Isabel dos Santos lança edição da Forbes para PALOP
16 de dezembro de 2013 Antes da aquisição da filha de José Eduardo dos Santos, a revista de negócios norte-americana publicou um artigo em conjunto com o ativista dos direitos humanos Rafael Marques sobre a origem duvidosa da sua fortuna.
A partir do segundo trimestre de 2014, uma revista bimensal da Forbes em português deverá ser editada em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. A parceria foi assinada entre a Forbes e a ZAP, empresa em que a filha do presidente de Angola, Isabel dos Santos, tem uma participação de 70%.
O ativista angolano Rafael Marques coloca algumas interrogações a esta iniciativa: “Antes de mais”, diz Marques, “é preciso analisar se, de facto, a publicação da revista Forbes por Isabel dos Santos obedece a critérios comerciais, racionais, ou tem um aspeto meramente político”.
Isto, porque, “se for do ponto de vista comercial, não se justifica pela pluralidade de publicações que existe quer em Angola quer no espaço lusófono e mesmo em Portugal e que carecem de intervenções financeiras”. Marques diz ainda que, no caso de Angola, “a imprensa ressente-se”.
A mulher mais rica de África
Em agosto de 2012, a Forbes, nomeou Isabel dos Santos como uma das pessoas mais ricas de África e a mulher mais rica do continente com uma fortuna avaliada em 3 biliões de dólares. Depois disso, uma investigação conjunta da revista norte-americana e do ativista angolano Rafael Marques apontou para uma base maioritariamente corrupta da fortuna de Isabel dos Santos.
O ativista lembra que “ficou provado que grande parte desse dinheiro foi transferida para a sua posse através de empresas, percentagens em consórcios com empresas estrangeiras, com a assinatura do seu pai”. Segundo Marques, “foram vários os decretos presidenciais que permitiram o enriquecimento ilícito de Isabel dos Santos”, acrescentando que “em Angola sabemos que Isabel dos Santos é uma testa de ferro do seu pai, José Eduardo dos Santos”.
A Forbes é uma conceituada revista que se destaca por publicar rankings sobre os mais ricos do mundo, também por regiões, ou sobre as equipas de desporto mais bem cotadas do mundo. Os seus resultados são, geralmente, repercutidos pela imprensa internacional, evidenciando a sua credibilidade.
“Se a Forbes não estiver apenas interessada no dinheiro”, diz o ativista Rafael Marques, “não tardará em perceber que o seu nome será usado para propaganda e para o branqueamento da imagem de uma série de indivíduos corruptos no espaço lusófono”. Isto, porque, argumenta Marques, “Isabel dos Santos passará a ter o controlo editorial. A maior parte dos conteúdos da Forbes em português para África será da exclusiva responsabilidade da sua empresa e não da Forbes”.
A DW tentou falar com a Forbes sobre o assunto, mas sem sucesso.
Forbes não é um caso isolado
Vários órgãos de comunicação social privados de Angola foram já adquiridos por indivíduos ligados ao partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA. Entretanto, os poucos que não foram comprados, queixam-se de que sofrem uma espécie de ostracização: “É simplesmente para lavar a imagem daquelas figuras mais corruptas, que são próximas do presidente José Eduardo dos Santos”.
De acordo com Rafael Marques, trata-se também de facilitar. Isabel dos Santos tem negócios em Moçambique no setor das telecomunicações, “então [trata-se de] facilitar que, através da sua revista, a família Guebuza também tenha espaço para fazer passar os seus negócios como negócios legítimos e outros corruptos quer no espaço lusófono quer em África”.
Assim sendo, remata o angolano, trata-se de utilizar o nome da revista, que tem prestígio internacional, para “lavar a imagem destas figuras e, quando não tiver serventia, certamente essa parceria será abandonada, porque não é uma revista que terá viabilidade comercial”.