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Cabo Delgado: Solução não vem de fora, diz investigadora

30 de maio de 2020

É preciso ajuda externa para combater insurgentes em Cabo Delgado? A pesquisadora Emília Columbo entende que sim, mas lembra que a solução é responsabilidade do Governo e do povo. Ter estratégia é necessário, diz.

Mosambik, Macomia: Mucojo village had houses destroyed by armed groups
Aldeia de Mucojo, Cabo Delgado, depois de um ataque dos insurgentes Foto: Privat

A insurgência em Moçambique assume a cada dia proporções alarmantes. O Governo não consegue fazer frente às crescentes investidas dos insurgentes, os últimos resultados bem sucedidos foram graças à intervencão de mercenários alegadamente ao serviço das autoridades. Deveria o país apelar à ajuda do ocidente? Falámos com a pesquisadora do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais (CSIS) nos EUA, Emília Columbo sobre os desenvolvimentos na província nortenha do país.

DW África: Vê possibilidades de a insurgência se alastrar para o resto do país?

Emilia Columbo, pesquisadora do CSISFoto: Privat

Emilia Columbo (EC): Isso depende de dois fatores: o primeiro, a insurgência desenvolver uma política e uma mensagem que apela à juventude, ao povo, principalmente à juventude de outras partes do país. Por enquanto, eles têm estado muito caladinhos, só agora em março começámos a ver mais vídeos e fotografias em que falam mais da Lei Sharia, que rejeita o Governo da FRELIMO, que fala em querer ajudar os pobres, principalmente os muçulmanos. Essa é uma mensagem que interessa à juventude fora de Cabo Delgado ou não. Também há outro fator importante a considerar: a capacidade desta organização de enviar o seu poder para fora da província. Nós vemos, por enquanto, que estão a trafegar mais na costa da província, das poucas vezes que experimentaram entrar mais para o interior talvez não foram tão bem sucedidos e voltaram para trás. Mas, agora que o grupo está a crescer e está a demonstrar mellhor capacidade, será que podem controlar os caminhos principais? Será que podem começar a alargar para fora da província? Isso é outra situação que é preciso ver. E se puderem fazer as duas coisas, depois tem mais essa possibilidade de a insurgência se alastrar para fora da província, mas enquanto nao têm essa capacidade e nem esse apelo [não o fazem], pois ainda têm a possibilidade de aguentar a insurgência dentro das fronteiras da província.

DW África: Acha que os principais parceiros ocidentais de Moçambique devem oferecer ajuda concreta e desinteressada ao país? Se sim, de que forma?

Dois distritos frequentemente atacados pelos insurgentes em Cabo DelgadoFoto: DW/A. Chissale

EC: Eu acho que sim, que os parceiros de Moçambique podiam oferecer ajuda. Mas para essa ajuda ter um maior impacto, o primeiro passo é o Governo desenvolver a sua estratégia e é uma estratégia que tem [de ter] um aspeto de segurança e militar, mas também sociais e económicos para ajudar o povo. O Governo moçambicano é a entidade que tem de ter a maior vontade de ver a estabilidade e capacidade de tomar conta [da situação]. Esta é uma situação que começou em Moçambique e vai ter de acabar lá, o Governo e as suas estratégias, os de fora não podem vir concertar este problema, eles podem apoiar, podem oferecer assessores e apoio de inteligencia. Mas, no final das contas, isso acaba lá, com o povo e Governo de lá.

DW África: Acha que convém ao Governo moçambicano apelar para a ajuda ocidental?

EC: A minha mãe diz "quem pergunta não ofende". Sei que as circunstâncias pelo mundo fora estão muito difíceis, mas há coisas que se podem fazer com os parceiros ocidentais, eles podem apoiar o Governo com assessores e assistência em desenvolver uma estratégia, coisas que não custam muito dinheiro, que não custam muitos recursos, mas que podem ter um impacto muito grande e isso seria um passo muito importante para ajudar a fornecer estabilidade na província outra vez.

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