Está interrompida a circulação rodoviária entre Moatize e Tete, centro de Moçambique, devido às inundações que deitaram abaixo parte da ponte sobre o rio Rovubwe. Morreram pelo menos dez pessoas e há muitos desalojados.
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No total, as inundações provocadas pela tempestade tropical Ana já fizeram pelo menos 10 mortos em Moçambique. Em Tete, as cheias provocaram a morte de pelo menos sete pessoas, desalojaram mais de 300 famílias e inundaram vários bairros da cidade no centro do país.
Entretanto, foi hoje encontrado sem vida, na zona baixa de Benga, o administrador do distrito de Tete, José Maria Mandere, vítima da fúria da tempestade. Mandere integrava a comitiva do governador de Tete, Domingos Viola, que estava no terreno a avaliar o impacto do mau tempo na província.
Em entrevista à DW África na segunda-feira, o governador de Tete disse que mais de duas mil pessoas poderão ser afetadas pelas inundações só na cidade de Tete. "A situação é péssima. Nunca tivemos uma situação idêntica na nossa cidade. Dois ou três bairros estão inundados devido à fúria das águas do rio Rovubue", lamenta.
Uma comissão multisetorial foi criada para apoiar no resgate das pessoas. Júlio Calengo, membro desta equipa, descreve o cenário vivido na cidade de Tete: "Muitas casas estão por baixo das águas e as famílias estão na estrada sentadas. É muito triste e preocupante aquela situação. Acredito que até amanhã será possível saber o grau dos danos causados pelas cheias."
Retirar as famílias das zonas de risco
Até ao final do dia desta terça-feira (25.01), pelo menos 200 famílias já tinha sido retiradas das zonas de risco nos bairro Chingodzi, para a Escola Industrial de Matundo, segundo confirmoU à DW África Júlio Calengo.
"Temos crianças, idosos. E a nossa preocupação é ter cobertores, vestuários para as crianças e alimentação garantida para estas pessoas", diz.
Moçambique: Residentes de Pemba enfrentam drama das chuvas
02:48
Domingos Viola garante que há mantimentos apenas para as próximas horas e lamenta que parte das famílias afetadas pelas inundações no Bairro Chingodzi já tinham sido reassentadas depois das cheias de 2019.
"Significa que temos de ser mais persistentes e colocar estas pessoas em locais mais seguros, para que as mesmas não voltem a sofrer pelos mesmos fenómenos nos próximos tempos", explica.
A Direção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos alerta que a cidade de Tete ainda está numa situação de risco, segundo explica Agostinho Vilanculos numa entrevista à STV, parceira da DW.
"Neste momento estamos com um nível muito alto na Bacia do Rovubwe e já ultrapassou o alerta em quase quatro metros e continuamos a receber a precipitação acima de 100 milímetros em 24 horas e isso é preocupante", afirmou.
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Ponte nova parcialmente destruída
A fúrias das águas derrubou uma parte da recém-inaugurada ponte sobre o rio Rovubwe, ligando as cidades de Tete e Moatize.
A infraestrutura teria ficado danificada nas cheias provocadas pelo ciclone Idai em 2019. E a reabilitação custou ao Estado moçambicano cerca de 4 milhões de dólares.
Neste momento, está cortada ligação rodoviária entre as cidades de Tete e Moatize, distritos de Mutarara e Doa até o Malawi, via estrada N7. A passagem pela ponte Kassuende sobre o rio Zambeze também está interdita por causa das águas que galgaram a estrada.
Na tarde desta terça-feira (25.01), sete pessoas que faziam parte da comitiva do governador de Tete, Domingos Viola, e do edil da cidade, César de Carvalho ,que fazia a monitora da situação das cheias, foram arrastadas quando tentavam passar pela submersa próximo da ponte Kassuende.
Estragos causados pelas fortes chuvas em Maputo
As chuvas que caíram ao longo da semana passada criaram enchentes nos arredores da capital, alagaram residências e impediram a transitabilidade. Sempre que chove, os moradores têm de se reinventar.
