Por causa da pandemia de Covid-19, os fluxos de investimento direto estrangeiro para África caíram 16% no ano passado, passando de 47 mil milhões de dólares em 2019 para 40 mil milhões em 2020, segundo a UNCTAD.
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De acordo com o "Relatório sobre o Investimento Mundial 2021", divulgado hoje pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), "os desafios económicos e sanitários em cascata devido à pandemia, juntamente com os baixos preços das matérias-primas ligadas à energia, influenciaram significativamente os investimentos no continente".
O relatório, que dá conta de uma quebra de 16% nos investimentos estrangeiros na região, de 39,2 mil milhões de euros para 33,4 mil milhões de euros, aponta que "as economias dependentes das matérias-primas foram afetadas de forma mais severa do que as economias não baseadas nos recursos naturais".
A UNCTAD antecipa "uma tépida recuperação económica e uma lenta distribuição de vacinas, que ameaçam a escala da recuperação dos investimentos" e prevê que o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) no continente cresça apenas 5% este ano, "abaixo quer da taxa de crescimento projetada para o mundo, quer para os países em desenvolvimento".
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Melhorias em 2022
Ainda assim, a UNCTAD mostra-se otimista relativamente a 2022, apontando o previsível aumento da procura por matérias-primas, a reconfiguração das cadeias globais de valor, a implementação de projetos importantes adiados pela pandemia e a finalização do acordo de comércio livre em África.
Pandemia não trava "rei dos espinafres" da África do Sul
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Os investimentos de empresas que apostam num país pela primeira vez ('greenfield investments'), que são "uma medida do sentimento dos investidores e um prenúncio da futura tendência do IDE, caíram 62% para 29 mil milhões de dólares [24,2 mil milhões de euros], face aos 77 mil milhões de dólares [64,4 mil milhões de euros] registados em 2019".
Além disso, as fusões e aquisições transfronteiriças caíram 45%, passando de 5,8 mil milhões de dólares (4,8 mil milhões de euros] em 2019 para 3,2 mil milhões de dólares [2,6 mil milhões de euros] no ano passado, ao passo que os anúncios sobre financiamento de projetos internacionais, que são especialmente relevantes para os grandes projetos de infraestruturas, caíram 74%, para 32 mil milhões de dólares (26 mil milhões de euros).
No que diz respeito à África subsaariana, o relatório aponta para uma queda de 12%, com os investimentos a descerem para 30 mil milhões de dólares (25,1 mil milhões de euros), com uma queda de 16%, para 4,3 mil milhões de dólares (3,5 mil milhões de euros), na aposta dos investidores na África Austral, "apesar do repatriamento de capitais das empresas multinacionais em Angola ter abrandado, e com Moçambique e a África do Sul a representarem a maioria dos fluxos nesta região".
O fardo da Covid-19 para as famílias de Inhambane
Milhares de famílias estão a sofrer na província de Inhambane, no sul de Moçambique, desde que eclodiu a pandemia do novo coronavirus. Há pessoas sem emprego, em isolamento, obras paralisadas e os bens escasseiam.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Famílias sofrem por causa da Covid-19
Muitos habitantes da província moçambicana de Inhambane perderam os postos de trabalho por causa da crise provocada pela Covid-19, outros foram dispensados para cumprirem o isolamento social. Por outro lado, há obras paralisadas e faltam vários produtos, principalmente nas zonas rurais. Muita gente está a migrar para as cidades e vilas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
A culpa é do coronavírus
Dulce Eugénio, mãe de dois filhos e residente no bairro Sarrene, na cidade de Maxixe, disse que antes da pandemia o negócio corria muito bem, mas depois ficou sem dinheiro: "Consegui comprar o meu terreno e já estava a construir a minha casa de blocos com este pequeno negócio de vender tomates, cebola, pepino e cenoura, mas essa doença veio atrapalhar toda a situação."
