Insegurança suspende ajuda humanitária no nordeste nigeriano
AFP | tms
10 de março de 2018
Médicos Sem Fronteira e ONU mantêm suspensão de ajuda humanitária após a morte de três trabalhadores em ataque do Boko Haram, no início do mês, na cidade de Rann.
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A organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) prolongou este sábado (10.03), por tempo indeterminado, a suspensão da ajuda humanitária na cidade de Rann, na fronteira com os Camarões, no nordeste da Nigéria. A medida foi adotada desde a morte de três trabalhadores humanitários durante um ataque do grupo jihadista Boko Haram, a 1 de março.
"Nós achamos que aquela região toda não está protegida", alertou a coordenadora de emergência da organização MSF, Kerri Ann Kelly, que disse que "sem a proteção necessária será muito difícil trabalhar".
Além da MSF, a Organização das Nações Unidas (ONU), que atende a população naquela região, também suspendeu os seus serviços após o ataque. Inicialmente, a suspensão duraria até a última sexta-feira, mas foi prolongada até a próxima terça-feira (13.03), informou a ONU em Abuja.
Ajuda humanitária
A organização humanitária MSF, a agência das Nações Unidas para crianças (UNICEF) e o Comité Internacional da Cruz Vermelha fornecem alimentos de emergência, cuidados médicos e outros serviços para cerca de 80 mil pessoas em Rann. Destes, 55 mil viviam num acampamento para pessoas deslocadas pela insurgência islâmica, que começou em 2009 e devastou o nordeste da Nigéria, matando pelo menos 20 mil pessoas.
Kerri Ann Kelly disse que a suspensão deixa essas pessoas sem cuidados de saúde e nenhum acesso à distribuição de alimentos – e o tempo pressiona as organizações a retomar as atividades antes da chegada do período de chuvas, em meados de maio.
No ano passado, a ajuda humanitária na cidade de Rann foi interrompida devido a inundações durante as chuvas, enquanto em todo o nordeste a escassez de alimentos se torna mais aguda e doenças como a malária aumentam.
A ONU apelou este ano por mais de um mil milhões de dólares para financiar suas operações no nordeste da Nigéria, onde a insurgência deixou milhões de pessoas sem lar e dependentes da ajuda. O ataque na cidade de Rann também provocou novas dúvidas sobre as alegações do Governo, de que os jihadistas do Boko Haram estão derrotados.
Nigéria: Dar e receber para sobreviver
Fugiram do grupo terrorista Boko Haram e vivem sem dinheiro no campo de refugiados de Bakasi, na Nigéria. A troca de produtos foi a solução que muitos encontraram para sobreviver e satisfazer necessidades básicas.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Alguma autonomia
Os alimentos e os produtos doados nem sempre são os desejados. Dinheiro e trabalhos remunerados são raros no campo de refugiados de Bakasi, no nordeste da Nigéria. Com a troca de produtos, os refugiados encontraram uma maneira de satisfazer as suas necessidades.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Dinheiro significa corrupção
"Nós não ganhamos dinheiro. Por isso é que fazemos as trocas", explica Umaru Usman Kaski. O refugiado quer trocar um molho de lenha no valor de 50 nairas (cerca de 11 cêntimos de euro) por alimentos para a família de oito membros. Muitos residentes preferiam receber dinheiro. Mas o risco é grande porque a corrupção na rede de distribuição do campo é generalizada.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Arroz em troca de farinha
Falmata Madu (à dir.) troca arroz pela farinha de milho de Hadisa Adamu. As refugiadas fazem parte dos dois milhões de pessoas que fugiram do Boko Haram. Uns refugiaram-se no interior do país, outros no estrangeiro. Há mais de oito anos que o grupo terrorista aterroriza o nordeste da Nigéria, onde quer estabelecer um califado. Segundo a ONU, esta é uma das piores crises humanitárias mundiais.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Milhares de refugiados
Há 670.000 refugiados nos vários campos espalhados pelo nordeste da Nigéria. No campo de Bakasi, nos arredores da cidade de Maiduguri, capital do estado de Borno, vivem 21 mil pessoas. Em troca do seu milho, Falmata Ahmadu recebe folhas de amaranto de Musa Ali Wala.
Foto: Reuters/A. Sotunde
"Não havia mais nada"
Abdulwahal Abdulla não gosta muito de peixe. Mas as pequenas tilápias foram a única coisa que conseguiu comprar porque os produtos são muitos escassos. Em vez do peixe seco, que custou 150 nairas (cerca de 36 cêntimos de euro), o refugiado de 50 anos, que vive no campo de Bakasi há três anos, preferia ter comprado óleo.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Necessidades alteram-se
Nasiru Buba (à dir.) comprou detergente com o dinheiro que conseguiu a trabalhar como porteiro na cidade. Na altura, não precisava de nada especial. Agora precisa urgentemente de amendoins, mas já não tem dinheiro. "A minha mulher acabou de ter um bébé, mas não tem leite", diz Buba. Acredita-se que os amendoins estimulam a produção de leite.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Violência sem fim à vista
Maiduguri é considerada o berço do Boko Haram e centro de violência. Em finais de dezembro de 2017, pelo menos nove pessoas morreram num ataque do grupo terrorista na capital do estado de Borno. Face a este cenário, é pouco provável que os refugiados deixem o campo de Bakasi em breve. Por enquanto, a troca direta de bens deverá continuar.