A passagem de ano em Inhambane, no sul de Moçambique, estará muito longe de ser como é habitual, devido aos efeitos negativos da Covid-19. Será quase sem turistas internacionais. Turismo espera melhores dias em 2021.
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As festividades de final de ano em Inhambane serão diferentes este ano. Nos anos anteriores, por esta altura, a província registava um número considerável de turistas internacionais, que escalam a região para desfrutar das praias e da gastronomia.
Devido aos efeitos da pandemia do novo coronavírus, os operadores turísticos em Inhambane dizem que os cancelamentos de reservas são o problema do fraco movimento turístico.
Herculano Armando, recepcionista de um alojamento turístico na praia de Tofo, disse à DW que tem poucas reservas para a passagem de ano. "Em termos de acomodação as coisas não estão mesmo do jeito que achávamos que tinha que ser, não temos muitos clientes", indicou.
"Infelizmente temos poucas reservas, houve pessoas que cancelaram reservas", disse Herculano Armando, que espera um 2021 melhor. "Gostaríamos que as coisas mudassem no próximo ano."
Restaurantes encerrados
Muitas praias na província de Inhambane encontram-se com restaurantes encerrados, embora funcione a parte de alojamento.
Alexandra Amaro, sub-gerente de um hotel em Inhambane, lamenta os cancelamentos no pacote das hospedagens. "Houve cerca de 95% de cancelamentos, tínhamos muita gente a vir este ano. Para o próximo ano as expectativas não são positivas", declarou.
O movimento de turistas é bem menor em comparação com o ano passado, disse à DW Agostinho Yemba, trabalhador de um restaurante na praia em Inhambane. "Mas de manhã até às treze ou catorze horas a praia fica calma e os restaurantes ficam mesmo vazios. Nos anos anteriores só por abrir o restaurante ficava cheio", disse Yemba.
Para Paulo Correia, gerente de uma escola de mergulho, a Covid-19 não está a facilitar a vinda de clientes internacionais para passeios de mergulho e observação das espécies marinhas.
O gerente lamenta que "não há muito turismo europeu", mas há turistas vindos República da África do Sul, da Zâmbia e do Zimbabué. "Felizmente temos muito turismo local, o que não está a facilitar no negócio", explica Paulo Correia.
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Contratos de trabalho suspensos
O setor do turismo em Inhambane tem milhares de trabalhadores com contratos laborais suspensos, razão que ditou já o encerramento de vários serviços nas praias.
Yassine Amugy, presidente da Associação de Turismo em Vilankulo, enfatiza o uso da tecnologia digital para potenciar os destinos turísticos nos hotéis da região.
"Temos utilizado muito marketing digital para potenciar o destino turístico, os nossos hotéis também têm usado os seus canais de informação para difundir as promoções que existem e isso tem ajudado bastante, faz com que seja um destino de referência", sublinhou Amugy.
O fardo da Covid-19 para as famílias de Inhambane
Milhares de famílias estão a sofrer na província de Inhambane, no sul de Moçambique, desde que eclodiu a pandemia do novo coronavirus. Há pessoas sem emprego, em isolamento, obras paralisadas e os bens escasseiam.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Famílias sofrem por causa da Covid-19
Muitos habitantes da província moçambicana de Inhambane perderam os postos de trabalho por causa da crise provocada pela Covid-19, outros foram dispensados para cumprirem o isolamento social. Por outro lado, há obras paralisadas e faltam vários produtos, principalmente nas zonas rurais. Muita gente está a migrar para as cidades e vilas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
A culpa é do coronavírus
Dulce Eugénio, mãe de dois filhos e residente no bairro Sarrene, na cidade de Maxixe, disse que antes da pandemia o negócio corria muito bem, mas depois ficou sem dinheiro: "Consegui comprar o meu terreno e já estava a construir a minha casa de blocos com este pequeno negócio de vender tomates, cebola, pepino e cenoura, mas essa doença veio atrapalhar toda a situação."
