A violência na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, já começou a afetar o setor turístico. Muitos turistas estrangeiros com reservas para o final de ano optaram por cancelar.
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Na ilha do Ibo, situada no arquipélago das Quirimbas, a cerca de 80 quilómetros da capital provincial, Pemba, é possível apreciar várias espécies marinhas, praticar o mergulho em águas cristalinas e pescar. Também a beleza paisagística e arquitetónica atraem os visitantes. Ao longo da sua história, a ilha do Ibo foi sempre lugar de eleição de turistas em todas as épocas e especialmente no final de ano. Mas a situação em 2018 é outra.
Os operadores turísticos dizem que os ataques no extremo norte da província causaram um decréscimo importante dos visitantes na ilha. Os cancelamentos prejudicam o negócio, diz Chris Chris, proprietário de uma estância turística na ilha: "Eu estou aqui há quatro anos e meio e o turismo só registava subidas. Em 2018 já perdemos 25% de turismo no Ibo devido aos ataques no continente. As pessoas têm medo. Acham que há muitos problemas no Ibo. Em junho e julho tivemos 300 reservas canceladas", desabafou.
População afetada por quebra
Jörg Salzer, cidadão alemão que explora um hotel na ilha há mais de dez anos, também não esconde o seu desagrado com a situação. "Nos anos anteriores havia muito movimento turístico, mas sabemos que estão a acontecer ataques, embora muito mais do lado de Palma. As notícias de lá e de outros lugares são más e influenciam negativamente o nosso negócio", diz Salzer.
A situação afeta todos os ilhéus dependentes do turismo, sobretudo no comércio artesanal. Atija Bacar é gerente de uma loja que vende peças de artesanato. "Aqui vende-se roupa, colar de palha, colar de folha de mangueira, colar de matope, pasta, anel, esteira. Mas este ano o movimento está muito fraco, não há clientes", disse Bacar à DW África, salientando as implicações negativas no rendimento.
Polícia reforça medidas de segurança
As autoridades do turismo em Cabo Delgado afirmam que, este ano, o desempenho do setor registou subidas na ordem de 2% em comparação a 2017. Mas Iolanda Nilza Almeida, diretora provincial de Cultura e Turismo ressalva que não se trata de um aumento significativo: "No ano passado tivemos 212.852 dormidas e este ano tivemos mais, 216.425. É certo que tivemos maior número de turistas nacionais", mas as entradas dos turistas estrangeiros recuaram bastante, disse a responsável.
A DW África informou-se junto à polícia local sobre as medidas de segurança na província, principalmente nos locais turísticos como a Ilha do Ibo. Augusto Guta, porta-voz do Comando Provincial da Polícia em Cabo Delgado descreveu a situação como calma e controlada. "Estamos reforçados em meios humanos e materiais e estaremos fazendo patrulhamento, usando todos os meios que temos nestes lugares turísticos e em toda a extensão da província de Cabo Delgado", disse Guta.
Instabilidade em Cabo Delgado afeta turismo
Identidade de assaltantes por esclarecer
Populares e turistas interpelados pela DW África consideram a ilha um local seguro. Um sentimento que é partilhado pelos operadores turísticos, como Jörg Salzer: "Nunca aconteceu algo mau ou violência no Ibo, nem no caminho para aqui. E nunca aconteceu nada em Pemba. Esta zona específica é bem segura, não há problemas de segurança aqui".
Os ataques de grupos armados desconhecidos nos distritos situados na zona norte de Cabo Delgado iniciaram em outubro de 2017. Durante a apresentação do seu Informe sobre o Estado Geral da Nação, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, associou o fenómeno a banditismo e prometeu medidas para neutralizar os "malfeitores".
Do luxo à decadência - o Grande Hotel da Beira
O Grande Hotel da Beira trazia o título "O Orgulho da África". Com a guerra civil, entrou em decadência. O que era o "esplendoroso" hotel é hoje um esqueleto de cimento, cinza e negro. Mas ainda há vida no hotel.
