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Israel e África do Sul: O fim das relações diplomáticas?

cvt
10 de abril de 2019

Nas vésperas das eleições israelitas, Pretória anunciou que a sua embaixada em Tel Aviv vai continuar vazia, depois da retirada do embaixador em 2018, em protesto pelas "violações dos direitos do povo palestiniano".

Lindiwe Sisulu, ministra dos Negócios Estrangeiros da África do Sul.Foto: Imago/Zumapress/L. Rampelotto

Em maio de 2018, o Governo de Pretória chamou o seu embaixador em Tel Aviv, Sisa Ngombane, de volta à África do Sul por um período indefinido para protestar contra a escalada de violência na Faixa de Gaza.

Quase um ano depois, a ministra sul-africana dos Negócios Estrangeiros, Lindiwe Sisulu, anunciou esta semana que a decisão é definitiva, seguindo as orientações do Congresso Nacional Africano (ANC), que há 16 meses decidiu reduzir a embaixada em Israel a um gabinete de ligação.

O Presidente Cyril Ramaphosa justificou a decisão como uma reação à "violação dos direitos do povo palestiniano" e à "falta de empenho de Israel pela paz".

Embora não considerem a decisão surpreendente, observadores políticos questionam-se acerca do impacto da medida nas relações diplomáticas entre os dois países, a longo prazo.

Anúncio em véspera de eleições

O anúncio da chefe da diplomacia sul-africana foi feito apenas dois dias antes das eleições legislativas desta terça-feira (09.04) em Israel.

Com quase 100 por cento dos votos apurados, os resultados parciais mostram o partido Likud, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, à frente do seu principal adversário nas eleições, Benny Gantz, do partido centrista Azul e Branco.

Nethanyahu celebra resultados com apoiantes em Tel Aviv.Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Schalit

Tanto Netanyahu como Benny Gantz reivindicaram a vitória, horas após o encerramento das urnas. O novo Governo israelita apenas deverá entrar em funções dentro de várias semanas, após um período de consultas e de procedimentos. No dia 17 de abril, a comissão eleitoral deverá publicar os resultados preliminares após a contagem da maioria de votos.

As relações diplomáticas com os países africanos têm estado no radar de Israel desde 2016. Com a África do Sul, no entanto, as relações permanecem tensas.

Além do anúncio da saída permanente do embaixador sul-africano de Tel Aviv, a ministra dos Negócios Estrangeiros sugeriu que a retirada do embaixador israelita da África do Sul poderá ser o próximo passo.

Para Benji Shulman, diretor da organização Fórum África do Sul - Israel, esta decisão faz pouco sentido "Não achamos que será útil o Governo fazer isso porque não ajudaria [a África do Sul] a desempenhar um papel construtivo no conflito no Médio Oriente".

As declarações da ministra apenas aquecem desnecessariamente o ambiente na África do Sul, diz Shulman.

"Os judeus na África do Sul têm uma boa vida, o país tem leis anti-semitas fortes e os nossos direitos culturais estão protegidos."

O especialista receia que a degradação das relações diplomáticas possa reforçar as atitudes anti-sionistas e conduzir ao anti-semitismo contra os judeus sul-africanos.

Uma manobra eleitoral?

Shulman também não exclui que a atual política da África do Sul em relação a Israel possa ser uma manobra de campanha eleitoral para as presidenciais de 8 de Maio.

O Congresso Nacional Africano (ANC) sofreu grandes perdas nas últimas eleições e poderá aproveitar qualquer oportunidade para conseguir votos, suspeita Shulman.

O cientista político sul-africano Ralph Mathekga tem uma visão semelhante: "Os partidos políticos sabem como usar as ideias populares em seu benefício em tempos como este. Pergunto-me se as conversações serão retomadas após as eleições”.

A África do Sul não pode ignorar o Estado de Israel, acrescenta Mathekga, referindo-se à cooperação económica de longa data entre os dois países. "Não importa como, eles provavelmente terão que estabelecer algum tipo de relação bilateral.”

Naeem Jeenah, diretor-executivo do think tank Afro-Middle East Center de Joanesburgo, vê a situação de forma diferente: "Negociamos mais com um Estado desolado como o Zimbabué do que com Israel e todas as importações de Israel também podem ser obtidas noutros países.”

Ligações históricas

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Para Jeenah, é evidente a razão pela qual a África do Sul está a cortar as suas relações diplomáticas com Israel: "Eles argumentam que há uma série de leis e instrumentos internacionais que deveriam levar Israel a obedecer às leis internacionais. Israel não fez isso e são necessários esforços mais fortes para forçar Israel a obedecer a estas leis".

O ANC tem historicamente laços estreitos com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). A amizade remonta à fundação da OLP em 1964.

Após o fim do Apartheid em 1994, a África do Sul procurou um papel de mediador entre os dois campos políticos no conflito do Médio Oriente, explica Jeenah.

"A África do Sul tem agora a sensação de que Israel usou isso para estabelecer relações económicas”, conclui, considerando que o Governo sul-africano pretende agora persuadir Israel a cumprir os acordos internacionais.

No entanto, é questionável se Israel se deixará impressionar.

Nas vésperas das eleições, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu aos seus apoiantes que anexaria assentamentos israelitas na Cisjordânia no caso de uma reeleição.

O anúncio também foi alvo de críticas por parte dos políticos alemães.

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