurso de Afonso Dhlakama enquanto político e militar quase se confunde com a história de Moçambique independente. Em nome da democracia não hesitou em entrar numa guerra. Herói para uns, vilão para outros.
Foto: picture-alliance/dpa
Dhlakama, um começo na FRELIMO que não vingou
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953 em Mangunde, povíncia central de Sofala, Moçambique. Entra para a FRELIMO perto da época da independência em 1975, mas não fica muito tempo. Em 1976 sai do partido que governa o país para co-fundar a RNM (Resistência Nacional de Moçambique), um movimento armado, com o apoio da Rodésia do Zimbabué. O objetivo: por fim a ditadura.
Foto: Imago/photothek
Dhlakama: Desde cedo líder da RENAMO
A guerra civil entre a RNM, depois denominada RENAMO, Resistência Nacional de Moçambique, e o Governo começou em 1976. Dhlakama assume a liderança da RNM depois da morte de André Matsangaíssa em combate em 1979. Já era líder quando o primeiro acordo que visava por fim a guerra foi assinado entre o Governo e o regime do apartheid na África do Sul em 1984. Mas o Acordo de Inkomati fracassou.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
AGP: Democracia entra no vocabulário com Dhlakama
Depois de 16 anos de guerra Dhlakama assina com o Governo o Acordo Geral de Paz de Roma em 1992 no contexto do fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul. Começa uma nova era para o país, depois de uma guerra que fez perto de um milhão de mortos e milhões de refugiados. A democracia passa então a fazer parte do vocabulário dos moçambicanos, com Dhlakama a auto-intitular-se o seu pai.
Foto: picture-alliance/dpa
O começo das derrotas de Dhlakama nas eleições
Moçambique entra para a era do multipartidarismo e realiza as suas primeiras eleições em 1994. Dhlakama e o seu partido perdem as eleições. As segundas eleições acontecem em 1999 e Dhlakama volta a perder, mas rejeita a derrota. E desde então não parou de perder, facto que provocou descontentamento ao partido de Dhlakama. Reclamava de fraudes e injustiças. E nasceram assim as crises com o Governo.
Foto: Reuters/Grant Lee Neuenburg
Dhlakama: O regresso às matas como estratégia de pressão
O regresso do líder da RENAMO à Serra da Gorongosa em 2013, um dos seus bastiões militares, foi uma mensagem inequívoca ao Governo da FRELIMO. Dhlakama queria mudanças reais, que passavam pelo respeito integral do AGP, principalmente a integração dos militares da RENAMO no exército nacional, e mudança da legislação eleitoral. Assim o país voltou a guerra depois de mais de vinte anos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Armando Guebuza e Dhlakama em braço de ferro permanente
A 5 de agosto de 2014 o então Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama assinaram um cessar-fogo. Estavam criadas as condições para o líder da RENAMO participar nas eleições gerais de outubro de 2014. Dhlakama e o seu partido participam nas eleições e voltam a perder. As crise volta ao rubro e Dhlakama regressa às matas da Gorongosa.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Emboscada contra Afonso Dhlakama
A 12 de setembro de 2015 a caravana em que seguia Afonso Dhlakama foi atacada na província de Manica. Ate hoje não se sabe quem foram os atacantes. A RENAMO considerou a emboscada como uma tentativa de assassinato do seu líder. A comunidade internacional condenou o uso da violência.
Foto: DW/A. Sebastião
Aperto ao cerco contra Afonso Dhlakama
No dia 9 de outubro de 2015, a polícia cercou e invadiu a casa de Afonso Dhlakama na cidade da Beira. As forças governamentais pretendiam desarmar a força a guarda do líder da RENAMO. Os homens da RENAMO que se encontravam no local foram detidos. A população da Beira, bastião da RENAMO, juntou-se diante da casa de Dhlakama manifestando o seu apoio ao líder.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Dhlakama e Nyusi: Menos mãos melhores resultados
O líder da RENAMO e o Presidente da República decidiram prescindir de mediadores e passaram a negociar o acordo pessoalmente. Desde então consensos têm sido alcançados, um deles relativo à revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização em fevereiro de 2018. A aprovação da proposta pelo Parlamento é urgente, pois as próximas eleições de 2018 e 2019 dependem dele.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Dhlakama: Não foi a bala que ditou o seu fim
Na manhã de 3 de maio o maior líder da oposição em Moçambique perdeu a vida vítima de doença. Deixa aos seus correlegionários a tarefa de negociar outro ponto controverso na crise com o Governo: a desmilitarização ou integração dos homens armados da RENAMO no exército nacional. Há quase 40 anos à frente da liderança da RENAMO teve de negociar com todos os Presidentes de Moçambique independente.