Inundações fazem mais de 300 mortos na África do Sul
EFE | Lusa
14 de abril de 2022
Pelo menos 306 pessoas morreram e centenas ficaram desalojadas por causa das chuvas torrenciais na província sul-africana de KwaZulu-Natal, vizinha de Moçambique, para onde se deslocou já o Presidente Cyril Ramaphosa.
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"É um dos momentos mais sombrios da história da nossa província", declarou na noite passada o assessor provincial do Governo e Assuntos Tradicionais, Sipho Hlomuka.
Na província de KwaZulu-Natal, muitos cidadãos estão incomunicáveis. "Centenas de pessoas foram deixadas sem abrigo e muitas estradas, infraestruturas públicas e casas foram gravemente danificadas", acrescentou Hlomuka.
"Os serviços municipais, como eletricidade, água e recolha de lixo, foram já retomados em algumas áreas", adiantou.
O porto da cidade costeira, que é o maior centro de transporte de carga do continente africano, teve de suspender as operações e muitas das estradas da região permanecem intransitáveis.
Cyril Ramaphosa no terreno
O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que visitou esta quarta-feira (13.04) as áreas mais afetadas na região da cidade portuária de Durban, descreveu a situação como "uma catástrofe de enormes proporções".
O chefe de Estado sul-africano referiu que as restantes províncias do país estão a enviar ajuda humanitária, meios e pessoas para o KwaZulu-Natal, frisando que o Governo nacional está também a envidar esforços no sentido de providenciar ajuda financeira à província, assim como apoio às famílias das vítimas com "os funerais, abrigo, alimentação e cobertores".
As chuvas começaram durante o fim de semana e agravaram-se na segunda-feira (11.04). Em 2019, esta região também sofreu chuvas torrenciais com cheias que fizeram cerca de 80 mortos.
Estado de calamidade em KwaZulu-Natal
O Governo sul-africano já decretou o estado de calamidade na província de KwaZulu-Natal, sudeste do país, devido a "eventos climáticos severos.
As devastadoras inundações provocadas por chuvas torrenciais, desde a passada sexta-feira, causaram o desabamento de estradas e pontes, varrendo casas e provocando deslizamentos de terras na costa oriental da África do Sul.
Pelo menos 248 escolas ficaram danificadas devidos às inundações, anunciou hoje o departamento de Educação de KZN. O autarca de Durban (atual eThekwini), Mxolisi Kaunda, disse que a destruição da infraestrutura municipal "é generalizada".
A estatal sul-africana Transnet, responsável pela gestão de portos e caminhos-de-ferro do país, suspendeu desde segunda-feira a atividade portuária no porto de Durban, o maior do continente, devido às devastadoras inundações.
Moçambique: Voluntários fazem reflorestação de mangal destruído em Quelimane
No bairro de Icidua, em Quelimane, foi criada a Associação de Amigos e Naturais de Icidua para responder à pressão humana sobre os mangais e mitigar os danos à vegetação com ações de conservação e gestão sustentável.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Plantação de mangais no bairro Icidua, em Quelimane
A iniciativa, que também pretende preservar as espécies marinhas, é uma forma de evitar a erosão e travar inundações que fustigam zonas residenciais com maré alta. O grupo vai plantar 1000 árvores, conhecidas como salgueiros. Os trabalhos começaram há uma semana e deve abranger várias zonas do bairro mais populoso de Quelimane, o Icidua.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Replantar para evitar o pior
O Icidua evidencia a realidade da tamanha pressão humana exercida sobre a natureza em Quelimane, com extensas áreas de mangal desertas. Os populares cortam os magais para fazer lenhas, carvão e até para a construção de casas em zonas proibidas -uma realidade que se repete em outras zonas da Zambézia. Há mais incidência em Sangarriveira, Janeiro e Torrone. A solução é a replantação.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Falta terreno para a construção de casas
Áreas de mangais em Quelimane estão ocupadas por habitações e de forma desordenada, embora o solo não seja o mais apropriado para a construção de casas. Os habitantes alegam que é difícil encontrar terrenos adequados para a construção de casas em Quelimane. Assumem os riscos de construir casas em terras húmidas, devastando a floresta de mangais.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Centro comercial do mangal abatido
O mercado de Ajante é o maior centro a nível de Quelimane, onde a população de renda baixa e média procede a compra e venda de material de construção de casas. A maior parte desses materiais é proveniente das plantas de mangal. As pessoas cortam mangais para vender e conseguir recursos para sobreviver.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Pequenas embarcações que transportam mangais
Para transportar mangais abatidos a outras regiões do interior e para o mercado no centro, utilizam as pequenas canoas. As espécies de mangais mais concorridas e que enchem sempre essas pequenas embarcações são Mucandhra e Mveze. O valor de Mucandhra é o dobro do preço de outras espécies, e ela é usada para a construção de casas. A venda a grosso, por canoa, custa cerca de 50 euros.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Destruir para sobreviver
Rodrigues Jacinto, de 47 anos, vive desta atividade desde quando era um adolescente. Jacinto conta à DW que esta é a sua única fonte de rendimento e assim sustenta a sua família. Ele passa noites a cortar mangais que chegam a três metros de comprimento e depois os transporta em canoas de Inhassunge até à feira - numa viagem de 24 horas.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Fecalismo a céu aberto é um risco às comunidades
Uma das práticas mais predominantes em bairros atravessados pelo mangal é o fecalismo. Muitos residentes que habitam naquelas zonas não possuem latrinas em suas casas.O conselho autárquico de Quelimane tem mobilizado recursos para a construção de latrinas, como forma de evitar que a população recorra aos mangais em caso das necessidades. Pelos vistos, entretanto, a prática ainda continua.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Nené Ribeiro coordena a iniciativa
Nené Ribeiro, de 64 anos, é funcionário do Conselho Autárquico de Quelimane. Ele explica que muitos confundem a iniciativa com um ato político-partidário. Ele salienta, no entanto, que o objetivo é proteger o bairro de inundações e proteger a biodiversidade. A associação não tem financiamento externo, funciona à base de contribuições dos seus membros.