Invasão russa ou fogo-de-vista, o que pensam os ucranianos?
28 de janeiro de 2022A situação mantém-se tensa devido ao destacamento de dezenas de milhares de tropas russas na fronteira ucraniana, enquanto estados ocidentais tentam conduzir o Kremlin para um alívio da situação.
Entretanto, o governo ucraniano disse que, apesar de não esperar uma invasão russa num futuro próximo, a ameaça russa é para ser levada a sério.
Esta avaliação parece ser partilhada por metade da população ucraniana. De acordo com um inquérito feito pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev (IISK), 48,1% dos ucranianos acreditam que é possível haver uma invasão.
Já 39,1% não acreditam que vá ocorrer uma invasão e os restantes 12,8% não tiveram opinião ou não quiseram comentar.
Estes números mal mudaram desde a última vez que o IISK fez um censo em dezembro, neste 49,2% disseram que acreditavam numa invasão e 41,1% disseram que tal não ocorreria.
Chantagem do Kremlin?
"A crença de que a Rússia não irá atacar pode dever-se a várias razões, desde simpatia pelo país a confiança de que a Ucrânia e a comunidade internacional irão responder e prevenir este ataque", disse à DW Mykhailo Mischenko, o chefe adjunto do Centro Razumkov da Ucrânia.
Mischenko disse que quem acredita na capacidade da comunidade global de parar a Rússia está especialmente confiante de que não ocorrerá uma invasão. Disse também há quem veja os movimentos do Kremlin como mera chantagem.
Volodymyr Paniotto, diretor da IISK, explicou que, na Ucrânia, tal como em muitos outros países, a opinião pública forma-se com relativa rapidez, com base em certas informações iniciais. E depois de estar consolidada, não mudam significativamente.
As pessoas tendem a procurar fontes que confirmam as suas opiniões e é mais provável que confiassem nelas. "Na Ucrânia, o número de pessoas a usar a internet e redes sociais aumentou nos últimos dois anos. Como estas estão desenhadas para dar às pessoas as informações que estas desejam, isto intensifica-se", disse Paniotto à DW.
É por esta razão que as pessoas se encontram cada vez mais numa câmara de eco, disse. Cimentando assim as suas próprias visões e tornando a mudança de perceções em algo mais difícil.
Preparados para uma emergência
Relatos de que alguns países ocidentais estão a evacuar as famílias dos funcionários das embaixadas também podem ter influenciado as opiniões dos cidadãos. Alguns veem isto como uma medida concreta tomada pelos Estados como forma de proteger os seus cidadãos, outros tomam-no como uma mera precaução.
Ainda assim, muitos ucranianos começaram a publicar dicas online para preparar uma "mala para emergências" ou o que fazer em caso de guerra.
Paniotto disse que relatos de evacuações poderiam aumentar o medo de uma invasão na população ucraniana, mas isto não significa que toda a gente se esteja a preparar para um ataque. "Claro que quem acredita que existe perigo se vai preparar melhor do que quem não acredita", lembra.
De acordo com o estudo do IISK feito em dezembro, 33,3% dos ucranianos estariam preparados para utilizar armas para resistir à invasão russa. 21,7% resistiria de formas alternativas, como protestos, 14,8% mudar-se-ia para uma parte mais segura do país e 9,3% sairia do país.
Entretanto, 18,6% dos inquiridos disseram que não tomariam uma atitude e 12,1% disse ainda não saber o que fariam.