Defesa de ex-eurodeputada sugere que Isabel dos Santos quer intimidá-la. Ana Gomes reafirma que empresária conta com cúmplices portugueses para corrupção. Acusação diz que documentos de Gomes são “uma mão cheia de nada”.
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A ex-eurodeputada Ana Gomes participou de audiência de alegações finais no âmbito do processo de natureza cível interposto contra ela pela empresária angolana Isabel dos Santos, nesta quinta-feira (19.12), no Tribunal de Sintra, em Portugal. Gomes responde por “difamação” ao ter referido no Twitter que a empresária angolana estaria a usar Portugal para lavagem de dinheiro.
Na saída da audiência, a diplomata portuguesa manteve o que disse no tribunal na primeira sessão de julgamento na última terça-feira. Ela alega que Isabel dos Santos e “outros cleptocratas angolanos” utilizam a banca portuguesa para “branquear fundos desviados de Angola, lesando o povo angolano”.
"O que me motiva é não pactuar com a cumplicidade que existe em Portugal relativamente ao roubo despudorado do povo angolano. Mantenho o que disse e sujeito-me naturalmente àquilo que vier a ser decidido pelo Tribunal", disse.
Gomes afirmou que está convicta de suas alegações e que todas as provas fornecidas em juízo são baseadas nas diversas comunicações que fez para autoridades europeias e nacionais.
Cúmplices em Portugal
Na ocasião das denúncias feitas a órgãos internacionais, a ex-eurodeputada pediu o "escrutínio face às informações que eram públicas dos processos utilizados pela mulher mais rica de África, pedindo empréstimos para, obviamente, lavar dinheiro através de Portugal", disse Ana Gomes à DW.
A diplomata portuguesa disse esperar que a justiça reconheça não apenas o exercício da sua liberdade de expressão, mas também o seu direito à cidadania. Gomes salientou que os alegados esquemas de branqueamento de capitais contam com "cumplicidades tremendas de portugueses, incluindo instituições portuguesas".
A ex-eurodeputada desafia Isabel dos Santos a ingressar com um processo-crime contra a sua pessoa, porque se chegaria, alegadamente, "à substância da fatualidade de que eu apresentei provas. Eu tornarei pública a minha contestação com todos os elementos", disse.
O advogado de Ana Gomes disse que a imagem de Isabel dos Santos em Angola é de uma "predadora dos bens públicos". Referindo-se aos vários negócios da empresária, Francisco Teixeira da Mota afirmou que a filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos vai ter "mais dissabores com a mudança do poder em Angola".
“Mão cheia de nada”
Em declarações à agência de notícias Lusa nesta semana, Isabel dos Santos afirmou que a realização do julgamento do processo que interpôs contra a ex-eurodeputada Ana Gomes "já por si é uma vitória" e que pretende "limpar" em tribunal o seu nome de "sucessivas calúnias".
A empresária diz que a eurodeputada gozou de imunidade parlamentar por muito tempo e que anteriormente não foi possível tomar nenhuma atitude em relação "às falsas acusações e mentiras por ela proferidas". Ao Ana Gomes deixar de ser eurodeputada, Isabel dos Santos diz que surgiu pela primeira vez a possibilidade de ir à Justiça reclamar pelo seu "bom nome".
Angola: “Isabel dos Santos quer calar das vozes mais criticas contra a lavagem do dinheiro”
O advogado de defesa de Isabel dos Santos, Carlos Cruz, disse não haver nenhum processo de instituição internacional - entre as quais da União Europeia - contra a empresária. Cruz diz que as intenções de Ana Gomes estão provadas em sua conta no Twitter.
Cruz fez referência às cartas de Ana Gomes às instituições europeias, salientando que estas não apresentavam qualquer vestígio de ato ilícito envolvendo Isabel dos Santos. "Não há provas, há apenas um conjunto de correspondências de Ana Gomes que se traduzem numa mão cheia de nada" - afirmou em Tribunal.
O advogado destacou que Ana Gomes estava no direito de exercício de liberdade de expressão ao escrever no Twitter que "a empresária é corrupta e usa o Banco EuroBic para lavar dinheiro". Para ele, no entanto, as declarações se tratam de "desabafos e excessos".
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.