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Israel: "África do Sul pode simbolizar a opinião de África"

8 de novembro de 2023

Retirada de diplomatas sul-africanos do país pode ser "represália ao que Israel está a fazer na Palestina" e um "ato de solidariedade", diz analista.

Protesto pró-palestiniano na Cidade do Cabo, a 13 de outubroFoto: Gianluigi Guercia/AFP/Getty Images

A África do Sul decidiu retirar os seus diplomatas em Israel como gesto de insatisfação aos comentários depreciativos do embaixador israelita sobre os que se opõem à contraofensiva.

Após o ataque do Hamas, a 7 de outubro, a resposta de Israel na Faixa de Gazajá resultou na morte de mais de 10 mil palestinianos.  

Em entrevista à DW, Fredson Guilengue, analista de política internacional a viver na África do Sul, considera que a posição sul-africana surge em solidariedade para com o povo palestiniano, tendo em conta o passado histórico da África do Sul.

Guilengue entende ainda que a opinião de Pretória pode simbolizar a opinião de África em torno deste conflito e "a opinião daqueles outros Estados africanos que não se podem exprimir”.

A DW África ouviu o analista moçambicano de relações internacionais, baseado na África do Sul. 

DW África: Como avalia a decisão da África do Sul de retirar os seus diplomatas de Israel "para consultas"? Que impacto terá?

Fredson Guilengue (FG): Em termos de atos diplomáticos, a visão sul-africana é uma ação sem precedentes. É a primeira vez que a África do Sul toma uma decisão de retirar todo o pessoal diplomático de um país em que haja fricções devido a um determinado conflito. Geralmente o que se faz, do ponto de vista diplomático, é retirar o embaixador. Agora, o que é que isso quer dizer? Para a África do Sul [significa] que é tudo um ato normal, mas para outros pode ser entendido como um ato de represália ao que Israel está a fazer na Palestina.

Também há outro lado disto, que é: a África do Sul é um país que tem uma história muito profunda de descolonização, de luta contra a opressão, e onde existem correntes muito fortes dentro do Congresso Nacional Africano (CNA) contra a ocupação israelita da Palestina e isso vem da própria história da África do Sul.

Fredson GuilengueFoto: Fredson Guilengue

DW África: Será essa decisão uma espécie de solidariedade para com a Palestina?

(FG): Claramente, é uma posição solidária em relação à Palestina que resulta da própria história sul-africana que tem a ver com o apartheid e a colonização.

DW África: Sendo a África do Sul uma das grandes potências africanas, que impactos pode ter esta decisão no continente?

(FG): A África do Sul pode simbolizar neste momento a opinião de África e a opinião daqueles outros países africanos que não se podem exprimir. 

Nós temos que saber olhar para a pujança israelita. Israel, por causa das suas relações fortes com o Ocidente e principalmente os Estados Unidos, é um país muito forte e há muitos países africanos que provavelmente não querem ter problemas com Israel.

DW África: A União Africana e a Liga Árabe alertaram para o risco de "um genocídio sem precedentes" na Faixa de Gaza e apelaram a um cessar-fogo. Estará África a tentar transmitir a sua solidariedade aos palestinianos?

(FG): Podemos não dizer toda a África, mas há sinais até globais. A opinião de António Guterres, o secretário-geral da ONU, é que podemos estar diante de assassinatos de mulheres e crianças na Palestina. 

Portanto, eu acho que de certa forma é preciso ter em conta que o Hamas é de facto um movimento terrorista, isso é verdade, mas também é preciso ter cuidado com a questão de que a resposta de Israel pode ser superior à ação do Hamas.

É por isso que temos alguns países, incluindo as Nações Unidas, a criticar a maneira como Israel está a responder, porque não pode todo o povo da Palestina ter que pagar o preço daquilo que o Hamas fez.

Ocidente dividido sobre cessar-fogo na Faixa de Gaza

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