Insegurança Alimentar: Governo mostra "dados políticos"?
Adolfo Guerra (Menongue)
8 de junho de 2021
Cerca de 74 mil famílias estarão à beira da insegurança alimentar no Cuando Cubango se o Executivo não tomar medidas urgentes, alerta a ONG Mbakita. Mas o Governo garante que tudo está a fazer para evitar o pior.
Publicidade
Pascoal Baptistiny, diretor-geral da ONG Missão de Beneficência agropecuária do Kubango, inclusão de tecnologias e ambiente (Mbakita), disse recentemente que falta clareza na apresentação real da situação de vulnerabilidade das famílias camponesas da parte do Executivo da província.
Para Baptistiny "a situação afigura-se cada vez mais preocupante" e critica: "Por aquilo que constatamos no terreno o Governo não esta a responder [de acordo] com a realidade das populações e está a usar dados políticos e não realísticos".
"O que constatamos é que não há apoios sérios a nível das comunidades, politicamente fala-se de apoio com cestas básicas às famílias, mas no terreno estes não estão a chegar para ninguém”, revela o responsável da Mbakita.
O também ativista dos direitos humanos conta que a situação das famílias camponesas é grave e apela a intervenção urgente do Executivo.
"A nível do Cuando Cubango, somando os números de pessoas afetadas pela seca e de pessoas afetadas pela praga de gafanhotos, poderemos encontrar o número de 74.981 famílias, perfazendo o número de 388. 322 pessoas", revela o ativista.
E o diretor da ONG questiona: "Se estamos em junho e as pessoas já passam fome, imaginemos quando atingirmos setembro ou outubro, o que será das famílias se estas pessoas não forem assistidas urgentemente com cestas básicas?"
"Podem incorrer numa insegurança alimentar e consequentemente numa desnutrição para as crianças”, responde o mesmo.
Intervenções do Governo
Mais recentemente, sem avançar números das famílias em risco de insegurança alimentar, Adélia Muambeno Samuel, vice-governadora para a área politica, económico e social do Cuando Cubango, garantiu que o Executivo tem vindo a trabalhar no apoio as famílias vulneráveis.
Publicidade
"O Governo já tem estado a dar respostas, há dias, recebemos alguns apoios das empresas e da própria Presidência da Republica de alimentos, matérias de biossegurança para apoiar essas famílias e temos estado já a trabalhar neste sentido", assegura.
Adélia Samuel afirma também que "existem programas específicos direcionado a estas famílias, incluindo o combate a pobreza,”
De referir que a 16 de maio, a província recebeu dois camiões contendo 60 toneladas de produtos diversos para acudir as famílias afetadas com a fome na província.
Na altura, a diretora do Gabinete da Ação Social, Família e Igualdade do Género no Cuando Cubango, Aida Rosalina, falava em 25 mil famílias em situação de vulnerabilidade por causa da seca.
Seca em África
Não chove, as colheitas são más, pouco há para comer, há quem consuma ervas para saciar a fome: É a pior seca das últimas décadas. 14 milhões de pessoas estão em perigo. Angola e Moçambique são dois dos países afetados.
Foto: Reuters/T. Negeri
À espera de água
Os jerricans estão vazios, não há água à vista. A Etiópia atravessa a pior seca das últimas três décadas, sem chover durante meses a fio. Segundo as Nações Unidas, mais de dez milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência alimentar. Em breve, o número pode duplicar.
Foto: Reuters/T. Negeri
Sem fonte de sustento
Uma grande parte dos etíopes vive da agricultura e da criação de gado. Os animais são, muitas vezes, a fonte de sustento da família. "Vi as últimas gotas de chuva durante o Ramadão", conta um agricultor da região de Afar, no nordeste da Etiópia. O mês de jejum dos muçulmanos terminou em julho. "Desde essa altura, nunca mais choveu. Não há água, não há pasto. O nosso gado morreu".
Foto: Reuters/T. Negeri
Perigo para as crianças
Em 1984, mais de um milhão de pessoas morreu de fome na Etiópia. Pouco mais de três décadas depois, os etíopes voltam a correr perigo, sobretudo as crianças. Segundo o Governo etíope, mais de 400.000 rapazes e raparigas estão gravemente subnutridos e precisam de tratamento médico.
Foto: Reuters/T. Negeri
O El Niño
A colheita também foi magra no Zimbabué. Neste campo perto da capital, Harare, em vez de maçarocas de milho viçosas crescem apenas estes grãos secos. A seca foi agravada pelo El Niño. Noutros locais, o fenómeno meteorológico provocou chuvas fortes e inundações.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
No limite
Esta vaca está no limite das suas forças, mal consegue manter-se em pé. Os agricultores de Masvingo, no centro do Zimbabué, tentam movê-la. Em 2015, choveu metade do que havia chovido no ano anterior. Os campos ficaram completamente secos.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca em Moçambique
"Lá no nosso bairro já perdi trinta e cinco cabeças", conta um criador de gado do distrito de Moamba, a 80 quilómetros da capital moçambicana, Maputo. Milhares de famílias estão em situação de insegurança alimentar. A seca afeta principalmente o sul do país. O norte e centro têm sido fustigados por chuvas intensas.
Foto: DW/R. da Silva
Ervas para combater a fome
A província do Cunene, no sul de Angola, também tem sido afetada pela seca. À falta de outros alimentos, há populares que comem ervas para saciar a fome: "Muitos morreram, não há comida. Mas, depois, estas ervas causam diarreia", contou um morador do município do Curoca.
Foto: DW/A.Vieira
Rio seco
Seria impossível estar aqui, não fosse a seca. O rio Black Umfolozi, a nordeste da cidade sul-africana de Durban, ficou sem água à superfície. Só cavando os habitantes conseguem obter o líquido vital.
Foto: Reuters/R. Ward
Seca inflaciona os preços
O Malawi também atravessa um período de seca. E isso reflete-se aqui neste mercado perto da capital, Lilongwe. Os preços de produtos básicos como o milho aumentaram bastante, porque a colheita foi má e é necessário importá-los. Muitas vezes, os habitantes mal conseguem pagar os alimentos que precisam para sobreviver.