Mais de 25 anos depois, ainda é visível a destruição deixada pela guerra na vila de Inhaminga, no centro de Moçambique. Os habitantes continuam a pedir mais investimento do Governo para reabilitar o antigo centro urbano.
Foto: Gerald Henzinger
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No tempo colonial, a vila ferroviária de Inhaminga, era considerada o segundo centro urbano da província de Sofala, depois da cidade da Beira. Hoje em dia, é uma das vilas na região com mais edifícios em ruína.
As marcas da guerra civil moçambicana ainda são visíveis nas perfurações nas paredes. Décadas depois, a vila parece ter caído no esquecimento. Enquanto outras zonas da província florescem, os edifícios têm estado a degradar-se cada vez mais em Inhaminga, que tem cerca de 20 mil habitantes.
Inhaminga: De centro urbano a vila em ruínas
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Celestino Dique nasceu e cresceu nesta vila. Atualmente, gere um complexo residencial, que estava em ruínas, e que foi reabilitado em 1999. Defende a criação de parcerias entre as autoridades e os empresários. O objetivo, diz, é desenvolver a localidade, "dando liberdade às pessoas, aos empresários que querem [o desenvolvimento], e não criar impedimentos".
Já o ancião Elias Languitone lembra que, nos últimos anos, o Governo recuperou alguns edifícios. "Muitos escombros já foram reabilitados. Para dizer que o nosso Governo fez boas coisas", frisa.
Caminhos de Ferro com plano de reabilitação
A DW não conseguiu chegar ao contacto com as autoridades. Muitas das ruínas em Inhaminga pertencem aos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM). A empresa pública diz que está a cumprir, a pouco e pouco, um plano de reabilitação, tanto de edifícios, como de comboios.
O plano prevê a "reabilitação de tudo o que é possível reabilitar em função das possibilidades, porque não é possível reabilitar tudo de uma única vez", explica em entrevista à DW África Augusto Atumane Abdul, diretor-geral dos CFM na região centro. "Em função da necessidade e do tempo, [a empresa] tem reabilitado as infraestruturas e reaproveitado algum material circulante. O que não é possível reaproveitar é abatido", acrescenta.
A beleza de Inhaminga está a ser ofuscada pelas ruínas, comenta o agente económico António João Jone. Mas isso pode mudar, se os proprietários também começarem a "arregaçar as mangas" e a reabilitar ou a vender as suas casas, defende. "Aqueles que têm as casas em escombros, neste momento, que as possam vender para outras pessoas as reabilitarem, mantendo assim a vila como estava", diz.
Inhaminga - cidade de ruínas
Muitos edifícios coloniais desmoronaram na localidade moçambicana de Inhaminga, na província de Sofala no centro do país. Inhaminga, no tempo colonial, era um ponto de confluência de várias vias, entre elas de comboio.
Foto: Gerald Henzinger
Ruína em Inhaminga
A localidade moçambicana de Inhaminga, no tempo colonial, era um ponto de confluência de várias vias, entre elas de comboio. Os edifícios coloniais já desmoronaram. Inhaminga tem cerca de 20mil habitantes e situa-se na provincia de Sofala, a cerca de 180 quilómetros a norueste da cidade da Beira. Esta localidade terá sido, também, palco de massacres perpetrados pela PIDE no tempo colonial.
Foto: Gerald Henzinger
Decadência depois de 1975
Muitos imóveis coloniais, depois da independência em 1975, foram ocupados por funcionários da FRELIMO. Mas os novos donos – regra geral - não se responsabilizaram pela manutenção dos mesmos. E assim não se conseguiu evitar a ruína de muitos edifícios como este em Inhaminga, no centro de Moçambique.
Foto: Gerald Henzinger
As ruínas ainda albergam moradores
Os telhados caíram, as portas e janelas apodreceram, mas a maior parte dos edifícios continua a albergar moradores. Algumas das casas foram cobertas com telhados de chapa. Corrente elétrica pública é algo que não existe. O fornecimento de água é assegurado através de algumas fontes públicas.
Foto: Gerald Henzinger
Avenida em Inhaminga
As avenidas que rasgam Inhaminga são largas e parecem mesmo super-dimensionadas. Espaço é coisa que aqui não falta. A linha ferroviária de Sena tinha sido destruida na guerra, mas foi reaberta em 2012 para assegurar o transporte de carvão extraído em Moatize, provincial de Tete, para o porto da Beira. Inhaminga voltou assim a recuperar alguma importância estratégica, há muito tempo perdida.
Foto: Gerald Henzinger
Cinema em Inhaminga
Este edifício corre um sério risco de desmoronar. Mas por enquanto continua a ser parcialmente utilizado para a exibição de filmes.
Foto: Gerald Henzinger
Fecalismo a céu aberto
As antigas antigas piscinas municipais também já viram melhores dias. Há muito tempo que fecharam. Alguns habitantes utilizam agora o local para fazer as suas necessidades.
Foto: Gerald Henzinger
Calvário de pau
Na igreja de Inhaminga vêem-se peças de Madeira que retratam o tema da Guerra: Inhaminga – durante mais de vinte anos– foi palco de conflitos armados. Primeiro surgiu a guerra entre a FRELIMO e o poder colonial. Depois da independência foi a vez dos rebeldes da RENAMO desafiar o governo da FRELIMO durante a guerra civil moçambicana.
Foto: Gerald Henzinger
Memórias da guerra
Nos tempos coloniais, o Sr. Espanhol trabalhou como motorista da missão católica de Inhaminga. Ele conta que a PIDE matou dois dos seus irmãos. „Foram enterrados vivos com a ajuda de um bulldozer“, recorda o Sr. Espanhol.
Foto: Gerald Henzinger
Antiga sede da administração colonial
O antigo edifício-sede da administração colonial portuguesa encontra-se numa zona limítrofe ao centro de Inhaminga. É mais um dos edifícos que ameaça ruir em breve por completo.
Foto: Gerald Henzinger
Símbolos do poder colonial
A fila de pilares é imponente e faz lembrar que o edifício administrativo era um verdadeiro símbolo do poder colonial. Desde o iníco da guerra colonial, em 1964, a PIDE esteve sempre presente e levou a cabo muitas operações, que culminaram em ataques e detenções arbitrários.
Foto: Gerald Henzinger
Quartel do exército colonial
Também este edifício se encontra destruído: um símbolo do fim da era colonial: o quartel do exército que combatia o movimento de libertação nacional FRELIMO situava-se mesmo ao lado do edifício administrativo.
Foto: Gerald Henzinger
Massacres de Inhaminga
Em Inhaminga todos conhecem o local, onde terão acontecido os massacres das populações locais, durante o tempo colonial. Diz-se que atrás de um muro, a cerca de três quilómetros de distância do centro de Inhaminga, ainda jazem os corpos das vítimas. Pouco se sabe sobre história e práticamente ninguém conhece o local.