Irão as mudanças climáticas melhorar as condições no Sahel?
Henry-Laur Allik | mjp
18 de julho de 2017
É algo que não se ouve todos os dias: as alterações climáticas podem ser positivas. Pelo menos para a região árida do Sahel, em África, onde a chuva tem vindo a aumentar enquanto o planeta aquece.
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Atualmente uma das zonas mais secas do mundo, a região do Sahel pode vir a ser uma das mais húmidas dentro de algumas décadas, de acordo com um estudo recentemente publicado na Alemanha pelo Instituto de Potsdam para a Investigação do Impacto Climático.
"A novidade não é a possibilidade de haver um pouco mais de chuva nesta região do que nas décadas anteriores, mas sim a possibilidade de haver substancialmente mais precipitação", afirma Jacob Schewe, um dos autores do estudo, que acrescenta que esta mudança "não é gradual e pode acontecer de repente".
Emmanuel Oladipo, professor de climatologia na Universidade de Lagos, na Nigéria, não está surpreendido com estas conclusões, uma vez que considera que "a região do Sahel tem um clima muito volátil". "Passa de uma precipitação muito elevada a nenhuma precipitação. Parece que agora o sistema está a inclinar-se para o que aconteceu nos anos 60", explica, concluindo que a região tem "mais chuva do que anteriormente".
Mais chuva: um impacto positivo ou negativo?
Dados dos últimos cem anos, compilados pelo Instituto para o Estudo da Atmosfera e dos Oceanos, em Washington, nos Estados Unidos, mostram uma invulgar elevada precipitação entre os anos 50 e 70. Seguiram-se vários anos de seca, até à década de 90. A chuva voltou depois à média anterior, embora os números variem bastante anualmente. Aparentemente, mais chuva é algo positivo. Significa mais água para o uso doméstico, para a agricultura e para a indústria. Em algumas zonas do Sahel, o aumento da precipitação já veio aliviar as populações e recuperar ecossistemas, diz Schewe, que se mostra preocupado com as consequências de um aumento súbito e abrupto da precipitação.
"Um regime de precipitação diferente, com uma época de monções, pode significar mais cheias, que podem ser um grande desafio para as populações", explica o investigador, acrescentando que "as pessoas têm de estar preparadas, tem de haver infraestruturas para lidar com os efeitos positivos - recolher água, por exemplo - e mitigar possíveis consequências negativas".
Os autores do estudo publicado pelo Instituto de Potsdam afirmam que não é possível prever claramente esta mudança, mas não colocam de parte a ideia de que, ao haver uma transformação, ela acontecerá nos nossos dias e pode ser repentina. Estas mudanças representam mais um desafio para a região, que se vê a braços com inúmeros conflitos, como os ataques de grupos extremistas islâmicos como o Boko Haram e a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico.
"Precisamos de previsões mais confiáveis"Os especialistas defendem que os países da região, que se estende da Mauritânia e do Mali ao Sudão e à Eritreia, devem começar a gerir de forma mais competente as difíceis condições climáticas atuais. Trabalho dificultado pela falta de estações metereológicas no Continente africano, que fazem com que as previsões das agências nacionais sejam muito genéricas e tenham pouca utilidade a nível local.
18.07 Actualidade: Will climate change turn the Sahel green? - MP3-Mono
"O que precisamos agora é de previsões mais confiáveis, para que as pessoas possam saber quanto irá chover nas próximas duas semanas e preparar-se para isso", explica Emmanuel Oladipo. "Infelizmente, ainda não é possível fazer isso, devido à falta de comunicação, à educação limitada e à incapacidade dos sistemas de previsão metereológica."
O professor de climatologia não está optimista. “Se a intensidade da precipitação aumentar, pode acabar por prejudicar mais o ambiente, se não forem postas em prática estas estratégias", afirma.
Mudanças climáticas: motivo de mais chuvas e inundações na Beira
A Beira está ameaçada pelas alterações climáticas. A segunda maior cidade de Moçambique tem de se adaptar, já que as inundações são cada vez mais frequentes. Para isso, conta com o apoio da Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
A força do mar
O quebra-mar destruído no bairro das Palmeiras mostra a força das ondas do Oceano Índico, na costa da Beira, a segunda maior cidade de Moçambique. Mesmo em condições normais, o nível do mar varia sete metros entre maré baixa e maré alta. Quando há ciclones e ondas criadas por tempestades, essa diferença é ainda maior. E as mudanças climáticas elevam ainda mais o nível do mar.