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Coronavírus trouxe mais fome"
Com o confinamento obrigatório decretado em abril de 2020, a situação da fome agravou em Inhambane. Os cidadãos consideram que a pandemia do novo coronavírus "trouxe mais fome e miséria às comunidades". O desespero continua a imperar.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Viver de hortaliças é para quem pode
Há cada vez mais pessoas desempregadas, muitas famílias tiveram de adaptar as receitas em casa e passaram a consumir mais verduras, por exemplo. Mesmo assim, nem todos conseguem comprar, porque as hortaliças também já começam a escassear. Marta Alberto diz que não foi registada para receber o subsídio da Covid-19, concedido pelo Estado, e pede ajuda.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Produção agrícola em queda
Não é só a pandemia que tem sido um problema. Não tem chovido e muitas pessoas abandonaram a atividade agrícola. Os camponeses pedem ao Estado sementes, que estão cada vez mais caras no mercado. Em Inhambane, nem todos os camponeses vão receber o subsídio de dois mil meticais mensais (cerca de 23 euros) para suprir as suas necessidades durante seis meses.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Abandonada pela família e sem apoio
Joana Cândido foi abandonada pela família. Vivia com os netos, mas, com a pandemia, o filho solicitou aos netos que residissem juntos noutro bairro, deixando assim a idosa à sua sorte. Com problemas na perna e dores constantes na coluna, não lhe é fácil ter três refeições por dia. Afirma que não foi selecionada pelo Instituto Nacional de Ação Social (INAS) para receber o subsídio da Covid-19.
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Estamos a sofrer e precisamos de apoio"
Laura Simão foi registada pelo INAS, na cidade de Maxixe, mas ainda não recebeu o dinheiro e afirma não ter comida suficiente. Em situação semelhante estão muitas outras pessoas carenciadas, que foram inscritas mas ainda não receberam os subsídios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Excluída dos apoios, com a panela vazia
Maria João revela que não foi contemplada pelos apoios da Covid-19. Ficou surpreendida, porque não trabalha, tem filhos a seu cargo e a panela vazia. E pede apoio ao Estado.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Enganar a fome
Teresa António trabalhava como doméstica em Inhambane, numa residência, mas, com a pandemia, teve de deixar de trabalhar para os seus patrões. Agora desempregada, diz que é difícil ter arroz na mesa e, muitas vezes, tem de misturar o arroz com tapioca (farinha de mandioca) para conseguir enganar a fome.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Vender mangas para sobreviver à pandemia
Cândida Maurício fazia venda ambulante no centro da cidade da Maxixe, mas - impossibilitada de continuar o negócio na rua por causa da pandemia - teve de se adaptar. Faz agora revenda de mangas na sua residência, mas soma prejuízos e não recebe apoio do Governo.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Perdeu o emprego com a Covid-19
Com o encerramento dos estabelecimentos comerciais em cumprimento do decreto do estado de emergência, João Saul foi demitido do serviço de guarda. Afirma que a pandemia lhe trouxe efeitos negativos que jamais irá esquecer. Sobrevive com o subsídio que recebe por ser desmobilizado - não superior a 50 euros - valor que considera insuficiente.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Sonho perdido?
Nina Cumbe concluiu o 12º ano de escolaridade em Inhambane, em 2019. Antes da eclosão da pandemia, queria concorrer a uma escola técnica profissional, mas não conseguiu, porque muitos estabelecimentos de ensino tiveram que encerrar com a declaração do estado de emergência no país. Agora, tenta ganhar a vida fazendo tranças a amigas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Resta fé e esperança
No meio de tanto sofrimento provocado pela pandemia do novo coronavírus, as famílias estão a lutar para superar a crise. Ilda Joaquim, residente de Inhambane, afirma que o confinamento social agravou a maneira de viver e que está a ser difícil adaptar-se às novas medidas. Reza muito para que consiga ultrapassar esta crise, porque está difícil receber apoios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
À espera de dias melhores
Antes da chegada do novo coronavírus, Maria Alberto fazia trabalhos para terceiros e produzia mandioca para fabricar e vender farinha. Hoje, é uma simples dona de casa que deixa as panelas limpas à espera que o marido traga alguma coisa dos seus biscates diários. Lamenta o sofrimento provocado pela Covid-19, mas vive na esperança de que tudo voltará à normalidade.