Os sauditas constroem mesquitas, escolas religiosas, hospitais em África e concedem bolsas para estudos teológicos nos Estados do Golfo. Mas também lá há quem exporte a ideologia salafista para o continente.
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Há séculos, existem estreitos laços económicos e religiosos entre países árabes e africanos. Com o crescente lucro das exportações de petróleo e gás, o engajamento dos países árabes, especialmente a Arábia Saudita, na região do Sahel, aumentou.
Governos e patrocinadores privados fornecem apoio financeiro a comunidades em países como Mali, Senegal ou Nigéria. Eles fazem-no como dever religioso, porque um dos cinco pilares do Islão é o apoio aos necessitados.
Mas há condições. Assim, imames senegaleses são treinados na Arábia Saudita para pregar no seu país um Islão particularmente conservador, como explica Marabout Mouhamed Ndiay, líder espiritual de uma Irmandade islâmica sufista na capital do Senegal, Dakar.
"É uma radicalização através das palavras. Fazem discursos muito afiados em relação ao nosso Islão. Essa raiva que se acumula nessas pessoas, no momento que explodir, não irá significar algo bom para nós", diz Ndiay.Muitos habitantes da zona do Sahel representam um sufismo místico e espiritual, que os sauditas conservadores não reconhecem como uma forma religiosa do islamismo, mas rejeitam-na como pagã e herética.
Eles próprios pregam um estilo de vida estritamente conservador como nos tempos do profeta. Grupos militantes como a Al-Shabaab, a Al-Qaeda no Magred Islâmico ou o Boko Haram referem-se a esta ideologia.
Pobreza é a porta de entrada mais fácil
Sauditas África - MP3-Mono
A falta de perspetivas e às altas taxas de desemprego facilitam o acesso dos salafistas aos jovens, diz Ndiaye. Muitas vezes, bebidas e refeições gratuitas seriam distribuídas em frente às mesquitas. Assim, a interpretação extremista do Islão por pregadores sauditas alimentou a revolta de 2012 no Mali 2012, que destruiu uma série de locais religiosos.
Mas, de acordo com o especialista em assunto da Arábia Saudita do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), em Hamburgo, Jens Heibach, a busca por crentes não é mais o único objetivo dos sauditas em África.
Questões económicas falam alto
O reino investiu quase quatro mil milhões de dólares no continente em 2016, de acordo com o jornal Financial Times. O príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman tenta, assim, de reformar a base económica e política no reino. Porque com o preço do petróleo a afundar, o défice orçamental do Reino está a crescer e é preciso criar outras fontes de renda. Bin Salman quer expandir a economia do país nos próximos 13 anos e defendeu, recentemente, uma liberalização do reino ultra-conservador.
Heibach duvida, no entanto, que a anunciada liberalização retardará a radicalização progressiva em África: "O que sabemos é que a família real saudita e partes importantes do Governo tentam agir contra a promoção de organizações violentas ou terroristas também em África, uma vez que isso ameaça massivamente a segurança da dinastia".
Já Bakary Sambe, professor de Estudos Religiosos na Universidade Gaston Berger do Senegal, espera que a liberalização prometida pela Arábia Saudita tenha um efeito positivo em África. Mas não acredita, no entanto, no fim do salafismo no continente: "Temo que haja grupos na Arábia Saudita e no Senegal que opor-se-ão a essas mudança".
Africanos muçulmanos no Vaticano
No comércio em torno do centro da fé católica mundial também trabalham africanos muçulmanos. A sua presença é tolerada pela polícia. Porém, após os ataques em Paris, eles passaram a ser vistos com desconfiança.
Foto: DW/R. Belincanta
Lembranças de África
Um migrante da Guiné vende acessórios africanos a turistas na principal avenida do Vaticano, a Via da Conciliação. Muitos dos migrantes africanos que vivem em Itália são muçulmanos, mas isso não impede que frequentem a área do centro da fé católica mundial em busca de turistas que possam querem algumas lembranças de África.
