Várias reservas de alojamento foram canceladas, quer em Inhambane, quer em Vilankulo, prejudicando os operadores turísticos, que não sabem como enfrentar as despesas.Os hotéis, os restaurantes e as praias estão desertos.
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Os aviões das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) deixaram de operar nas províncias de Tete, Manica e Inhambane, desde a semana passada. A empresa não deverá voltar a operar nestas regiões, que só deverão voltar a ter serviço de transporte aéreo quando entrar ao serviço uma nova companhia. A falta de ligações aéreas para a cidade de Inhambane e a vila turística de Vilankulo está a deixar o turismo à beira de colapso. Várias reservas de alojamento foram canceladas, prejudicando os operadores turísticos, que não sabem como enfrentar as despesas.
A DW África visitou várias estâncias turísticas neste território e constatou um ambiente desértico: camas, restaurantes e praias vazios. Há cancelamentos de reservas todos os dias.
Anselmo Alexandre, um dos gestores do hotel Vilankulo Beach Lodge, conta que várias reservas foram canceladas devido à interrupção dos voos da companhia de bandeira. Alguns turistas tiveram que alugar viaturas para viajar para a capital Maputo, de modo a apanhar avião para Joanesburgo e assim regressarem a casa. "Alguns clientes acabaram por não vir por causa desse problema com a LAM e alguns ficaram retidos cá e acabaram por ter que alugar carros para poder deslocar-se para os seus destinos”, conta.
Jill Poll, gestora do hotel Casa Rex, também em Vilankulo, lembra, no entanto, que o transporte aéreo na região já não é um problema de agora e está a agravar-se. De acordo com esta empresária, sempre existiram pessoas com problemas em apanhar voos. Mas desta vez, acrescenta, "foi pior, porque há quase uma semana que a LAM não chega nem sai de Vilankulo. E tivemos pessoas que queriam sair”.
Imagem do destino prejudicada
Yassin Amugy, empresário do setor do turismo há mais de 20 anos, acrescenta que a falta de transporte para os turistas está a prejudicar a imagem do país. "A mancha que deixamos nas férias deles (turistas) é muito negativa e não irá trazê-los de novo ao nosso país. Irão espalhar essa mensagem de que não temos condições de fazer turismo. É por isso que estamos a ver Vilankulo cada vez mais desértica, "resorts" a encerrarem, investidores a decidirem fechar os seus hotéis e "lodges" e a irem embora”, acrescenta.Devido aos custos dos bilhetes aéreos, Isabel Pereira, turista portuguesa que anualmente vem a Vilankulo passar férias, prefere a via terrestre, apesar dos atrasos na viagem. Segundo esta turista habitual, é "muito caro viajar para Vilankulo”. Mesmo voando desde África do Sul não é barato. É mais económico vir de carro do que apanhar voo”.
LAM/-Turismo / Moçambique - MP3-Mono
Na província de Inhambane, sul de Moçambique, o setor do turismo contribui com quase sessenta por cento nas receitas. E Vilankulo é a zona de turismo por excelência. Na opinião de Yassin Amugy, para potenciar o setor são necessárias boas estratégias e reduzir os custos do transporte aéreo. "Declarar por si só que é uma zona especial (do turismo) não fará Vilankulo uma zona especial. Declarar que o turismo é um setor prioritário não fará algo do outro mundo, é preciso saber quais são as necessidades que os operadores turísticos têm”, afirma. E diz mais: "Estamos a ficar retardados a nível do turismo. Vir a Vilankulo é mais caro do que ir às Maurícias, Dubai e Bahamas. Precisamos ver como baixar estes custos”.
Obras sobrefaturadas transformam Vilanculos em cidade-fantasma
Falta de transparência, obras inacabadas e a preços exorbitantes. Corrupção generalizada no Conselho Municipal de Vilanculos, em Inhambane, gera construções inacabadas, que não podem aproveitadas pela população.
