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Insurgentes exploram "fraqueza" das forças de segurança

14 de março de 2024

A insurgência em Cabo Delgado só vive um pico de ataques por causa da "fraqueza" das forças de segurança, mas nunca esteve em declínio, considera especialista em contraterrorismo.

Retirada da SAMIM [forças da SADC] de áreas cruciais e Cabo Delgado é vista como "fraqueza" por Jasmine Oppermann, especialista em contraterrorismo
Retirada da SAMIM [forças da SADC] de áreas cruciais e Cabo Delgado é vista como "fraqueza" por Jasmine Oppermann, especialista em contraterrorismoFoto: ALFREDO ZUNIGA/AFP

A insurgência em Cabo Delgado só vive um pico de ataques por causa da "fraqueza" das forças de segurança, mas nunca esteve em declínio, considera Jasmine Oppermann, especialista em contraterrorismo do Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês). Altos e baixos são intrínsecos à insurgência, mas a diminuição das suas ações não deve ser entendida como fraqueza, adianta. "Conquistar corações e mentes" na terra natal das lideranças terroristas faz parte da nova estratégia dos insurgentes no norte de Moçambique, afirma a especialista, para quem matar possíveis "traidores" também é prioridade ods terroristas.

Deutsche Welle (DW): A insurgência está a despertar em Cabo Delgado com uma nova estratégia?

Jasmine Opermann (JO): Tenho um problema com a palavra despertar, pois implica que a insurgência estava num estado de declínio, o que não é o caso. Que os insurgentes passaram por uma fase de retirada, de contenção, de dificuldade, para se movimentar livremente e para executar ataques como antes, por exemplo, de 2022, sim, [isso aconteceu] sem dúvida, por causa da presença das forças de segurança.

No entanto, devemos lembrar que os insurgentes, os seus líderes, sempre estiveram no poder – só ouvimos os relatos sobre a morte de Ibn Omar. Penso que "despertar" é colocar ênfase na fraqueza dos insurgentes. Estamos a atravessar os altos e baixos normais de uma insurgência e o que estamos a assistir agora é a exploração de uma fraqueza nas forças de segurança. Refiro-me aqui à retirada da SAMIM [forças da SADC] de áreas cruciais como as zonas costeiras de Macomia e à oportunidade de recuar para mais perto de Pemba.

Deslocados internos proveniente de Cabo Delgado, em NampulaFoto: Sitoi Lutxeque/DW

DW: Há cerca de um mês, o Estado Islâmico anunciou uma "viagem de pregação". Era uma promessa de massacres que hoje se intensificam?

JO: "Conquistar corações e mentes" está presente na insurgência, mais ou menos, desde 2021, mas não vamos vincular isto a uma data exata. Então, quando se fala de "conquistar corações e mentes", estamos perante uma narrativa mais focada em propagar uma mensagem extremista e incentivar um estilo de vida específico associado a essa narrativa extremista. Está a expandir-se. E ainda não vimos isso ao nível do que está em jogo na insurgência. Mas vamos apenas compreender que se olharmos, por exemplo, para Mocímboa da Praia, se olharmos para a zona costeira de Macomia, conquistar os "corações e mentes” das comunidades e obter o apoio real das comunidades locais sempre esteve em jogo. Se olharmos para a liderança atual, são predominantemente pessoas de Mocímboa da Praia e áreas adjacentes. Então, estamos a olhar para uma insurgência para encontrar um contexto local em que ela esteja a ganhar apoio. 

O ângulo que foi divulgado agora é a narrativa do Estado Islâmico. Há definitivamente um foco em "conquistar corações e mentes". Isto não exclui relatos sobre decapitações, relatos sobre civis mortos. Eles não são mutuamente exclusivos. Onde as pessoas não cumprem, onde as pessoas não apoiam, onde as pessoas são vistas como colaboradoras das forças de segurança, elas serão mortas. Portanto, não vejamos a nova estratégia como uma completa ausência de brutalidade. Um alimenta o outro.

DW: Porém, nesta nova fase de violência, nota-se que algumas vidas são poupadas...

JO: A matança e o sofrimento de civis desde 2017 foram – e ainda são – extensos, horríveis e trágicos. Assim, referir-se a um novo massacre ou a insurgentes a apostar num massacre é negar uma tendência que tem estado em jogo. Vemos isso apenas nas estatísticas de pessoas que fogem de Macomia neste momento, até mesmo de Mocímboa da Praia. Para referir-se a "vamos ver um novo massacre?", sim, isso sempre esteve em jogo. Mas o que estamos a ver na insurgência agora é uma intenção muito focada em termos de quem é morto. O que estamos a ver agora, que está presente novamente desde 2017, é que as pessoas vivem com medo e preferem fugir.

Portanto, o massacre como "estratégia" deve ser definido mais claramente. Sempre fez parte da insurgência matar aqueles que não apoiam, matar aqueles que colaboram com o Governo e fazer cumprir, raptar e até doutrinar a juventude de Cabo Delgado. O massacre tem sido uma variante subjacente que não podemos ignorar, embora o massacre deva ser definido como acabei de explicar.

Reforço da narrativa extremista para conquistar apoio?

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