Foto: DW/R. Belincanta
Em busca de turistas
Carregado com itens de origem africana, este migrante segue em direção ao Vaticano. O fluxo intenso de turistas durante o ano inteiro atrai os vendedores ambulantes para a zona da Praça de São Pedro, no Vaticano.
Foto: DW/R. Belincanta
Orações diárias
Um vendedor ambulante do Senegal encara a lente do fotógrafo. Ao fundo, a cúpula da Basílica de São Pedro. Os migrantes africanos muçulmanos evitam rezar em direção a Meca diante da Basílica. As ruas adjacentes, mais vazias, são o lugar preferido para as orações diárias.
Foto: DW/R. Belincanta
Documentos no fim da oração
A poucos metros da Basílica de São Pedro, uma religiosa passa por dois migrantes africanos muçulmanos em plena hora de oração. Os polícias aguardam o fim da oração para pedir os documentos aos africanos.
Foto: DW/R. Belincanta
Controlo policial
A polícia italiana tem a orientação de aguardar o fim da oração para abordar os migrantes. Sendo a Itália um país democrático, a intenção dos polícias não é coibir a prática religiosa. O objetivo é controlar a documentação dos migrantes para saber se estão em condições regulares no país.
Foto: DW/R. Belincanta
Rezar e comer juntos
Roma é conhecida pelas suas fontes de água potável espalhadas por toda a cidade. Este migrante africano aproveita uma delas, localizada a poucos metros da Praça São Pedro, para se lavar antes de rezar. Os migrantes que vendem artigos africanos na zona do Vaticano costumam reunir-se para rezar e comer juntos num local pouco movimentado nas imediações da Basílica de São Pedro.
Foto: DW/R. Belincanta
Ataques mudam rotinas
Os ataques em Paris mudaram o quotidiano dos refugiados muçulmanos em Roma. Os polícias esperaram o fim da oração para pedir os documentos a estes dois africanos muçulmanos. Um do Senegal, com visto de refugiado, e outro da Argélia, ainda à espera de documentação.
Foto: DW/R. Belincanta
Dependente de esmolas
Este migrante da Eritreia representa uma parte dos africanos que chegam à Europa e não conseguem integrar-se na sociedade. Sentado à beira da escadaria de uma loja diante da Basílica de São Pedro, passa o dia dependendo de esmolas. Dorme sob algumas marquises durante a noite. Às vezes, utiliza os serviços de dormitório e lavatório para os sem-abrigo oferecidos pelo Vaticano.
Foto: DW/R. Belincanta
"Último dia em Roma"
Samba sorri. Diz ter 15 anos. Em italiano, diz que quer voltar para o Quénia, que seria "o seu último dia em Roma" e insiste em vender-me uma bracelete. Na verdade, confessa, só queria algum dinheiro. Digo-lhe para escolher uma sanduíche. Samba evita respostas sobre quem seria o seu patrão. Fala em inglês agora. O seu smartphone toca. É o sinal. Despeço-me.
Foto: DW/R. Belincanta
Presença tolerada
Um migrante africano fala ao telemóvel numa das ruas adjacentes à Praça São Pedro. Ao fundo, a cúpula da Basílica. A região é disputada pelos vendedores ambulantes devido ao grande fluxo de turistas. Ao contrário dos vendedores de artigos falsificados, como bolsas de marca, produzidos pelas máfias italianas, a presença dos vendedores de artigos artesanais africanos é tolerada pela polícia.
Foto: DW/R. Belincanta
Sinal da cruz em Meca?
Um dos imigrantes improvisa e cobre com um pedaço de papelão o chão sagrado onde fará a sua oração. O seu amigo, contudo, faz questão de estender um tapete antes de elevar as suas orações a Alá. A polícia italiana é tolerante com os migrantes muçulmanos. Um dos polícias pergunta: "E se fossemos nós, em Meca, a fazer o sinal da cruz?"