Só este ano já morreram mais de 20 pessoas, vítimas de malária, na província de Inhambane, sul de Moçambique. Entretanto, faltam medicamentos. É terreno fértil para os vendedores ilegais.
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Nos primeiros 30 dias deste ano, 22 pessoas morreram vítimas de malária na província de Inhambane. Foram diagnosticados mais de 300 mil casos da doença. Segundo dados das autoridades de saúde, trata-se de um aumento de 5% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
"Estamos na época chuvosa e esta é a altura em que normalmente registamos um pico de casos de malária, principalmente na cidade de Inhambane, em Maxixe, Homoíne, Morrumbene e Massinga", afirma Stélio Tembe, médico-chefe da Direção Provincial de Saúde.
O uso incorreto das redes mosquiteiras e o défice do saneamento do meio nas comunidades são também apontados como causas da proliferação da doença.
Roubos e poucos medicamentos
A situação piora com a falta de medicamentos. Há doentes que vão às unidades sanitárias e só recebem paracetamol, para aliviar as dores. E o negócio da venda ilegal de medicamentos floresce.
A Polícia da República de Moçambique no distrito de Zavala, em Inhambane, deteve recentemente um líder comunitário, acusado de vender medicamentos hospitalares e, ao mesmo tempo, dar injeções a pacientes sem trocar as seringas, colocando em perigo a vida de muitas pessoas.
Joaquim Guila, comandante da polícia em Zavala, diz que o líder comunitário irá agora responder em tribunal. "O auto já foi lavrado e será remetido ao Ministério Público para o devido tratamento", confirma.
Inhambane: 22 mortos e 300 mil casos de malária em janeiro
Uso correto das redes mosquiteiras
Para travar as infeções por malária, as autoridades de saúde têm levado a cabo várias atividades de sensibilização e mobilização nas comunidades.
"É normal que, nesta altura, os casos de malária estejam a aumentar, porque os locais onde os mosquitos vão se multiplicar também vão aumentando", comenta Stélio Tembe, da Direção Provincial de Saúde em Inhambane.
O responsável apela ao uso correto das redes mosquiteiras para prevenir a doença: "Aqui deve ser uma prevenção combinada com redes mosquiteiras e outros métodos tradicionais, que são usados nas comunidades, mas também o uso de repelente."
Quelimane: Familiares de doentes queixam-se das condições de acomodação no Hospital
Familiares vêm acompanhar os pacientes transferidos, na maioria, dos hospitais dos distritos e províncias vizinhas. Acompanhantes dormem no chão, alguns sem cobertores, e sem redes mosquiteiras.
Foto: DW/M. Mueia
Acomodação nos sanitários
As autoridades de saúde adjudicaram, recentemente, as obras para a construção de um muro de vedação à volta dos sanitários públicos do Hospital Central Quelimane. É nestes sanitários, e ao ar livre, que uma parte dos acompanhantes dos pacientes deste Hospital dorme. Usam a água do poço para as necessidades diárias, nomeadamente, para preparar refeições, lavar roupa e tomar banho.
Foto: DW/M. Mueia
Dormir em "Muchungué"
"Muchungué" é o nome dado ao local onde, no Hospital Central de Quelimane, se acomodam os acompanhantes dos pacientes que precisam de internamento. A maioria vem transferida dos hospitais distritais da província da Zambézia. À DW, os acompanhantes explicam que este nome se deve às condições do local: "o modo de vida é comparado ao da região de Muchungué, em Sofala, no tempo do conflito armado".
Foto: DW/M. Mueia
Péssimas condições
À DW, os acompanhantes dos doentes queixam-se da falta de dormitórios, cobertores e redes mosquiteiras. Não há também estendais para a roupa. As roupas que são lavadas são expostas nas matas para secar. Já por muitas vezes, asseveram estas pessoas, houve queixas sobre as condições de sobrevivências no local, mas as autoridades nada fizeram para melhorar a situação.
Foto: DW/M. Mueia
Redes mosquiteiras
Cada acompanhante é responsável por criar as suas condições para dormir. Têm por isso que trazer as suas próprias "esteiras e mantas". A fumaça das fogueiras tem sido uma salvação, pois afugenta os mosquitos, uma vez que também não existem redes mosquiteiras no local.
Foto: DW/M. Mueia
Refeições
As refeições são confecionadas individualmente ou em pequenos grupos de quatro elementos, independentemente, do sexo ou idade, e têm como base as pequenas contribuições de arroz e farinha ou valor monetário. Muitas vezes, o caril é feito com peixe seco, localmente conhecido como "Madjembe", e verduras preparadas em água e sal.
Foto: DW/M. Mueia
Entreajuda
Joaquina Oniva veio da Maganja da Costa, a sul da província da Zambézia. Acompanha a sua neta, que está internada há meses. Joaquina Oniva não tem nada para comer, nem para dormir, tal como a maioria dos acompanhantes. Quando a comida acaba, pede ajuda a outros acompanhantes. Algumas vezes, há gente de boa fé que, ao preparar refeições, conta com mais dois ou três elementos.
Foto: DW/M. Mueia
Falta de segurança e luz
Também Eric Semba se queixa das condições do local. À DW, lembra o sofrimento que tem passado: as noites sem cobertor, sem um dormitório convencional e sem comida. Com ou sem chuva, homens e mulheres dormem, juntos, no local. Muitas mulheres reclamam que são assediadas sexualmente por falta de segurança e iluminação.
Foto: DW/M. Mueia
Esperando a alta médica dos familiares...
Beatriz Lourenco Coambe é mais uma das muitas mulheres que aqui se encontra. Veio há três semanas do distrito de Mocuba, para acompanhar o seu irmão, internado devido a um acidente de viação. Beatriz Coambe explica que gostava de abandonar o local devido ao sofrimento que ali passa. Mas não tem alternativa. Terá que esperar até que o seu irmão tenha alta médica.
Foto: DW/M. Mueia
Situações mais críticas
Não revelando a sua identidade, este jovem veio do distrito de Gorongosa, em Sofala, para acompanhar o seu irmão mais novo. Por semana vai duas vezes à lixeira do Hospital à procura de caixas que sirvam de dormitório. Não tem condições para comprar esteiras ou cobertores. O dinheiro que trazia de casa acabou, por isso, de madrugada, circula pelos bairros vizinhos, onde apanha fruta para vender.
Foto: DW/M. Mueia
Sem garantias de melhorias
Em média, e segundo os dados estatísticos da direção do Hospital Central de Quelimane, cinco a dez acompanhantes procuram abrigo neste local, diariamente. A maioria chega dos distritos de Caia, Maganja da Costa, Mocuba, Inhassunge, Madal, Namacurra, Nicoadala e Pebane. Apesar das reclamações serem frequentes, não há garantias de melhoria das condições a curto prazo.
Foto: DW/M. Mueia
Hospital reconhece situação
O diretor do Hospital Central de Quelimane, Ladino Suade, diz estar preocupado com a situação e lamenta a falta de capacidade para solucionar o problema. No entanto, afirma que à sua instituição compete cuidar dos pacientes e não dos acompanhantes. Na sua opinião, a Direção Provincial de Ação Social da Zambézia deveria intervir.
Foto: DW/M. Mueia
Situação arrasta-se desde 2016
Construído com fundos do Governo e parceiros sul-coreanos, o Hospital Central de Quelimane foi inaugurado a 27 de outubro de 2016. É composto por mais de 100 compartimentos e tem ainda uma clínica privada com serviços e tratamentos mais especializados. Durante a construção deste Hospital, não foi periodizada a construção de salas para os acompanhantes dos pacientes.