Foto: DW/J. Beck
Bairros inteiros ameaçados
Alguns bairros da cidade da Beira já estão tão perto do mar que algumas casas já nem podem ser habitadas. É o que acontece em Ponta-Gêa e Praia Nova. As residências já foram parcialmente destruídas pelas ondas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100.
Foto: DW/A. Sebastiao
Aposta na proteção
Novos canais e mais cancelas, como aqui no bairro das Palmeiras, deverão proteger a Beira de inundações nas partes baixas da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água. Até agora, a água das chuvas ficava acumulada - por vezes durante semanas. Um local ideal para a reprodução dos mosquitos transmissores de malária.
Foto: DW/J. Beck
Centro da cidade protegido de inundações
Está a ser construída mais uma cancela perto do porto de pesca. A ideia é melhorar o controlo da entrada e saída das águas na foz do rio Chiveve. O canal de entrada no porto já não precisará de ser dragado com tanta frequência. O projeto de cooperação para o desenvolvimento é financiado pelo banco estatal alemão de desenvolvimento KfW. O valor é 13 milhões de euros.
Foto: DW/J. Beck
Daviz Simango quer mudar a Beira
A luta do edil Daviz Simango para conseguir o dinheiro necessário para a transformação do rio Chiveve levou mais de cinco anos. O presidente da Câmara da Beira, que é do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), da oposição, queixou-se várias vezes da falta de apoio do Governo de Maputo.
Foto: DW/J. Beck
Limpar e mudar o percurso do rio
O rio Chiveve deverá ser limpo e o seu percurso mudado, de forma a passar por um parque urbano. A ideia é que o rio assuma melhor o seu papel natural na drenagem da cidade. Isso protegerá a Beira de inundações, após fortes chuvas, ajudando também a cidade a adaptar-se às mudanças climáticas.
Foto: DW/J. Beck
Área verde no centro da cidade
Depois do rio, a próxima fase do projeto será fazer um parque em torno do Chiveve. O rio é o único espaço verde no centro da cidade da Beira, que tem cerca de 600 mil habitantes - o que a torna a segunda maior cidade de Moçambique. Localizada no centro do país, a Beira tem sido considerada cinzenta e desinteressante.
Foto: DW/J. Beck
Arborizar os mangais
Para fazer as planeadas mudanças no rio, foi necessário retirar muitas árvores dos mangais. Por isso, é necessário um reflorestamento após o final do projeto. Mudas de diferentes espécies já estão a ser cultivadas para esse fim. Elas são muito importantes para a preservação do ecossistema local. Apenas estas espécies sobrevivem tanto em água doce quanto salgada.
Foto: DW/J. Beck
Construtora chinesa
A empresa chinesa CHICO (China Henan International Cooperation Group ) venceu o concurso para pôr em prática os planos para o rio Chiveve. Os meios vêm do banco estatal alemão de desenvolvimento KfW e da cidade da Beira. Além de engenheiros chineses, a CHICO também emprega diversos moçambicanos, tanto homens como mulheres.
Foto: DW/J. Beck
Poluição no rio continua
O projeto de limpeza no rio Chiveve pode estar ameaçado. Não muito longe do centro fica o bairro informal do Goto. Parte do lixo e esgotos dos quase 12 mil habitantes dessa localidade vão parar ao rio. A tão sonhada área verde poderá nunca existir.
Foto: DW/J. Beck
Recolha do lixo com carrinhos de mão
Com a ajuda da agência alemã do desenvolvimento GIZ, a Beira implantou um sistema de recolha de lixo no bairro do Goto. Até agora, os moradores tinham que levar o lixo para os arredores do bairro, para depositá-lo em contentores próprios. Agora, funcionários munidos de carrinhos de mão vão até às ruas estreitas do bairro e recolhem-no. O objetivo é que menos lixo vá parar ao rio.
Foto: DW/J. Beck
Adaptação às alterações climáticas, saúde e parque
No entanto, ainda é difícil imaginar como o Chiveve estará após a finalização do projeto em 2016. Se tudo correr bem, a Beira estará mais preparada para lidar com as mudanças climáticas e sofrerá menos com doenças como a malária. Além disso, o centro seria mais bonito com áreas arborizadas e um parque em torno do Chiveve.