"Invasores", refugiados africanos são alvo de autoridades de Israel
15 de junho de 2012 O jornal diário Die Tageszeitung destaca a história de Silab Bangola, da Guiné-Conacri. Aos 30 anos de idade, Bangola passou os dois últimos anos de sua vida em Israel. Há duas semanas, mora no parque Lewinsky, nas proximidades da estação rodoviária de Tel Aviv – tradicionalmente, a primeira parada de imigrantes recém-saídos do campo de acolhimento.
Bangola, relata o artigo do jornal alemão, diz que não pode mais ganhar dinheiro e não sabe para onde ir. É vítima "do mais recente pânico, em Israel, relativo aos numerosos imigrantes no país. Deputados instigam contra o que chamam de 'tumor crescente' e prometem medidas imediatas como a punição para empregadores de imigrantes ilegais", diz o texto publicado nesta sexta-feira (15.06).
Também o Süddeutsche Zeitung destaca a resistência extrema a estrangeiros nos comentários da imprensa e de alguns políticos israelitas, para quem os estrangeiros seriam "apenas os invasores. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu alerta para uma 'inundação' e já vê um 'risco para o caráter judaico de Israel'", exemplifica o texto.
A partir de domingo (17.06), a chamada 'operação de volta para casa' deverá reduzir gradualmente o número de refugiados africanos, especialmente no sul de Tel Aviv. Na semana que passou, autoridades de segurança de Israel prenderam algumas centenas de sul-sudaneses.
No total, os afetados pela 'operação' seriam 1.500, diz o Tageszeitung. A maior parte dos sul-sudaneses acabaram por assinar declarações voluntárias de saída do país – e quem não assinar pode chegar a ser preso, diz o diário – porque as autoridades do Sudão do Sul recusam expulsões forçadas. Segundo o Tageszeitung, Israel paga mil euros para adultos que se disponham a assinar a declaração e 400 euros para crianças na mesma situação.
No domingo, 120 sul-sudaneses deverão 'voltar para casa' de avião. "Um número pequeno se comparado aos mil a 2 mil imigrantes que chegam a Israel todo mês pela fronteira egípcia – um grupo que está ficando menor. O problema para Israel da 'operação volta para casa' é que a maior parte do que os israelitas chamam de 'infiltrados' vêm da Eritreia ou do Sudão e por isso não podem ser deportados, segundo a Convenção de Refugiados de Genebra", lembra o jornal.
Segundo dados oficiais, diz também o diário Süddeutsche Zeitung, Israel tem atualmente 60 mil imigrantes ilegais. Outros 75 mil estrangeiros moram legalmente no país e têm permissão para trabalhar. Para os imigrantes ilegais, "Israel é o único país ocidental industrializado que os africanos podem alcançar por terra. Mas quando chegam lá, não têm outra opção a não ser a clandestinidade. O Estado não ajuda, não recebem permissão para trabalhar, e pedidos de asilo são aceitos – se tanto – em casos excepcionais", diz o jornal, que cita um especialista dizendo que, desde a fundação do Estado de Israel, há mais ou menos 60 anos, o país recebeu 157 demandantes de asilo.
Turco-alemão preso na Tanzânia
O Süddeutsche Zeitung ainda destacou esta semana (14.06) a prisão, na Tanzânia, de um suspeito de terrorismo nascido na Turquia e criado em Wuppertal, no oeste da Alemanha. Aos 24 anos de idade, Emrad Erdogan não interessa apenas às autoridades africanas, mas também às alemãs.
Autoridades de segurança do Quénia suspeitam de que Erdogan tenha relação com o ataque a um centro comercial na capital do país, Nairóbi, no dia 28.05. A prisão do suspeito de terrorismo faz parte de ações de polícias africanas de caçar extremistas escondidos de todo o mundo. Ao mesmo tempo, lembra o Süddeutsche Zeitung, exércitos de países africanos preparam ofensivas militares para, eventualmente, intervir em regiões como o norte do Mali, palco de rebelião tuaregue, ou combater a milícia fundamentalista islâmica al-Shebab na Somália.
Atualmente, há também investigações sobre outros casos de extremistas islâmicos de origem alemã: na Somália, um ativista teria sido encontrado morto; ainda não se sabe nada sobre a sua identidade. No Uganda, a polícia reforçou a vigilância para tentar encontrar Andreas Khaled Müller. Como Erdogan, ele é suspeito de lutar pelos milicianos shebab.
O advogado de Erdogan, Peter Krieger, quer a extradição do cliente para um "processo justo. No exterior, ele poderia ser alvo de serviços secretos desconhecidos".
Africana à frente do TPI causa pânico nos senhores da guerra
Assim titulou, na quinta-feira (14.06), a revista semanal Stern, que descreveu a gambiana Fatou Bensouda como a "jurista da semana". A advogada de 51 anos assumiu nesta sexta-feira (15.06) a procuradoria geral do TPI, o Tribunal Penal Internacional com sede em Haia, na Holanda.
Bensouda, até agora representante do argentino Luis Moreno-Ocampo e sua substituta à frente do TPI, "é uma mulher de muitas qualidades. É conhecida por ser persistente e resistente. Todos têm a certeza de que o escritório até agora ocupado por um homem será tomado por uma mulher de ação", diz o semanário.
A revista ainda diz que muito trabalho espera por Fatou Bensouda, também no continente africano, mas não só. Alguns dos casos em aberto no continente citados pela Stern são as investigações contra políticos quenianos, acusados após as violências pós-eleitorais do pleito de 2007.
O conflito da Líbia é outro grande dossiê, com a questão não respondida sobre o papel que o TPI deverá desempenhar no processo contra Saif al-Islam Kadhafi, filho do ex-ditador líbio Mouammar Kadhafi.
"Não importa para quão longe eles queiram fugir, mais cedo ou mais tarde eles terão de acertar as contas com a Justiça", diz Fatou Bensouda, citada pelo jornal.
Poços d'água vigiados por SMS
A tecnologia no continente africano também foi destacada por alguns veículos da imprensa alemã na semana que passou. O Süddeutsche Zeitung, por exemplo, lembrou que pesquisadores da universidade britânica de Oxford desenvolveram uma pequena caixa eletrônica que "observa" bombas d'água à distância.
O aparelho registra os movimentos na alavanca manual do poço, estima o fluxo d'água e envia os dados com regularidade para uma central. Se houver variações na medição do fluxo, a central pode enviar um mecânico para consertar poços defeituosos – um alívio especialmente para populações isoladas. A experiência foi feita em Lusaka, na Zâmbia.
Autora: Renate Krieger
Edição: António Rocha