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Coronavírus trouxe mais fome"
Com o confinamento obrigatório decretado em abril de 2020, a situação da fome agravou em Inhambane. Os cidadãos consideram que a pandemia do novo coronavírus "trouxe mais fome e miséria às comunidades". O desespero continua a imperar.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Viver de hortaliças é para quem pode
Há cada vez mais pessoas desempregadas, muitas famílias tiveram de adaptar as receitas em casa e passaram a consumir mais verduras, por exemplo. Mesmo assim, nem todos conseguem comprar, porque as hortaliças também já começam a escassear. Marta Alberto diz que não foi registada para receber o subsídio da Covid-19, concedido pelo Estado, e pede ajuda.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Produção agrícola em queda
Não é só a pandemia que tem sido um problema. Não tem chovido e muitas pessoas abandonaram a atividade agrícola. Os camponeses pedem ao Estado sementes, que estão cada vez mais caras no mercado. Em Inhambane, nem todos os camponeses vão receber o subsídio de dois mil meticais mensais (cerca de 23 euros) para suprir as suas necessidades durante seis meses.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Abandonada pela família e sem apoio
Joana Cândido foi abandonada pela família. Vivia com os netos, mas, com a pandemia, o filho solicitou aos netos que residissem juntos noutro bairro, deixando assim a idosa à sua sorte. Com problemas na perna e dores constantes na coluna, não lhe é fácil ter três refeições por dia. Afirma que não foi selecionada pelo Instituto Nacional de Ação Social (INAS) para receber o subsídio da Covid-19.
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Estamos a sofrer e precisamos de apoio"
Laura Simão foi registada pelo INAS, na cidade de Maxixe, mas ainda não recebeu o dinheiro e afirma não ter comida suficiente. Em situação semelhante estão muitas outras pessoas carenciadas, que foram inscritas mas ainda não receberam os subsídios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Excluída dos apoios, com a panela vazia
Maria João revela que não foi contemplada pelos apoios da Covid-19. Ficou surpreendida, porque não trabalha, tem filhos a seu cargo e a panela vazia. E pede apoio ao Estado.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Enganar a fome
Teresa António trabalhava como doméstica em Inhambane, numa residência, mas, com a pandemia, teve de deixar de trabalhar para os seus patrões. Agora desempregada, diz que é difícil ter arroz na mesa e, muitas vezes, tem de misturar o arroz com tapioca (farinha de mandioca) para conseguir enganar a fome.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Vender mangas para sobreviver à pandemia
Cândida Maurício fazia venda ambulante no centro da cidade da Maxixe, mas - impossibilitada de continuar o negócio na rua por causa da pandemia - teve de se adaptar. Faz agora revenda de mangas na sua residência, mas soma prejuízos e não recebe apoio do Governo.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Perdeu o emprego com a Covid-19
Com o encerramento dos estabelecimentos comerciais em cumprimento do decreto do estado de emergência, João Saul foi demitido do serviço de guarda. Afirma que a pandemia lhe trouxe efeitos negativos que jamais irá esquecer. Sobrevive com o subsídio que recebe por ser desmobilizado - não superior a 50 euros - valor que considera insuficiente.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Sonho perdido?
Nina Cumbe concluiu o 12º ano de escolaridade em Inhambane, em 2019. Antes da eclosão da pandemia, queria concorrer a uma escola técnica profissional, mas não conseguiu, porque muitos estabelecimentos de ensino tiveram que encerrar com a declaração do estado de emergência no país. Agora, tenta ganhar a vida fazendo tranças a amigas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Resta fé e esperança
No meio de tanto sofrimento provocado pela pandemia do novo coronavírus, as famílias estão a lutar para superar a crise. Ilda Joaquim, residente de Inhambane, afirma que o confinamento social agravou a maneira de viver e que está a ser difícil adaptar-se às novas medidas. Reza muito para que consiga ultrapassar esta crise, porque está difícil receber apoios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
À espera de dias melhores
Antes da chegada do novo coronavírus, Maria Alberto fazia trabalhos para terceiros e produzia mandioca para fabricar e vender farinha. Hoje, é uma simples dona de casa que deixa as panelas limpas à espera que o marido traga alguma coisa dos seus biscates diários. Lamenta o sofrimento provocado pela Covid-19, mas vive na esperança de que tudo voltará à normalidade.