Foto: DW/L. da Conceicao
O triplo do preço real
No Conselho Municipal de Vilanculos, na província moçambicana de Inhambane, os preços das obras estão a ser adulterados para beneficiar funcionários que recebem comissões ilegais de empreiteiros depois da adjudicação. Três balneários públicos ainda em construção custaram meio milhão de meticais aos cofres públicos, três vezes acima do preço normal.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Construções desnecessárias
O Conselho Municipal de Vilanculos construiu um alpendre com mais de 50
bancas. O investimento foi de 1,5 milhões de meticais, mas, há dois anos, quase ninguém ocupa esta infraestrutura. Os vendedores negam-se a ocupar as
bancas alegando que "não querem servir de fatura de alguém". A obra
não corresponde ao preço real segundo empreiteiros ouvidos pela DW África.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Obras continuam
As construções continuam em Vilanculos sem que ninguém ocupe as bancas. No mercado central, está a ser construído um novo mercado de peixes financiado pelo programa PROPESCA. O valor é de 9,6 milhões de meticais, quatro vezes acima do preço normal. A obra tem um prazo de 240 dias para ser executada e está a cargo da empresa Vilcon, cujo dono é investigado por fuga ao fisco.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Areia vermelha nas ruas principais
Muitas ruas na vila turística de Vilanculos não têm pavimento, mas o Conselho Municipal gasta mais com a colocação de área vermelha do que com paves. Os munícipes reclamam da degradação dos seus automóveis e questionam: "Por que gastar dinheiro com areia enquanto pode-se colocar paves ou saibro com o mesmo valor?". A colocação da areia vermelha facilita o esquema de corrupção no município.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Ruas em péssimo estado
Todos os anos, a Assembleia Municipal aprova o orçamento para a reabilitação desta rua do Mercado Novo. A via, no entanto, continua esburacada. O dinheiro sempre é dividido em comissões e resta pouco para a execução. A empreiteira selecionada é, há dois anos, a única empresa contratada para o efeito e não é sediada em Vilanculos, gerando o descontentamento de empresários locais.
Foto: DW/L. da Conceicao
Arrendamento caro
O sistema de corrupção no Conselho Municipal de Vilanculos tem foco na construção de novas bancas para facilitar a divisão do dinheiro entre os empreiteiros e os funcionários do órgão. É o caso concreto destas 12 bancas que foram construídas há dois anos no bairro 19 de Outubro, mas ninguém quer arrendar. Segundo os vendedores, o arrendamento está muito caro e não há rede elétrica.
Foto: DW/L. da Conceicao
Uma residência que custa milhões
As obras superfaturadas em Vilanculos também envolvem o governo da província de Inhambane. Este projeto prevê um investimento de quase 83 milhões de meticais para a construção de uma residência protocolar. Entretanto, falta transparência. A obra tem duração prevista de cinco anos, mas não se sabe quando começou.
Foto: DW/L. da Conceicao
Cadê o dinheiro?
O conselho empresarial de Vilanculos reclamou recentemente a reabilitação da Rua da Marginal para servir como cartão de visita aos turistas. Entretanto, anualmente tem se colocado areia vermelha para diminuir buracos de modo a permitir a circulação de viaturas, mas a rua continua em estado crítico. Os munícipes sempre questionam: Para onde vai o dinheiro da reabilitação desta via importante?
Foto: DW/L. da Conceicao
Corrupção de barba branca
A corrupção em Vilanculos vem desde há muito tempo. Em 2012, uma obra da reabilitação de uma avenida com quase três quilómetros custou quase 44 milhões de meticais aos cofres do município. A obra esteve a cargo da empresa chinesa Sinohydro e o financiamento veio do fundo de estrada. Até hoje, ninguém sabe
como tanto dinheiro foi gasto nesta obra.
Foto: DW/L. da Conceicao
Funcionários detidos por corrupção
Cerca de dez funcionários do Conselho Municipal de Vilanculos foram indiciados pelos crimes de corrupção e adjudicação de obras acima do preço normal. Dois foram detidos no ano passado por vender terrenos na zona da costa. Mangais foram destruídos para dar lugar à construção de um hotel residencial. Um flagrante desrespeito à lei ambiental.
Foto: DW/L. da Conceicao
Mangal vendido para dar lugar a hotéis
Boa parte da terra na costa foi adquirida por um empresário sul-africano que destruiu o mangal para construir condomínios. Alguns funcionários do Conselho Municipal de Vilanculos ainda estão sendo ouvidos no gabinete de combate à corrupção. A lei ambiental moçambicana proíbe a destruição de mangais e prevê punições.