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Isabel dos Santos volta a perder ação contra Ana Gomes

29 de junho de 2021

A derrota acontece na sequência de um recurso apresentado pela empresária angolana. Um triunfo da liberdade de expressão, entendem alguns. Em causa estavam tweets supostamente difamatórios da ex-eurodeputada portuguesa.

Portugal Lissabon | Isabel dos Santos
Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos SantosFoto: João Carlos/DW

O Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 17 de junho de 2021, confirma a sentença em primeira instância. O julgamento decorreu no Tribunal de Sintra, em 2019, por queixa-crime apresentada por Isabel dos Santos contra Ana Gomes, acusada de difamação.

A política portuguesa, que nesse mesmo ano tinha apresentado queixa contra a empresária angolana por alegadas práticas de branqueamento de capitais, mostra-se agora satisfeita com a decisão do tribunal. 

Filial do EuroBic em LisboaFoto: J.Carlos/DW

"Claramente, esta foi uma ação para intimidar quem tem exposto e denunciado a cleptocracia angolana e em particular da família dos Santos", entende Ana Gomes.

A ex-eurodeputada comenta ainda que "foi um processo lançado por Isabel dos Santos pouco antes de sair o "Luanda Leaks” e foi significativo que a decisão na primeira instância, portanto, no Tribunal de Sintra, tenha sido já também emitida contra ela, considerando que eu tinha atuado de acordo com a lei".

À DW, Gomes repete as acusações contra a "ex-princesa" angolana: "Isabel dos Santos pôs-me uma ação para eu retirar "twittes” meus onde eu expunha que o banco que ela detinha e ainda detém – o EuroBic – era uma verdadeira lavandaria, isto é, era uma máquina de branqueamento de capitais, designadamente dos capitais que ela desviava do erário público angolano, à conta das suas relações privilegiadas como pessoa politicamente exposta, filha do [antigo] Presidente da República em Angola".

"Eu pecava por defeito"

Mas a investigação no âmbito do "Luanda Leaks”, para além da ação da justiça portuguesa, veio a demonstrar que Ana Gomes tinha razão. 

"Aliás, eu pecava por defeito. Eu tinha conseguido expôr uma teia de 40 empresas através das quais Isabel dos Santos construía o esquema de ecrãs para ofuscar a proveniência corrupta do seu dinheiro. O "Luanda Leaks” veio expor que não eram 40. Eram cerca de 400 empresas", acrescenta.   

Ana Gomes, política portuguesaFoto: picture-alliance/dpa/M. Kulczynski

O acórdão de cerca de 30 páginas, endereçado a Francisco Teixeira da Mota, advogado de Ana Gomes, também é comentado por Paulo de Morais. O antigo candidato presidencial e líder da Frente Cívica Anticorrupção considera que a decisão do Tribunal da Relação representa uma nova vitória da ex-eurodeputada.

Triunfo da liberdade de expressão

Para Paulo de Moraes, trata-se sobretudo do triunfo da liberdade de expressão, por Ana Gomes ter denunciado a estrutura de enriquecimento ilegítimo de Isabel dos Santos, bem como os esquemas de lavagem de dinheiro montados em Portugal.  

"Ana Gomes condenou ainda a atitude colaboracionista do Estado português com o desvio dos dinheiros que têm vindo a ser subtraídos ao povo angolano. Fez um conjunto de denúncias na defesa do interesse público", entende.

Para o ex-líder da Frente Cívica, a política "tem direito a fazê-lo no uso de um direito constitucional, que é o direito de liberdade de expressão, pelo que esta derrota de quem tentou cercear este direito, neste caso esta nova derrota de Isabel dos Santos, é uma boa notícia, pelo menos para já". 

Ana Gomes sai definitivamente ilibada das acusações feitas pela filha de José Eduardo dos Santos, tendo sido determinado pelo tribunal que a empresária pague as respetivas custas ao abrigo do processo cível julgado em 2020. 

"Luanda Leaks": Entenda as denúncias sobre Isabel dos Santos

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