Foto: Romeu da Silva/DW
Residências debaixo de água
As chuvas que caíram ao longo da semana passada criaram enchentes nos arredores da capital moçambicana, alagaram residências e impediram a transitabilidade nas vias. Sempre que chove, os moradores têm de se reinventar enquanto as promessas de melhorias de saneamento não saem das gavetas. As famílias que viram as suas casas serem tomadas pela água das chuvas aguardam a melhoria das condições.
Foto: Romeu da Silva/DW
Formação de "lagoas"
Esta "lagoa" no bairro Costa do Sol foi aumentada pelas últimas chuvas. Antes, como contam os moradores, era possível atravessar a área sem qualquer problemas. No entanto, as chuvas da semana passada criaram cenários em que, para chegar ao outro lado, é preciso dar uma volta de cerca de 30 a 40 minutos.
Foto: Romeu da Silva/DW
Bairro da Liberdade é o mais afetado
Na cidade da Matola, o bairro mais afetado pelas chuvas é o da Liberdade, nos arredores da capital industrial. Os moradores dizem que esta rua aos poucos foi desaparecendo, porque em certas ocasiões "parece um rio", impedindo a passagem de pessoas e viaturas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Grandes áreas alagadas
Os bairros suburbanos são os mais afetados pelas intensas chuvas que caem desde outubro passado. Esta imagem mostra uma imensa área alagada pelas últimas chuvas. Além de dificultar a circulação de pessoas, oferece risco de acidente a quem tentar caminhar pela área sem saber o que se encontra sob a água.
Foto: Romeu da Silva/DW
Risco para as crianças
Algumas crianças frequentemente encontravam neste espaço uma "piscina". Os moradores contam que algumas crianças podiam ter morrido, não fosse a pronta intervenção para as socorrer. É uma baixa do bairro Ferroviário mais a norte da capital Maputo. Quando chove, toda a água se deposita nesta área. A água baixou, mas uma grande poça de água ainda permanece.
Foto: Romeu da Silva/DW
Vias alagadas
As vias de acesso são outro crónico problema nos arredores de Maputo. Quando chove, os residentes do bairro Ferroviário têm de dar uma volta de cerca de 30 minutos para encontrar uma rua pavimentada. Em condições normais, levam apenas cinco minutos.
Foto: Romeu da Silva/DW
Moradores tentam impedir crateras
Os residentes do bairro da Polana Caniço, que faz fronteira com a cidade cimento, colocaram vários objetos para impedir que as águas das chuvas criem crateras. As correntes de água conseguiram remover a areia, deixando exposto o material plástico que as comunidades colocaram para tentar impedir a formação de crateras.
Foto: Romeu da Silva/DW
Mobilidade difícil
O Município de Maputo fez várias promessas para a requalificação de alguns bairros. É o caso deste, Maxaquene, mais a sul da fronteira com a cidade de cimento. De promessa a promessa os moradores vão arranjando as suas soluções. Muitas vezes as fortes quedas de água deixam pessoas desalojadas e já houve situações em que o fornecimento de água foi interrompido.
Foto: Romeu da Silva/DW
Mais crateras
No bairro de Hulene, também nos subúrbios de Maputo, as últimas chuvas criaram esta cratera mesmo depois da colocação de barreias para impedir o desabamento de casas. As comunidades relatam que esta rua estava transitável há bem pouco tempo. A criação de crateras é um problema frequente nos bairros que são afetados pelas chuvas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Casas são abandonadas
O Município da Matola já fez diversas promessas de criar condições de saneamento para evitar as crónicas enchentes no bairro da Liberdade. Desde o ano 2000 que o bairro não escapa à fúria das águas e até este momento a administração municipal não resolveu o problema. Muitos moradores optaram por abandonar as suas casas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Chuvas intensas
Quando chove, os moradores de Maputo e arredores perdem o sono. Sabem que, dependendo da intensidade da chuva, os estragos são garantidos. Sonham com o dia em que haverá um sistema de escoamento adequado e não terão de temer quando a chuva cair.