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Ataques em Cabo Delgado: Vertente marítima ganha importância

Lusa | ni
20 de julho de 2020

"Os insurgentes perceberam que atacar por via marítima era uma opção viável e que o risco de serem intercetados pela segurança marítima moçambicana é baixo", entende o analista Timothy Walker.

Strand in Mosambik - Anadarko
Palma, Cabo Delgado, uma das regiões frequentemente atacada pelos insurgentesFoto: DW/Estácio Valoi

Analista do Instituto de Estudos de Segurança da Universidade de Pretória, África do Sul, considera que a vertente marítima está a ganhar importância no conflito em curso na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.

Num artigo académico sobre os ataques na região, Timothy Walker refere que "nos últimos meses a insurgência sangrenta na província de Cabo Delgado teve uma viragem marítima sem precedentes que, se piorar, pode ter profundos impactos socioeconómicos e implicações de segurança para a África Austral".

O analista recorda que o grupo inspirado pelo Estado Islâmico Al-Sunnah "lançou ataques frequentes nas vilas costeiras e usou ataques coordenados por mar e terra quando recapturou a cidade de Mocímboa da Praia", o que para ele "mostra que os insurgentes perceberam que atacar por via marítima era uma opção viável e que o risco de serem intercetados pela segurança marítima moçambicana é baixo".

Uso de vias marítimas pode escalar a violência

Militares a patrulharem ruas de Mocímboa da Praia, Cabo DelgadoFoto: Getty Images/AFP/A. Barbier

O grupo está a evoluir de um padrão de "ataques destrutivos" para a "ocupação temporária de cidades, numa escalada destinada a obter um controlo mais permanente sobre o território e as comunidades", argumentou o analista, vincando que isto "aponta para uma escalada iminente no combate".

A utilização crescente das vias marítimas pode escalar também não só do ponto de vista da violência na província, mas também na própria região.

"Nestas condições, há quem alerte que o norte de Moçambique pode tornar-se uma plataforma para o lançamento de assaltos e servir de base a redes criminosas na região, incluindo a pirataria, o que coloca um risco significativo, já que a atividade marítima é essencial para ajudar as pessoas deslocadas do país e o Governo está cada vez mais dependente das receitas das exportações de gás oriundas das enormes reservas ao largo da costa", aponta o analista.

Importância da segurança marítima

Aldeia da Paz, Macomia, depois de um ataque dos insurgentesFoto: AFP/M. Longari

Defendendo o envolvimento da Comunidade dos Países da África Austral (SADC), o analista argumenta ainda que "apesar de a segurança marítima em si própria não garantir vitória em terra contra a Al-Sunnah, pode fornecer uma âncora para garantir que as iniciativas de segurança ficam firmemente nas mãos do Governo de Moçambique e na SADC".

Mocímboa da Praia é uma das principais vilas da província, situada 70 quilómetros a sul da área de construção do projeto de exploração de gás natural conduzido por várias petrolíferas internacionais e liderado pela Total.

A violência armada dos últimos dois anos e meio já terá provocado a morte de, pelo menos, 700 pessoas e uma crise humanitária que afeta cerca de 211.000 residentes.

As Nações Unidas lançaram, no início de junho, um apelo de 30 milhões de euros à comunidade internacional para um Plano de Resposta Rápida para Cabo Delgado para ser aplicado de maio a dezembro.

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