Foto: Oliver Ramme
Do luxo à decadência
A festejada inauguração do Grande Hotel da Beira trazia o título "O Orgulho da África". Mas com a guerra civil moçambicana, o empreendimento realmente entrou em decadência. O prédio foi esvaziado e veio a servir de abrigo para refugiados. O que era o "esplendoroso" hotel é hoje um esqueleto de cimento, cinza e negro.
Foto: Oliver Ramme
Sinais do abandono
O hotel está localizado na Avenida Mateus Sansão Muthemba, no bairro da Ponta Gêa, quinze minutos à pé do centro da cidade. O Grande Hotel nunca teve muito sucesso comercial, nem no tempo colonial português, e foi abandonado pelos donos. A construção ficou escurecida por todos os lados pela ação do tempo e falta de manutenção.
Foto: Oliver Ramme
A natureza reconquista o lugar
O empreendimento português oferecia 110 suítes luxuosas em 12 metros quadrados. Mas hoje em dia pouco resta do esplendor dos tempos em que estava a funcionar como hotel. A natureza começa a recuperar o espaço. Crescem árvores nos balcões do prédio.
Foto: Oliver Ramme
Cenário para filmes
O foyer do hotel tem o tamanho de um ginásio desportivo. Nas extremidades, a luz entra pelas imensas janelas e crianças aproveitam para brincar no local. O cenário é estranho e atrai jornalistas, escritores e realizadores. O antigo hotel já serviu de cenário para vários filmes como "Hóspedes da Noite", do brasileiro Licínio Azevedo, e "Grande Hotel", da belga Lotte Stoops.
Foto: Oliver Ramme
Quiosques nos corredores vazios
Onde antigamente passavam os empregados do hotel para servir os clientes, encontram-se espaços vazios. Em diversos cantos, alguns moradores vendem bebidas, comidas e outros produtos.
Foto: Oliver Ramme
Escadarias sem corrimãos
A maioria dos moradores quer sair do Grande Hotel. O lugar não oferece muitas condições e nem é seguro. Nas escadarias foram retirados, ao longo dos anos, os corrimãos. Quem não tiver cuidado, arrisca uma queda de vários andares que pode ser mortal.
Foto: Oliver Ramme
Fogueira de lenha no Grande Hotel
No chão de cimento – há muito tempo que as alcatifas desapareceram –, um fogo de lenha de carvão serve para cozinhar. Num hotel normal, o fumo riria acionar o alarme de fogo. Aqui, no Grande Hotel da Beira, já há muito tempo que não há alarmes.
Foto: Oliver Ramme
Lixo: um dos maiores problemas
Uma dor de cabeça para muitos moradores são os detritos que se acumulam nas partes baixas do Grande Hotel. Chegam a ter vários metros de altura – um risco para a higiene de todos os moradores. De vez em quando, há ações de limpeza e a comissão dos moradores tenta melhorar a recolha de lixo, mas muitas vezes em vão.
Foto: Oliver Ramme
4.000 moradores
Onde antigamente 110 suítes luxuosas eram ocupadas por não mais de 250 pessoas, vivem hoje aproximadamente 4.000 pessoas. Terraços, antigos quatros de serviço e espaços em baixo de escadas servem para os "apartamentos" de hoje. Muitos chegaram como refugiados da guerra civil. Porém, antes de poder morar aqui, quase todos tinham que pagar uma comissão a outros moradores.
Foto: Oliver Ramme
Vistas
As secções que ligavam as várias partes do hotel já não têm janelas. Abrem-se vistas bonitas. De um lado, para o centro da Beira – o Grande Hotel fica apenas a quinze minutos à pé do centro da segunda maior cidade de Moçambique. Do outro lado é possível ver o Oceano Índico a poucos metros do Grande Hotel, apenas separado do mar pela avenida marginal.
Foto: Oliver Ramme
Que futuro para o Grande Hotel?
A piscina do Grande Hotel já há muito tempo não vê nenhum turista a tomar banho. Qual o investidor que teria interesse pelas ruínas de um hotel que já estava decadente mesmo durante a administração portuguesa? A maioria dos moradores do Grande Hotel não conta que vão ter que ceder o seu espaço para que o Grande Hotel possa ressuscitar e abrigar de novo turistas nas suas suites de luxo.