Este mês, pelo menos nove pessoas morreram num novo surto de ébola na província de Kivu do Norte, no leste da República Democrática do Congo. Insegurança na região condiciona o combate à doença, alerta OMS.
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As autoridades da República Democrática do Congo (RDC) e os seus parceiros já estão no terreno para identificar possíveis casos de ébola e vacinar a população em risco. Mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) teme que a insegurança na província de Kivu do Norte dificulte os trabalhos.
"Há grupos armados ativos na região e algumas das zonas para onde vamos enviar as nossas equipas são consideradas zonas interditas pela missão das Nações Unidas na RDC", afirma o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, em entrevista à DW.
A província é palco de conflitos fomentados por grupos rebeldes há mais de 20 anos. Na região estão estacionados capacetes azuis da missão das Nações Unidas no país (MONUSCO), além das forças de segurança congolesas. Mesmo assim, continua a haver ataques contra civis. Centenas de milhares de habitantes foram obrigados a deixar as suas casas e muitos deles procuram refúgio em países vizinhos.
Medo de alastramento
O medo de que este novo surto de ébola passe a fronteira é grande. Por isso, o Uganda já tomou medidas.
"Tivemos de enviar equipas de vigilância para o terreno, que estão a monitorizar todas as pessoas que chegam ao Uganda vindas da RDC, para garantir a segurança dos nossos cidadãos", adiantou a ministra da Saúde ugandesa, Sarah Opendi, contactada pela DW.
Segundo o Ministério da Saúde da RDC, este é o décimo surto de ébola no país desde 1976 - o último fez 33 mortos na província de Equador e só foi dado como extinto no final de julho.
Insegurança dificulta combate ao ébola na RDC
Plano B
O porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, refere que sobraram 3 mil doses de vacinas do último surto, que podem começar a ser usadas imediatamente em Kivu do Norte.
Na província já estão 30 especialistas da organização, além de membros do Ministério da Saúde congolês e parceiros. Mas a região é vasta, a insegurança é muito grande em algumas zonas e poderá ser difícil identificar pessoas que tenham estado em contacto direto com vítimas de ébola e estejam em risco. Por isso, a OMS prevê uma abordagem diferente de outras no passado.
"Podemos ter de ser mais flexíveis, face a estas dificuldades de segurança", admite Jasarevic. "Se soubermos que há uma pessoa infetada numa aldeia, podemos ter de vacinar a aldeia inteira, porque não temos tempo para passar horas a fio a tentar identificar pessoas em específico."
A grande preocupação da OMS é conseguir aceder a zonas consideradas perigosas, onde precisa de ir. Mas, para isso, está a contar com o apoio da MONUSCO.
Ébola: luta contra o vírus mortal
Apesar das medidas preventivas, algumas pessoas já se contaminaram com o vírus na Europa e Estados Unidos. Cuidadores utilizam trajes para prevenir a propagação, mas na África a proteção ainda deixa a desejar.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Woitas
Traje de proteção
Na luta contra o ebola, roupas de proteção adequadas para médicos e enfermeiros são essenciais. Toda a pele deve ser coberta com material impenetrável pelo vírus. Mas trajes apenas não bastam, também é necessário seguir corretamente as prescrições de segurança.
Trabalho em conjunto
Os profissionais de saúde devem treinar a colocação correta dos trajes protetores. Como aqui, na unidade especial de isolamento de Düsseldorf. Novos trajes são utilizados a cada vez, para que não haja risco de contaminação no processo. Dessa forma, cuidadores sem proteção também podem ajudar os colegas a se vestir.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Isolamento total
Os quartos dos pacientes na unidade de isolamento em Düsseldorf são completamente protegidos do mundo exterior. O ar é filtrado e as águas residuais são tratadas separadamente. As vestes de proteção, que os cuidadores trajam permanentemente, são pressurizadas. Essas medidas de segurança vão além do necessário: o ebola pode ser transmitido por objetos contaminados, mas não pelo ar.
Após o tratamento dos pacientes, todo o traje é aspergido por fora com desinfetante, a fim de eliminar potenciais contaminações viróticas. Somente após essa ducha as vestimentas podem ser removidas, cuidadosamente.
Foto: picture-alliance/dpa/Sebastian Kahnert
Ajuda externa
Durante a remoção dos trajes protetores, os profissionais de saúde devem ser extremamente cautelosos. Luvas de proteção permanentemente instaladas nas aberturas da câmara permitem ajuda externa sem contato direto com o traje. Após o uso, estes são imediatamente descartados e incinerados.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Enfermeiras contaminadas
Apesar dos altos padrões de segurança, , na Espanha e Estados Unidos três enfermeiras contraíram a doença. As circunstâncias da contaminação ainda não foram esclarecidas. As residências das profissionais (na foto, Texas) foram isoladas e desinfetadas após a descoberta do contágio.
Foto: Reuters/City of Dallas
Proteção em África
Agora, médicos e enfermeiros na África Ocidental também foram equipados com trajes protetores. No entanto, estes nem sempre obedecem as normas para uma proteção efetiva. Por vezes, pequenas áreas da pele ficam descobertas ou o material usado é permeável. Além disso, colocar e retirar o traje pode ser arriscado.
Foto: picture alliance/AP Photo
Isolando os mortos
Os funerais das vítimas do ebola também requerem cuidados extremos. Na África Ocidental, a tradição de os familiares de lavarem os corpos dos mortos resultou em numerosas novas infecções. Para família e amigos, costuma ser difícil compreender e acatar as rigorosas medidas de isolamento.
Foto: Reuters/James Giahyue
Isolamento em barracas
Numa região onde os cuidados médicos são extremamente precários, uma epidemia das atuais proporções representa um enorme desafio. Os infectados são tratados em barracas improvisadas, como se vê na foto feita na Libéria. No entanto, até mesmo um país como a Alemanha ficaria sobrecarregado nessas circunstâncias. No momento, há apenas 50 leitos nas unidades de isolamento alemãs.
Foto: Zoom Dosso/AFP/Getty Images
Incineração em vez de sol
Em algumas regiões afetadas na África Ocidental, os trajes contaminados são pendurados para secar ao sol, numa tentativa de desinfetá-los para reutilização. No entanto, é muito mais seguro as roupas serem imediatamente incineradas após o uso, como ocorre na Guiné. Escassez e altos custos dos trajes dificultam essa medida: as roupas de proteção custam entre 30 e 200 euros.
Foto: Cellou Binania/AFP/Getty Images
Controles nos aeroportos
As viagens aéreas são a maior ameaça na transmissão de longa distância do vírus. Por esse motivo, a temperatura dos passageiros está sendo monitorada em alguns aeroportos. Entretanto, o método não oferece garantia absoluta, já que o período de incubação do ebola é de 21 dias.